É provável que você já tenha ouvido falar sobre Medicina de Precisão, um conceito que tem contribuído para criar as bases da área médica no século XXI. Essa novidade engloba o que há de mais atual na medicina, como a genômica, que se utiliza de dados genéticos de larga escala para o diagnóstico e tratamento de doenças, e a medicina personalizada, cuja ideia quem explica é a Doutora Iscia Lopes Cendes, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia, o BRAINN.
Iscia Lopes Cendes – “Hoje em dia nós fazemos a medicina para a maioria, mas nós sabemos que existem diferenças individuais, que cada indivíduo é um indivíduo, manifesta a doença à sua maneira e responde ao tratamento da sua maneira. Só que a medicina atual não leva em conta essas individualidades. Então a medicina personalizada procura, através do estudo de fatores genéticos que caracterizam cada indivíduo, fazer um tratamento mais personalizado para cada indivíduo levando em conta as suas diferenças.”
O interesse pela chamada medicina de precisão motivou a criação, em novembro de 2015, do BIPMed, um projeto que reúne cinco grandes centros de pesquisa multidisciplinares com o objetivo de implantar esse novo conceito de medicina no Brasil, é o que conta a pesquisadora do BRAINN que é um dos institutos envolvidos no BIPMED.
Iscia Lopes Cendes – “O BIPMed surge como uma iniciativa para implantar esse tipo de medicina aqui no Brasil. Porque essa ideia de Medicina de precisão é uma ideia que hoje corre o mundo todo. No começo do ano houve o lançamento pelo presidente Obama nos EUA de uma iniciativa grande nos Estados Unidos, pra implantar esse tipo de medicina por lá, e nós achamos que também precisamos de uma iniciativa como essa no Brasil. Então essa é a grande missão do BIPMed”.
A pesquisadora Iscia Lopes Cendes relata que uma das dificuldades para aplicar a medicina de precisão no país está na falta de informações genômicas da população brasileira. Nesse sentido, os pesquisadores desenvolveram o primeiro banco de dados genéticos público da América Latina. Com acesso livre, até o momento da veiculação dessa reportagem mais de vinte mil registros eram disponibilizados online.
Iscia Lopes Cendes – “Muitos dados foram gerados, dados genômicos da população Brasileira, mas eles estão guardados nos arquivos dos pesquisadores, nos computadores individuais. E com dados guardados a gente não consegue trabalhar. O primeiro produto que o BIPMed lançou foi o primeiro banco de dados genômicos público da América Latina, e já depositamos dados da população normal brasileira e vamos continuar depositando. Então esse banco existe, qualquer pesquisador pode depositar seus dados, não é só para os nossos dados, e qualquer pessoa no mundo pode consultar esses dados”.
Para o Doutor José Franco, médico geneticista da PUC-CAMPINAS, o BIPMed é um esforço inovador que abre perspectivas para a comunidade médica e científica de todo o mundo ao criar o que ele chama de REDES e promover uma ciência aberta, participativa e proativa.
José Franco – “O objetivo dessa iniciativa é integrar e incorporar essas informações em diversos níveis, abrindo novas possibilidades para a medicina genética diagnosticar e tratar da melhor forma possível e que no futuro tenhamos um impacto significativo na saúde pública e espera-se que esse trabalho permita avanços na saúde de nossa população, como na pesquisa também que é necessária para que o país possa evoluir e avançar”.
A Doutora Iscila Lopes Cendes, do BRAINN, lembra que o trabalho ainda é bastante recente e que por isso há um longo caminho a ser percorrido para se estabelecer um banco de dados poderoso e, enfim, intensificar o exercício da medicina de precisão.
Iscia Lopes Cendes – “Nós estamos começando da estaca zero. Vamos conhecer o que é o genoma da população brasileira normal. Aí sim nós vamos poder interpretar melhor qual é a variação genética identificada que possa estar causando doenças”.
Se você é um pesquisador que tem interesse em depositar dados genômicos no banco de dados, ou paciente que se submeteu a algum teste genético e quer compartilhar suas informações pode entrar em contato com os responsáveis pelo projeto no endereço www.bipmed.iqm.unicamp.br.