#152 – Vida com Saúde – episódio 2: ‘Não tente enfrentar tudo sozinho’
out 3, 2022

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O suicídio é um fenômeno complexo, tem diversos fatores envolvidos e é um grave problema de saúde pública. Por isso, é preciso olhar para as muitas variáveis que levam à maior ou menor incidência do caso em grupos específicos. Neste episódio, o foco é na relação do suicídio com as condições socioeconômicas, sendo que as pessoas mais vulneráveis são as que estão em maior risco. Conversamos com a pesquisadora Daiane Machado, da Universidade de Harvard e Fiocruz/Bahia, e com a doutora em psicologia pela USP Karen Scavacini. 


Ludimila

Este episódio da série Vida com Saúde vai tratar de temas difíceis, como depressão e suicídio. Ao falar desses temas, nossa expectativa é trazer ideias de como superá-los. Mas se você estiver passando por problemas emocionais, avalie se deve ouvir esse conteúdo. Talvez, seja preciso fazer isso na companhia de uma pessoa próxima, e se você for menor de idade, é importante que um adulto responsável por você esteja junto. Além disso, você pode buscar apoio emocional no Centro de Valorização da Vida pelo telefone 188, em que voluntários vão te ouvir de forma sigilosa e anônima.

Relato anônimo

Eu estava com 33 anos de idade. Tinha acabado de me separar de um casamento de 7 anos, meus dois filhos eram pequenos e eu  trabalhava de forma autônoma. Não foi um planejamento racional – algo que partiu de um plano estruturado -, mas uma reação visceral para encerrar uma dor que beirava o desespero.

Ludimila

O suicídio é um grave problema de saúde pública e muitas mortes por suicídio podem ser evitadas. Falar sobre esse tema é difícil, mas também é necessário e possível. Abordar o suicídio de forma correta e respeitosa pode, sim, salvar vidas. É por isso que esse episódio começa com um relato de uma pessoa que depois de oito anos do ocorrido, nunca mais pensou nisso. Essa pessoa preferiu não ser identificada, então a voz que você ouviu aqui é da Letícia Naísa, que vai narrar, ao longo do episódio, alguns trechos do depoimento que foi escrito pra gente.

Ludimila

Não é à toa que estamos falando de suicídio em um podcast sobre saúde. Muito relacionado à saúde mental, esse fenômeno é complexo, envolve aspectos sociais, culturais, psicológicos e diferentes fatores individuais, que é impossível dimensionar. E tudo está dentro de um grande guarda-chuva, que é o da saúde integral.

Nesse sentido, a campanha Setembro Amarelo, mês de conscientização e prevenção do suicídio, dá maior visibilidade ao tema, que ocorre muito mais do que imaginamos. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que, no mundo, 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos. Só no Brasil, foram 14.540 registros em 2019, ou seja, quase 40 suicídios por dia.

Como já mencionamos aqui, o suicídio é um fenômeno complexo e tem vários fatores envolvidos. Mas estudos populacionais têm mostrado que desigualdade social, baixa renda, desemprego e baixa escolaridade influenciam na ocorrência desses casos. E é especialmente sobre como as condições socioeconômicas influenciam na incidência de suicídio que vamos falar nesse episódio.

Meu nome é Ludimila Honorato e esse é o Vida com Saúde, um podcast de encontro entre pessoas e saúde pelas lentes da ciência. Essa temporada tem parceria com o podcast Oxigênio.

Daiane

A desigualdade social, o desemprego e a baixa renda influenciam na ocorrência de suicídio de várias formas. Primeiro que todos esses fatores impactam no indivíduo de forma direta e indireta, tanto em termos psicológicos impacta na autoestima, no senso de merecimento, ocasionando uma situação de estresse e preocupação constante. E os sujeitos, nessas circunstâncias, podem se sentir em risco extremo, o que de fato estão.

Ludimila

Essa análise é da psicóloga Daiane Machado, mestre e doutora em saúde coletiva, saúde populacional e epidemiologia. Ela estuda o suicídio há mais de dez anos e atualmente é pesquisadora do tema na Universidade de Harvard e no Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fiocruz da Bahia.

