Normalmente, os ossos da planta de nossos pés são arqueados para cima. Quando andamos e corremos, esse arco é achatado sob o nosso peso, acumulando energia como uma mola. Enquanto seguimos em frente, essa energia acumulada é liberada, ajudando a impulsionar o corpo para frente.
Os tênis de corrida foram inventados para minimizar o impacto dos pés contra o piso duro das pistas, ao mesmo tempo em que restituem parte da energia absorvida nesse impacto para levar o corpo adiante. Eles também estabilizam o tornozelo, limitando seu movimento lateral. Isto é, eles substituem parcialmente as funções dos arcos plantares e dos músculos dos tornozelos.
Imaginava-se que isso pudesse enfraquecer a musculatura dos pés, já que seria menos requisitada. O que explicaria o paradoxo em que à medida que os tênis eram aperfeiçoados para absorver melhor os impactos, as lesões nos pés não pareciam diminuir.
Cientistas australianos da Universidade de Queensland resolveram tirar a prova.
Voluntários correram em esteiras com e sem tênis e o movimento de seus pés foram acompanhados por sensores intramusculares.
De fato, o uso de tênis altera o funcionamento normal dos pés. O calçado faz com que os arcos se flexionem menos do que quando corremos descalços; mas os músculos, ao invés de relaxarem, trabalham mais duros. Para os autores, seria uma resposta automática do sistema nervoso central de modo a manter a rigidez do conjunto formado pelo pé e o tênis. Isto é, o aumento da rigidez da musculatura compensa a absorção do impacto causado pelo calçado.
Matéria de Roberto Takata e locução de Simone Pallone.