A atividade de observação de aves, ou birdwatching, vem ganhando cada vez mais adeptos no nosso país. De 20 a 22 de maio foi realizado no Instituto Butantan, em São Paulo, o 11º Encontro Brasileiro de Observação De Aves: o Avistar Brasil 2016. A programação estava bastante densa e incluiu palestras em 3 auditórios simultâneos, exposições, oficinas, exibição de filmes e feira de negócios. Guto Carvalho é profissional de comunicação e foi o idealizador do evento no Brasil.
Guto Carvalho – “Eu entendo que o Avistar é um evento de comunicação. A observação de aves traz pra imprensa, pro debate sobre o meio ambiente, uma coisa muito importante, que é uma agenda positiva. A discussão do meio ambiente no Brasil, muitas vezes, fica marcada por uma agenda negativa. A gente só sabe falar de meio ambiente sobre resíduo, lixo, fogo, incêndio, tragédia… é tanta coisa ruim que acontece que a gente acaba meio desanimando. A observação de aves traz a oportunidade de uma agenda positiva. E assim conquistar os corações das pessoas. Os corações, a cabeça e as mentes, para que elas venham ao debate a partir de outro princípio”.
Em entrevista, o ornitólogo Luciano Lima, coordenador técnico do observatório de aves do Instituto Butantan nos contou que:
Luciano Lima – “A gente tem essa linha de pesquisa focada em pesquisa científica: monitoramento de longo prazo, visando responder questões ligadas às mudanças climáticas, vigilância ambiental em saúde, utilizando aves silvestres, questão de vírus, influenza, newcastle, toda essa questão ligada a uma parte mais científica. Só que em paralelo a isso, o observatório tem muito foco também em usar a observação de aves como ferramenta de conservação, educação ambiental e mesmo de cidadania”.
Em sua palestra no evento, Luciano brincou que quem não gosta de aves, bom sujeito não é. A observação de aves pode ser praticada tanto por amadores quando por especialistas. E todos que praticam essa atividade de lazer podem contribuir com dados científicos. Isso se chama ciência cidadã. O ornitólogo Alexsander Zamorano Antunes, do Instituto Florestal do estado de São Paulo, contou um pouco sobre esse conceito de ciência cidadã:
Alexsander Zamorano Antunes – “Então Paulo, como toda atividade de observação de aves, começa na Europa e Estados Unidos. Devido ao grande volume de observadores, se percebeu que a quantidade de dados que os observadores tinham, podiam ser usadas pra responder algumas questões científicas. Principalmente ligadas à distribuição das espécies dentro dos territórios nacionais, rotas migratórias, porque você tinha várias pessoas de diferentes estados registrando as aves em diferentes períodos do ano. Então esse tipo de informação foi facilmente utilizado como um tipo de dado que os observadores coletam, que geralmente é a presença das espécies”.
Alexsander contou também como as novas tecnologias estão facilitando o compartilhamento dos dados coletados pelos praticantes da atividade:
Alexsander Zamorano Antunes – “No caso da internet, tem algumas plataformas bem importantes que possibilitam essa ciência cidadã. É o caso do Wikiaves. Os dados que os observadores de aves colocam, fotos e gravações, possibilitam que a gente tenha informações sobre presença e ausência de espécies em território do Brasil e dos estados. E de cidades também. Então você consegue compilar essa informações. Lógico que o cientista, que vai fazer o trabalho mais acurado, ele deveria checar cada um desses registros. Esse site tem um controle grande de qualidade. Tem vários pesquisadores, ornitólogos, que participam do site e verificam a identificação, mas mesmo assim, pra vários trabalhos, é interessante não pegar o dado bruto, você dar uma analisada naquele dado, não só receber aquela lista. O grande barato da ciência cidadã é aumentar o número de pessoas fazendo a coleta de dados de presenças de espécies no campo, coisa que com o seu efetivo de pesquisadores, o dado é muito mais limitado”.
A observação de aves é um grande exemplo de que contribuir com a ciência pode ser prazeroso. E por falar em prazer, deixamos aqui a dica do filme o “Grande ano”, uma comédia de 2011 com Jack Black, Owen Wilson e Steve Martin que aborda esse universo do birdwatching. Eu, Paulo Muzio, assisti, gostei, e o filme foi recomendado pelos dois ornitólogos com quem conversei nesta reportagem.
Matéria de Paulo Muzio.