Daiane conta que, desde a graduação em psicologia, na Universidade Federal da Bahia, ela já se interessava pelos casos mais graves da área, em atender pessoas em risco de suicídio, e queria que sua atuação tivesse um impacto social.

Daiane

Mas, na época, não tinha nenhum curso, nenhum treinamento específico para os psicólogos atuarem na prevenção do suicídio. Então, eu comecei a trabalhar o tema através da pesquisa.

Ludimila

Um dos estudos mais recentes que ela desenvolveu com outros pesquisadores, publicado em maio deste ano na revista científica Plos Medicine, investigou a relação entre o programa Bolsa Família e a incidência de suicídio no Brasil.

Daiane

Nosso estudo vem mostrar isso, que a transferência de renda para a população brasileira mais pobre esteve associada a uma redução de até 56% no risco de suicídio entre os que receberam o benefício. Então, o benefício, além de assegurar o básico, como alimentação, ele também aumenta o acesso aos serviços de saúde, já que o sujeito vai conseguir pagar a passagem até uma clínica ou um hospital. Ademais, pode impactar psicologicamente, trazendo ao sujeito a sensação de que ele não está só e que o governo ou até a sociedade se importa com ele.

Ludimila

Para esse estudo, os pesquisadores usaram dados do Cadastro Único e do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do DataSUS. Eles cruzaram as informações e identificaram as pessoas que morreram por suicídio entre os anos de 2004 e 2015 e que estavam registradas no CadÚnico. Então, eles concluíram que os brasileiros que receberam ajuda financeira do Bolsa Família tiveram uma taxa de suicídio menor do que aqueles que não receberam.

Daiane

Esse é um dado de extrema relevância, não só para o país, mas para as políticas de prevenção do suicídio, visto que este é um fenômeno multicausal e, portanto, se verdadeiramente nos propormos a reduzir o risco, é preciso considerar intervir em todos os aspectos da vida do sujeito, inclusive assistindo as suas vulnerabilidades socioeconômicas.

Ludimila

Na conversa com a Daiane, ela propôs um exercício de imaginação que, na verdade, é a dura realidade de milhões de brasileiros. Pensa que você não tem qualquer dinheiro guardado e, de repente, fica desempregado. Ou que você não sabe o que sua família vai comer amanhã, porque já não tem comida em casa hoje. No Brasil, mais de 33 milhões de pessoas não têm o que comer, conforme mostrou a segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, material lançado em junho deste ano.

Karen

O suicídio vai ser sempre multifatorial, então ele tem relação com a sociedade, com cultura, com fatores psiquiátricos, psicológicos e também econômicos. Então, principalmente em locais onde se tem grande disparidade de renda, a questão econômica vai ser um ponto a ser levado em consideração.

Ludimila

Quem fala agora é Karen Scavacini, psicóloga, mestre em saúde pública na área de promoção de saúde mental e prevenção do suicídio e também doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo. Ela é fundadora do Instituto Vita Alere, que atua com prevenção do suicídio e acompanhamento de pessoas em luto após uma morte por suicídio.

Karen

Hoje, a gente pega no Brasil, os estados do sul são os que têm o maior índice e eles têm um desenvolvimento econômico grande. Então, parte se explica por conta da própria cultura, de uma cultura mais machista, uma dificuldade maior de pedir ajuda, de oferecer ajuda. Quando você pega alguns outros estados que têm uma disparidade maior também de renda, a gente pega um grande número de suicídios lá. Aqui na cidade de São Paulo, em alguns anos, as classes mais altas eram as que se matavam mais. Então, está bem diverso, sabe, Ludimila. Mas o que eu vou te dizer é que pessoas que estão passando por grandes vulnerabilidades sociais, quanto maior a vulnerabilidade social e menor o acesso ao tratamento de saúde mental, maior vai ser o risco.

