A área de fabricação digital tem ganhado bastante destaque nos últimos tempos devido as possibilidades que trás para o desenvolvimento das mais diversas tecnologias. Desde os brinquedos em miniatura até as próteses de uso médico. Uma iniciativa que busca promover um maior acesso da população a essas ferramentas são os FabLabs, espaços compartilhados onde as pessoas podem se reunir para transformar suas ideias em projetos com o uso desses equipamentos.
Tudo começou em 2000, quando um professor do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachussetts, nos Estados Unidos, criou uma disciplina para apresentar máquinas de grande capacidade de produção aos alunos dos cursos tecnológicos. Intitulada “como fazer (quase) tudo”, o que ele não esperava era que sua aula fosse atrair dezenas de estudantes sem conhecimento técnico, como arquitetos, designers e artistas, interessados em construir produtos personalizados. Esse foi início de uma nova revolução: o da fabricação digital sob demanda.
Mais de quinze anos depois, o MIT já formou uma rede mundial de quase 700 laboratórios equipados com máquinas de fabricação digital. Eles têm como uma das principais características serem abertos à comunidade. Conhecidos como Fab Labs, esses espaços são compostos por um conjunto de pelo menos cinco máquinas, entre cortadoras, fresadoras e, é claro, as impressoras 3D, além de componentes eletrônicos para dar inteligência aos produtos desenvolvidos.
O empreendedor digital Eduardo Lopes, que atua em Fab Labs de São Paulo e do Rio de Janeiro, explica que esses são espaços para a promoção de networking.
Eduardo Lopes – “Essa é a ideia geral dos Fablabs. Dar acesso às pessoas às ferramentas de fabricação digital, à informação aberta e gratuita. Juntar pessoas dentro de um mesmo espaço para que com isso elas potencializem as suas redes e consigam tirar projetos do papel”.
Para pertencer à rede mundial do MIT, um laboratório de fabricação deve atender à quatro requisitos: possuir o set básico de máquinas, realizar projetos coletivos, ser aberto ao público em alguma parte de seu tempo e seguir uma cartilha de princípios que inclui a forma como o conhecimento deve ser tratado.
Apesar disso, um Fab Lab não precisa pertencer à rede do mit e pode, inclusive, ser estabelecido sob outros modelos. A Unicamp, por exemplo, possui o Lapac, voltado a alunos da graduação e da pós em arquitetura. A criadora dessa iniciativa é, a professora Maria Gabriela Celani, diretora de projetos do museu exploratório de ciências da Unicamp.
Maria Gabriela Celani – “O cerne do Fab Lab é, justamente promover essa troca de informações. O Fab Lab pode até oferecer alguns cursos em que você tem o modelo clássico de uma pessoa ensinando para aquelas que não sabem, mas a ideia é ser um espaço de interação. Que as pessoas vão lá e aprendam vendo o outro fazer. É um processo de aprendizado não formal”.
Aliás, a capacidade de desenvolvimento cognitivo dessas máquinas pode ser um importante aliado no ensino de jovens e crianças. Como os laboratórios possuem um grande aspecto empírico, a criação de produtos em sala de aula ajuda a compreender conceitos complexos. Quem explica isso é Alex Garcia, pesquisador de tecnologias digitais em políticas de educação e coordenador da rede Fablatkids. Segundo Garcia, crianças de 6 a 12 anos precisam de uma materialidade muito forte para aprenderem.
Alex Garcia – “Eles desenhavam cadeiras, só que na cadeira eu dava desafios. A cadeira só tem uma função? Olha o conceito abstrato. A tecnologia, você uilizou para quê? Olha outro conceito abstrato, a tecnologia. Não é o conceito produtivista que está muito presente nos Fablabs. É você atingir esses conceitos abstratos que na verdade é isso que a criança leva. Ela não vai levar o chaveirinho, o carrinho, ela vai levar como ela fez todo esse processo”.
Atualmente, tem havido uma tendência de barateamento das máquinas de fabricação digital, em especial as impressoras 3D. Com isso, a expectativa é que cada vez mais escolas e prefeituras invistam em laboratórios e equipamentos. No entanto, Gabriela Celani acredita que a mudança maior ocorrerá no uso doméstico dessas tecnologias.
Gabriela Celani -“Porque amanhã, ao invés de você dar de presente um brinquedo para seu filho, você vai dar uma máquina que faz brinquedos. Aí as pessoas se preocupam mais em fazer as suas próprias coisas e você deixa simplesmente de ser um consumidor impotente que só pode consumir aquilo que está pronto”.
Matéria de Paula Penedo.