Provavelmente você já precisou utilizar um celular para se locomover em uma cidade desconhecida. Se não tem carro, pode ser que tenha pedido, via algum aplicativo, um veículo que o levasse a uma reunião do outro lado da cidade enquanto, no caminho, lia as principais notícias do dia e, revezando as janelas no navegador, curtia as fotos de seus amigos na festa do final de semana postadas em uma rede social. Quando voltou, à noite e com fome, utilizou outro aplicativo para pedir o jantar que não teve tempo de preparar, e o saboreou ouvindo uma playlist de indie rock fornecida por um outro app, sugerido por uma amiga em uma mensagem instantânea que há pouco recebera. Apesar de você, talvez, não ter se dado conta, esse processo todo só foi possível por causa de um grande número de algoritmos.
Podendo ser, simplificadamente, definidos como um conjunto de regras ou etapas que um computador vai seguir para desempenhar uma determinada função, os algoritmos são, como vimos no dia hipotético acima, indissociáveis de grande parte de nossas atividades cotidianas. Apesar das inegáveis vantagens, seu uso suscita preocupações de igual magnitude.
Sobre esse tema, o Oxigênio realizou, dentro do projeto Matemática no Ar, da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2017, uma entrevista, mediada por Gustavo Almeida, com o Engenheiro da Computação Alan Godoy, do CPqD e o Cientista Social Rafael Evangelista, do Labjor/Unicamp.
Os algoritmos estão presentes em “tudo que é computação hoje em dia”, afirma Godoy, explicando que foi nas primeiras décadas do século XX que matemáticos como Alan Turing e Alonzo Church começaram a estabelecer as bases para torná-los o que são atualmente.
No século XXI seu uso tem se expandido cada vez mais, e, além das aplicações mais corriqueiras, têm sido usados até mesmo para influenciar cenários políticos, intensificar a vigilância sobre as pessoas e guiar seus hábitos de consumo. “Há menos de exagero e mais de um temor fundamentado sobre usos complicados que os algoritmos podem ter”, adverte Evangelista, para quem os algoritmos correm o risco de caírem sob domínio de grupos a serviço de um modelo econômico injusto e centralizador de poder.
A discussão ganha relevância, na visão dos entrevistados, a partir do momento que somos nós, enquanto usuários, que fornecemos as informações para alimentar os algoritmos, a cada clique, “like” na rede social, ou aplicativo acionado. Godoy diz que quando se está numa rede social, por exemplo, ela capta uma quantidade imensa de informações, para fornecer ao usuário uma experiência mais individualizada, em virtude do que você tende a achar mais interessante – o chamado engajamento. “Você recebe sugestões que são personalizadas para o seu gosto”. Evangelista complementa que “todos os usos que fazemos geram rastros, e estes rastros alimentam bancos de dados que não são só utilizados para aquele aplicativo que a gente os está fornecendo”.
Essa quantidade enorme de dados, levou à criação do conceito de Big Data (grandes dados, em tradução livre), que serve como “alimento” para os algoritmos, que visam, como diz Godoy, “olhar pro histórico pra tentar prever o futuro” e, assim, lhe oferecer produtos, notícias, canais de entretenimento, para receber seu dinheiro ou, quem sabe?, tentar mudar suas opiniões políticas.
Oxigênio na SNCT 2017
Esta entrevista fez parte do projeto “Matemática no Ar”, que integrou a programação da 14ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT 2017). Foi uma realização do programa de rádio e podcast Oxigênio por meio do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp em parceria com a Rádio Unicamp. O projeto ainda contou com a colaboração do PHALA (Grupo de Pesquisa em Educação, Linguagem e Práticas Culturais), da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, além do apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e do Governo Federal.