Ludimila

Ao falar de prevenção do suicídio, é preciso ir além do ombro amigo, da escuta ativa, da psicoterapia. A prevenção do suicídio também é feita com educação, direitos humanos preservados, moradia e trabalho dignos, justiça social e políticas públicas. Claro, isso não quer dizer que pessoas com possibilidade de acesso a esses serviços não passem por problemas e pelo mesmo risco, como no caso da mulher que aceitou dar o seu depoimento para o episódio. Mas não se pode deixar de lado essa construção social que afeta todos e cada um de nós.

Relato anônimo

Eu já fazia psicoterapia há alguns meses.

Ludimila

Aqui, mais um trecho do relato anônimo que recebemos.

Relato anônimo

Mas eu sentia uma dor de tristeza, misturada com desânimo, um vazio cuja profundidade não sou capaz de expressar. Penso que esses sentimentos são como um vírus – chegam, desorganizam e se assolam até ficar impossível de combatê-los por nós mesmos. É preciso remediá-los para que eles parem de se reproduzir.

Era início de janeiro e, ao invés de eu estar esperançosa pela construção de um ano novo (época de planos, metas, novas jornadas), eu não conseguia olhar um futuro sem que sentisse desesperança. Eu sabia que estava com depressão – mas não me medicava.

André

Meu nome é André, eu tenho 43 anos, sou formado em análise de sistemas, trabalho na área de TI como gerente de projetos numa empresa multinacional e aí contar um pouco da minha história para vocês, falar sobre algumas situações pelas quais eu passei e, principalmente, como eu consegui evoluir, me desvencilhar e sair dessas situações.

Ludimila

É importante dizer que o suicídio não ocorre de um dia para o outro e, geralmente, não é uma escolha casual ou muito bem planejada, como muitos pensam. A história do André e a forma como ele viveu as tentativas de suicídio nos ajudam a entender um pouco melhor esse cenário. Vamos ouvi-lo.

André

Eu sempre fui, durante a minha infância, adolescência, juventude, uma pessoa muito tímida, reclusa, eu não tinha muitos amigos, quase nenhum, e eu cresci numa situação familiar onde eu era muito cobrado à perfeição. Então, eu não podia demonstrar minhas fraquezas, eu não podia demonstrar as minhas inquietudes, eu não tinha muita abertura para de fato mostrar os meus erros e isso fazia com que eu tivesse que lidar sozinho com os meus dramas, com os meus dilemas, com os meus traumas, com as situações que eu enfrentava.

E isso trouxe algumas consequências emocionais muito grandes para mim, por que eu fui doutrinado a ter um comportamento de muito mais agradar os outros do que a mim mesmo.

Eu não podia decepcionar os outros. Num dado momento, eu passei a me questionar muito, eu passei a não saber mais quem eu era, a não saber mais do que eu gostava, o que eu queria para minha vida, se o que eu queria era o André real, de verdade, ou se era o André que eu construí para agradar as outras pessoas, e isso me levou a um quadro de ansiedade.

Ludimila

Os questionamentos que afetaram as emoções do André começaram a interferir na vida familiar, conjugal e no âmbito profissional também. Depois de algumas crises, ele buscou ajuda de um psiquiatra e começou um tratamento que combinava medicação e psicoterapia. Ele diz que a ajuda psicológica foi fundamental para ele se entender melhor, descobrir quem de fato ele é e desconstruir aqueles personagens criados para agradar outras pessoas. Isso foi extremamente positivo, mas quando ele começou a rever decisões e atitudes antigas, as pessoas ao redor não entenderam.

André

Eu comecei a ser bombardeado por sentimentos de culpa, por palavras grosseiras, por palavras pesadas. Eu tive que enfrentar um divórcio, enfrentar uma família extremamente religiosa, tradicional, tradicionalista e fundamentalista. E aí num dado momento eu me vi sozinho lutando contra todos. E eu não soube administrar isso tão bem. Eu não queria morrer, não era esse o objetivo. Eu não queria me suicidar no sentido de ‘não quero mais viver’. Na primeira vez, eu tinha simplesmente uma vontade de resolver os problemas, mas eu não encontrava a solução para esses problemas, porque eu estava numa fase tão desgastada emocionalmente e numa fase tão turbulenta de relacionamentos e de pensamentos que eu só queria de alguma maneira estancar aquele sofrimento.

