“De que matemática estamos falando?” é o tema desta conversa com Denise Vilela, docente pelo Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e Antonio Miguel, docente pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ambos são integrantes do Grupo Interinstitucional de Pesquisa PHALA (Educação, Linguagem e Práticas Culturais), também da Faculdade de Educação da Unicamp, que se preocupa com a problematização da relação entre linguagem e as atividades humanas e as práticas culturais.
A conversa gira em torno da reflexão sobre as possibilidades para se pensar a matemática. O debate gerado contrapõe o discurso de uma matemática única e edificada à ideia de “matemáticas”, no plural, produzidas dentro do campo da atividade humana. Críticas ao atual cenário educacional brasileiro também permeiam a entrevista.
Antonio Miguel traça um panorama histórico para discutir a construção, recorrente e habitual, de uma noção da matemática enquanto disciplina curricular, ou enquanto atividade profissional do matemático, acadêmico, que desenvolve pesquisas em matemática pura e aplicada. Ao fazer um recuo histórico na educação brasileira, localiza quando a matemática passa a incorporar os currículos escolares nacionais com o nome “Matemática”, na década de 1930. Ele pontua que até então a matemática não era tida como um campo unificado, mas sim campos como Trigonometria, Álgebra, entre outros.
Denise destaca que a concepção de uma matemática central e instituída pode ser vista como uma formação discursiva da contemporaneidade, que visa justificar e valorizar a importância da matemática como área de conhecimento e/ou de ensino. Decorrente do eurocentrismo, foi enquadrada em um perfil tradicional e conservador, socialmente constituído, que passou a ser considerado academicamente válido, verdadeiro e único. Sem espaço para questionamentos.
Durante a conversa, a matemática é desconstruída, passa a ser pensada como prática, como um conhecimento produzido na e durante a atuação humana. Miguel e Denise alertam que a matemática vista como prática, de maneira plural, não viria a substituir ou se sobrepor à matemática como um domínio do conhecimento, internamente organizado e estruturado, que tem sua tradição vinda da origem grega. A ideia é de distinção e descolamento das formas de pensar a matemática.
A conversa também trata da matemática no âmbito escolar, o espaço que muitas vezes é tido como culpado pelo suposto desinteresse da sociedade pelo o que venha a ser considerado como matemática. Fala-se ainda sobre as reformas na Base Curricular e propostas como a Escola Sem Partido, pontos muito preocupantes no cenário educacional brasileiro e que precisam ser revistos, debatidos e desconstruídos em prol de uma educação igualitária e inclusiva. Ouça a entrevista!
Oxigênio na SNCT 2017
Esta entrevista fez parte do projeto “Matemática no Ar”, que integrou a programação da 14ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT 2017). Foi uma realização do programa de rádio e podcast Oxigênio por meio do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp em parceria com a Rádio Unicamp. O projeto ainda contou com a colaboração do PHALA (Grupo de Pesquisa em Educação, Linguagem e Práticas Culturais), da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, além do apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e do Governo Federal.