Na zona norte da cidade de São Paulo, na fronteira entre a mancha urbana e a mata nativa da Cantareira, está o parque estadual Alberto Löfgren. Popularmente conhecido como Horto Florestal, o parque é uma das unidades de conservação mais visitadas do país e tem uma joia rara: o Museu Florestal Octávio Vecchi.
O museu foi inaugurado em 1931 por Octávio Vecchi, diretor do serviço florestal do estado de São Paulo, que na década de 1970 viria a se tornar o instituto florestal. Este espaço que conjuga ciência, história e arte foi criado justamente para ser um museu. De acordo com a documentação da época, a função era colecionar elementos para o estudo da flora lenhosa paulista. O termo flora lenhosa refere-se a plantas que produzem madeira, ou árvores.
No museu florestal, o visitante tem uma experiência de imersão, onde vivencia as possibilidades de uso da madeira. As próprias salas do museu são parte do acervo: entre janelas, batentes, forros e assoalhos foram utilizadas madeiras de cerca de 30 espécies diferentes. Outros componentes do conjunto arquitetônico também chamam a atenção, como os lustres de madeira entalhados e os vitrais com motivos que representam fauna e flora nativas.
Ao longo dos anos, o acervo do museu foi crescendo com a incorporação de produções das escolas artísticas criadas na instituição. Uma delas foi a Escola de Xilografia do Horto, criada em 1939. A xilografia é uma técnica de gravura na qual se usa madeira como matriz. A imagem que é esculpida nesse pedaço de madeira pode ser reproduzida sobre o papel ou algum outro suporte. O xilógrafo alemão Adolph Kohler foi contratado para o posto de professor. Os alunos eram funcionários ou mesmo jovens moradores do entorno.
A instituição realizou pesquisas testando diferentes tipos de madeira nativa até chegar ao Guatambú Rosa como a espécie ideal para a confecção das matrizes. Natália de Almeida, responsável pelo museu, conta que provavelmente foi o professor Kohler quem trouxe para o Brasil a técnica de gravura sobre madeira de topo. A técnica utiliza um corte específico da madeira e permite um alto grau de detalhismo nos entalhes.
A escola funcionou até 1950 e deixou um acervo de cerca de mil obras entre tacos desenhados, matrizes entalhadas e xilogravuras em papel.
Além da riquíssima produção das escolas artísticas, outra coleção merece destaque: os entalhes botânicos em madeira. São trabalhos executados em pranchas de madeira maciça, sendo que cada entalhe corresponde à representação em alto-relevo das folhas, frutos e flores da árvore de que é feita a peça. São 126 pranchas entalhadas que foram produzidas entre as décadas de 1930 e 1960.
As seções técnicas da instituição eram responsáveis tanto pela escolha da melhor madeira para a fabricação da prancha, como pela coleta da amostra botânica que serviria de modelo para o entalhe. Os entalhadores faziam o desenho e o esculpiam no suporte de madeira, reproduzindo, inclusive, o tamanho natural dos galhos com folhas, frutos, flores e sementes. Tinha um rigor científico e um virtuosismo artístico na produção dessas peças.
Além de serem trabalhos feitos artesanalmente, cada prancha, por ser de origem natural, tem características únicas. São obras singulares e que não podem ser reproduzidas integralmente.
Ficou interessado? O museu florestal Octávio Vecchi está aberto ao público de segunda à sexta-feira das 9 da manhã ao meio dia e das 14 às 16 horas.
A entrada é gratuita. Agendamentos de grupos podem ser feitos pelo telefone (11) 2231-8555, ramal 2063.
Paulo Muzio para Caleidoscópio.
Atualização: verifique os dias e horários de visitação no site do Instituto Florestal.