Ludimila

O relato do André remete a outro estudo publicado pela pesquisadora Daiane Machado em 2015, no qual ela retrata o perfil das pessoas que morreram por suicídio no Brasil entre 2000 e 2012. Os grupos com maior prevalência do fenômeno foram os indígenas, pessoas com menor escolaridade, homens e pessoas com mais de 60 anos. E aqui eu queria chamar a atenção para a explicação que ela deu sobre por que os homens são um grupo de risco.

Daiane

Entre os homens, a gente sabe que tem os fatores específicos, como a masculinidade tóxica, que impõe regras para o homem, como por exemplo que ele tem que ser forte, que ele não chora, que ele é menos sensível.

E isso tudo impacta em como ele lida com as próprias questões, com as próprias emoções e consequentemente na busca por serviço de saúde.

Eles acabam buscando menos apoio para suas questões emocionais.

Ludimila

Um pouco diferente disso, o André buscou ajuda para as questões emocionais dele, mas você percebeu como as exigências sociais descritas pela pesquisadora coincidem com as cobranças apontadas por André? A Daiane falou da masculinidade tóxica e ele comentou sobre ser cobrado pela perfeição, sobre não poder demonstrar fraquezas e inquietudes.

Ludimila

Foi num dia intenso, de situações e sentimentos extremos, que André buscou por algo que estancasse o sofrimento. Ele conta que queria apenas dormir por muito tempo e esquecer que aquele dia existiu. Depois de mais ou menos quatro dias de internação, a psiquiatra do hospital perguntou se ele entendia que havia tentado tirar a própria vida.

André

E eu falei ‘não, não era isso que eu queria, eu nunca pensei nisso. Eu só queria parar o meu sofrimento, eu só queria ter paz, queria só ter sossego, eu só queria esquecer um pouco esse cotidiano porque ele está insuportável’. E ela falou ‘pois é’. E aí eu comecei a ter um pouco mais de consciência das coisas.

Ludimila

Mesmo depois de compreender o que havia acontecido e falar sobre isso em terapia, André ainda teve uma segunda crise, mas diferente da primeira vez, resolveu ligar para o psicólogo dele. O terapeuta ouviu o que André tinha a dizer e o ajudou a se acalmar.

André

A gente está fora de si nesses momentos. A gente não raciocina, a gente não pensa, a gente simplesmente age como uma maneira instintiva, digamos assim, uma coisa animalesca, até.

Ludimila

O fato do suicídio ainda ser um tabu na sociedade, com pouca discussão, faz com que as pessoas não compreendam o fenômeno e julguem o outro pela ótica da própria vida. No caso do André, ele ouviu frases do tipo: “por que você fez isso?”, “você não tem motivos para fazer isso”, “você não pensou nas suas filhas?”. Em vez disso, ele queria ter ouvido outra coisa.

André

O que eu esperava ouvir era, pelo menos das pessoas mais próximas a mim, tipo: “olha, eu não quero nem saber por que que você fez isso, eu só quero dizer que eu estou aqui para o que você precisar. Não vou te julgar, não estou te julgando, não estou te condenando, eu estou aqui, conte comigo” e isso é o que eu menos tive.

Ludimila

Hoje, o André fala abertamente sobre a história dele com muita tranquilidade e consciência.

André

E eu passei a olhar esse episódio não mais como vergonha, não mais como uma fraqueza, como muitas pessoas tentaram fazer eu pensar que fosse, mas olhar e falar ‘olha, eu fui muito forte’.

