O documentário Dr. Melgaço é um trabalho da documentarista Alice Riff, em parceria com o site Diário do Centro do Mundo, e realizado com recursos de uma campanha de financiamento coletivo por meio da plataforma Catarse, em 2013.
A obra retrata a situação da saúde na cidade com pior índice de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil. Trata-se de Melgaço, no estado do Pará, a 250km da capital Belém.
Qual é o impacto que um médico pode causar? Segundo o juramento de Hipócrates, que ainda é recitado nas formaturas de medicina por vários cantos do mundo, um médico deve zelar pelo bem dos doentes em toda casa que visitar. Se o chamado pai da medicina, que viveu entre os anos de 460 a 377 a.C, chegasse aos dias de hoje, o que pensaria de uma cidade com apenas um médico e algumas das piores condições de subsistência de um país tropical chamado Brasil?
A cidade de Melgaço tem 26 mil habitantes e é formada por diversas praias, banhadas por rios, como o Amazonas, o Tajapuru e o rio Laguna. Com mais de dois terços da população da cidade morando na zona rural, são inúmeras as casas de difícil acesso para visitas médicas. Tão difícil que poucos se interessam pelo trabalho. Melgaço recebeu quatro médicos cubanos, enviados por meio do programa Mais Médicos, do governo federal.
Alice Riff entrevistou pessoas buscando saber por quais situações passaram nesses anos sem médicos. Durante seus 42 minutos, o documentário acompanha pacientes, funcionários do serviço social e médicos da cidade. Utilizando um formato semelhante a uma grande reportagem, as filmagens trazem alguns profissionais da cidade como personagens. As edição de cortes são dinâmicas, típicas do material produzido com foco na internet.
Chama a atenção a contraposição entre as duas médicas cubanas entrevistadas, Maribel Saborit e Maribel Herrera, e as posições de Elton Silva, médico brasileiro recém-formado que, antes da chegada do reforço dado pelo programa Mais Médicos, era o único de uma cidade de mais de 25 mil habitantes.
Apesar de descrever a quantidade de trabalho como “desumana”, Silva alinha seu discurso ao da classe médica brasileira, chamando o programa de medida “eleitoreira”. Por outro lado, Maribel Saborit – graduada há 21 anos e especialista em medicina geral integrada desde 1998 – comenta que o compromisso dos médicos é “ajudar em qualquer parte do mundo as pessoas mais necessitadas”. A médica ainda reforça a necessidade de um trabalho de prevenção, já que parte das doenças encontradas na cidade advém da falta de infraestrutura, principalmente no que se refere ao saneamento básico.
Durante as visitas de atendimento para atenção primária acompanhadas pela documentarista, as estrangeiras são elogiadas por diversos pacientes de Melgaço. A obra ainda traz uma reflexão breve sobre a vida sexual precoce das adolescentes no município, que conta com 12 mil analfabetos, praticamente 50% da população.
O recorte da documentarista reforça o olhar de que o programa é necessário para resolver uma situação distante de ser ideal. Entretanto, mais do que retratar a influência do quarteto de médicos cubanos no município ou questionar a capacidade de uma cidade pobre de oferecer infraestrutura de saúde para seus habitantes, Dr. Melgaço é um amargo lembrete de que o país ainda está longe de garantir a todos os brasileiros educação, saúde, alimentação, trabalho e moradia. Todos esses direitos, e diversos outros, garantidos pela Constituição de 1988.
Documentário disponível em https://www.youtube.com/watch?v=HdjA6kpLHpc
Locução de Bárbara Garcia