Ao visitar um planetário, você sabe o que vai encontrar: uma sala com um domo, onde é projetada uma simulação do céu, acompanhada de explicações sobre planetas, constelações e outros corpos celestes.
A sensação é maravilhosa, como se você estivesse viajando pelo espaço. Melhor ainda se essa projeção for em três dimensões.
Planetários de países ricos podem ser maiores e oferecer mais tecnologia, mas a criatividade e a história do local podem fazer muita diferença. É o caso do planetário Cha´an Ka´an, localizado em Cozumel, no México. Ele é o único a ter uma sala totalmente dedicada à cultura maia, civilização que ocupava a região Sudeste do México até a Guatemala entre dois mil anos antes de Cristo e 250 depois de Cristo.
O lugar, que completa seu primeiro aniversário no dia 20 de agosto, dá atenção especial à arqueo-astro-nomia maia, que diz respeito aos estudos dessa civilização a partir dos templos e ruínas das cidades, além de inscrições, desenhos e todo tipo de objetos deixados.
Esses estudos revelam o desenvolvimento do povo maia em relação à agricultura, à matemática, à astronomia e outras ciências. Eles eram intelectuais e também muito místicos e devotados aos deuses.
Anilu Alcocer, uma das guias do Cha´an Ka´an, mostra documentos, mapas e desenhos que ilustram a mistura entre misticismo e ciência em explicações relacionadas a fenômenos astronômicos. Ela conta, por exemplo, que o crocodilo é considerado um animal sagrado. Isso porque a partir das observações do céu, os maias imaginaram que nós, humanos, é que nos movíamos na Terra. E como eles explicavam esse fenômeno? Eles acreditavam que os deuses Itzaná e Itchel, responsáveis pela origem da vida, colocavam os homens sobre as costas de um crocodilo gigante e então, toda a humanidade se deslocava assim, em cima do crocodilo, que navegava entre o Sol, a Lua e as estrelas.
Além da sala maia e do planetário, o Cha’an Ka’an tem um observatório, com dois telescópios, que permitem visualização do céu noturno e diurno. Oferece também palestras, cursos, exibição de filmes e exposições.
Segundo a diretora do Planetário, Milagros Varguez, todas as quintas, um grupo de observadores amadores se reúne acompanhado por um monitor do museu ou um pesquisador convidado que complementa a visita com informações. Cozumel tem um céu muito limpo. Milagros conta que dali é possível ver a via Láctea a olho nu e isso suscitou o interesse pela fotografia dos corpos celestes, que tem sido uma das atividades no local.
E qual seria o principal desafio para um planetário com tantas atrações?
Cozumel é uma ilha com 80 mil habitantes, reconhecida por suas belas praias e água cristalina, repleta de peixes, que podem ser vistos em mergulhos a poucos metros da costa. Embora o local receba cerca de 3 milhões de visitantes, somente dos cruzeiros que ali aportam, sem contar os demais visitantes e moradores da ilha, esse público não está muito interessado em atrações culturais.
Milagros conta que para competir com a praia, é preciso adotar ações que sejam próximas das atividades cotidianas. Por exemplo, criar uma noite romântica no espaço, no Dia dos Namorados. Outra estratégia é investir em um bom trabalho de divulgação das atividades do planetário nas redes sociais, e de curiosidades sobre a ciência e a tecnologia.
Outra vertente apontada por Milagros é a pesquisa. Recentemente foi firmado um acordo com o Instituto Nacional de Astrofísica, Óptica e Eletrônica, para fazer um monitoramento de meteoritos. O planetário também está envolvido na produção de um documentário sobre arqueoastronomia maia, com recursos obtidos em um edital do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, que será dirigido pela própria Milagros Varguez, com a produção de Gabriel Del Reis e coordenação científica do professor Jesus Galindo Trejo.
Para conhecer mais o Cha’an Ka’an e a cultura maia, visite a página do planetário no Facebook.
Matéria de Simone Pallone.