Karen

O suicídio ainda é visto como um tabu. Ele ainda tem um estigma muito grande, muita confusão das pessoas com relação ao porquê que o suicídio ocorre, a gente ainda pega visões relacionadas à covardia, coragem, falta de Deus no coração, e as pessoas não entendem muito que o suicídio vem de um sofrimento intenso. Depende muito do local, da cidade, do quanto a pessoa também teve acesso a esse assunto, mas no geral a gente tem uma dificuldade muito grande de falar de morte no Brasil e o suicídio vai ser o maior dos estigmas relacionados à morte.

Ludimila

Quem fala aqui de novo é a Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere. E eu pergunto a ela como então o suicídio deveria ser visto.

Karen

Como um comportamento, como um fenômeno, como uma ação que foi feita através de um sofrimento intenso, insuportável, interminável e inescapável. E nesse ponto, Ludimila, eu não vejo o suicídio como uma escolha, então quando eu vejo campanhas que pautam ‘a vida é a melhor escolha’, ok, talvez isso faça sentido para algumas pessoas, mas para aquele que está naquele sofrimento intenso, ele não vê outra saída que não seja a morte e acho que se a sociedade começar a entender que o suicídio é voz dessa dor, que ele é um acidente da razão em alguns casos, a gente pode tratar a pessoa com mais acolhimento e mais humanidade.

Ludimila

As pesquisas acadêmicas da Karen, tanto no mestrado como no doutorado, envolvem o falar sobre o suicídio. O objetivo era entender os caminhos para ações efetivas de prevenção e posvenção.

Karen

Posvenção é toda atividade oferecida após um luto por suicídio, quer dizer, após uma morte por suicídio. É para ajudar as pessoas em luto, a quem chamamos muitas vezes de sobreviventes enlutados, pois a ação primordial que essa pessoa precisa ter depois dessa perda é conseguir sobreviver a essa dor absurda. Claro que eu não estou comparando dor aqui, mas entendendo que o luto por suicídio tem características próprias.

Ludimila

Essas características incluem culpa, estigma, uma busca incessante pelo motivo do suicídio e uma imensidão de “ses”: e se eu tivesse ligado? E se eu tivesse levado ao médico? E se eu tivesse voltado? Karen explica que também é um luto mais duradouro e intenso se comparado com o luto por outros tipos de morte.

Ludimila

Campanhas de saúde como o Setembro Amarelo são importantes para dar mais visibilidade a temas que geralmente ficam restritos aos consultórios médicos. Mas além disso, é preciso ter políticas públicas de saúde mental que, por exemplo, ampliem o atendimento gratuito oferecido pelo SUS e apoiem a oferta de serviços com preços acessíveis. Também é importante aumentar a consciência sobre o tema, educar profissionais da área da saúde, educar professores e ter espaços de apoio. Dentro dessas medidas, a Karen chama atenção para um ponto latente.

Karen

Uma outra área que, por exemplo, na política pública que não é falada é a restrição do acesso aos meios. O fato da pessoa ter uma arma em casa potencializa muito o risco de suicídio, e a gente está falando em armar a população. Isso é um absurdo completo. Toda cidade tem o seu hotspot, o local onde a gente sabe que tem muitos suicídios. Todo mundo sabe, por que ninguém faz nada? Por que o governo, a política pública, a secretaria não vai lá e coloca um alambrado na ponte, no viaduto?

Ludimila

E além da prevenção, a pesquisadora Daiane Machado fala da importância de ações de promoção de saúde, ou seja, em vez de esperar que o problema ocorra, é mais necessário implantar atividades que evitem o risco.

Daiane 

Como, por exemplo, ações comunitárias, ações que promovam a integração, que aumentam as conexões entre as pessoas, que aumentem as atividades físicas, aumentem as áreas verdes, eventos para idosos, para adolescentes. Enfim, todas as ações que melhorem a qualidade de vida e a saúde mental da população como um todo.

Ludimila

Em resumo, é a promoção do bem-estar social em seu sentido mais amplo, com a execução dos princípios básicos constituídos em lei e que são, por direito, para todos.

Relato anônimo

Oito anos já se passaram e ainda precisei de antidepressivos e terapia, mas nunca mais voltei a pensar sobre esse tipo de “fuga”. Há cerca de seis meses, minha psicoterapeuta me “deu alta”. Olhei bem de frente para minha saúde e de como me envenenava com alimentos inflamatórios, como açúcar, glúten e lácteos. Procurei nutricionista, nutrólogo e reiniciei as atividades físicas. No momento deste depoimento, com mais de 40 anos de idade, digo que é a primeira vez que olho com atenção plena para tudo que coloco para dentro do corpo. Minha saúde mental está em equilíbrio, sem euforias, fugas, com muita energia e com a sensação de estar saudável. Me sinto feliz, completa, animada por desafios.

Ludimila

É assim que a pessoa que deu o depoimento para o Vida com Saúde se sente hoje em dia. É assim que ela segue uma vida com mais saúde. E como de praxe nesse podcast, eu perguntei a mesma coisa para o André. Afinal, o que ele faz para ter uma vida com saúde?

André

Eu faço terapia. Eu procuro ser o mais autêntico possível, principalmente procuro ter pessoas perto de mim com as quais eu possa ser eu mesmo, que eu possa contar, falando ‘hoje eu estou bem, hoje eu não estou legal’, entender – e a terapia ajuda nisso, a entender – que a gente não está bem todos os dias e está tudo bem.

A terapia ajuda a desconstruir, desmistificar essa vida perfeita que não existe.

Ludimila

A vida perfeita não existe e ninguém faz tudo sozinho. Ao falar abertamente sobre suicídio, viu que podia ajudar outras pessoas de alguma forma. Por isso, a mensagem dele é enfática.

André

Não tente enfrentar tudo sozinho, não tente lidar com as coisas sozinha, não tente falar ‘não, eu sei lidar com isso e eu vou resolver os meus problemas eu mesmo’. Busque ajuda, converse, faça terapia, tenha amigos, tenha alguém com quem desabafar nesse momento em que você está sob pressão tenha alguém com quem você possa falar ‘eu não estou bem, vem para minha casa, não me deixa ficar sozinho’ ou ‘me leva para sua casa, me tira daqui de onde eu estou, me tira desse ambiente’.

Às vezes, a gente tem muito medo desse preconceito das pessoas e a gente quer resolver as coisas por nós mesmos ou a gente acha que ninguém vai entender a gente, e neste momento em que a gente não consegue lidar com os pensamentos e emoções sozinho, a gente precisa de ajuda.

Ludimila

Se você precisa de ajuda para lidar com questões emocionais, os voluntários do Centro de Valorização da Vida podem te ouvir. A associação sem fins lucrativos oferece serviço gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio. Para conversar com eles, é só entrar em contato no telefone 188, sem custo de ligação. O atendimento é realizado 24 horas por dia, 7 dias por semana, com total sigilo e você não precisa se identificar.

No Instagram do Vida com Saúde, tem um post que indica outros meios para buscar ajuda para saúde mental. Lá, você também acompanha a divulgação dos próximos episódios e mais informações sobre saúde. É só buscar por @vidacomsaude.com.br

Esse foi o segundo episódio do podcast Vida com Saúde, que falou sobre o complexo fenômeno do suicídio e como as condições socioeconômicas estão relacionadas a ele. Aqui, usamos trilhas sonoras dos sites FreeSound e Looperman, e contamos com a voz de Letícia Naísa para narrar um dos relatos.

Esta série é um projeto desenvolvido para o curso de pós-graduação em Jornalismo Científico do Labjor, da Unicamp, com idealização, produção, reportagem e roteiro feitos por mim, Ludimila Honorato. A orientação, revisão e edição do roteiro são de Simone Pallone, coordenadora do podcast Oxigênio. A Fabíola Junqueira, mestra em psicologia clínica, fez uma leitura minuciosa desse roteiro, com sugestões e comentários importantes para que tratássemos desse tema com cuidado. A edição do episódio foi feita por Octávio Augusto Fonseca, da rádio Unicamp. Até a próxima!

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