Elas conversaram com o padre Julio Lancelotti que constantemente denuncia espaços hostis, com o professor Raimundo Ferreira Rodrigues que já esteve em situação de rua e hoje é doutorando em educação pela Universidade Federal do Tocantins e com a arquiteta Débora Faria que pesquisou sobre arquitetura hostil em seu projeto de mestrado.
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Roteiro
Prof. Raimundo: A maioria do tempo na rua, dormia na rua. A minha situação de rua era essa, em busca de alimento, em busca de sobrevivência. E aí quando eu conseguia alguma coisa, a mais do que eu poderia comer, eu levava para minha mãe. Sofri bastante, tive muitas dificuldades, muitos impedimentos, mas nada disso me tirou a ideia da cabeça de um dia ter uma vida melhor e busquei correr atrás do meu sonho, que era ser professor.
Fabíola: Olá! Eu sou Fabíola Junqueira e este que você acabou de ouvir é o Raimundo Ferreira Rodrigues, doutorando em educação pela Universidade Federal do Tocantins. Ele também é professor do ensino fundamental em Palmas. Hoje vamos falar sobre aporofobia e as dificuldades enfrentadas pela população em situação de rua.
Fernanda: E eu sou Fernanda Capuvilla. Para fazer este episódio também falamos com o Padre Júlio Lancelotti, responsável pela pastoral do povo da rua em São Paulo e com a arquiteta Débora Raquel Faria.
[vinheta Oxigênio]
Fernanda: A história de vida do professor Raimundo é repleta de momentos de dificuldades para atender necessidades básicas de qualquer ser humano como se alimentar, ter um local seguro para dormir, ter acesso à educação e cuidados de saúde. Ele nos contou sobre sua infância em Varjota, no interior do Ceará.
Prof. Raimundo: Passamos muitas necessidades, muita fome. Cheguei a desmaiar várias vezes de fome. E em um período também passamos sede porque faltava água na cidade e como não tínhamos casa, nem água encanada, morávamos de favor. A partir dos 7 anos eu comecei a entender um pouco mais as coisas e passei a andar na rua em busca de alimento como pedinte, pedia alimentos. Pedia de porta em porta na rua, nas casas, nas feiras…
Fabíola: E no meio de tantas dificuldades, alguns encontros foram importantes para mudar o rumo da história de Raimundo. Certo dia ele entrou escondido em uma escola, onde costumava acompanhar algumas aulas pela janela do lado de fora, e pediu à secretária que o matriculasse. Ela, sensibilizada pelo pedido do menino, o matriculou.
Prof. Raimundo: Tinha só o primeiro ano nessa escola. Daí eu frequentei o primeiro ano lá e nesse mesmo período eu continuei na rua, eu não tinha onde comer. E aí um dia eu parei em frente uma casa, tinha um pé de goiaba com muita goiaba. Subi, estava comendo as goiabas lá no pé, tinha só uma muretinha baixinha, e eu com fome …
Fabíola: E nesse momento, enquanto Raimundo estava alí, entre os galhos da goiabeira, aconteceu um segundo encontro importante na vida do menino. Desta vez com uma senhora que morava na casa em frente à árvore.
Prof. Raimundo: … eu subi nesse pé de goiaba, já tinha comido umas quatro goiabas. E aí a dona da casa saiu lá fora e me viu lá em cima desse pé de goiaba. Falou: “Oi, meu filho, tudo bem? Então, lhe vejo aqui sempre passando na rua. Vejo você pedindo comida. Você quer me ajudar aqui no meu jardim? Se você me ajudar, eu eu te dou comida todo dia e te dou mais um dinheiro.” Foi o que eu queria, né? Eu: “Sim, quero sim a ajuda da senhora.” Daí eu fiz um jardim para ela e ela me convidou para continuar fazendo a manutenção desse jardim. Foi quando eu disse que eu estudava nessa escola e ela conseguiu uma vaga numa escola que tinha até a quarta série, para estudar à noite. Eu passei a estudar à noite, cuidava do jardim dela e fiquei nessa um ano. Eu passei a viver melhor. Foi a minha chance. Eu agarrei com unhas e dentes. De lá para cá, até agora, nunca mais parei de estudar.
Fernanda: Publicado no Brasil em 2020 pela editora Contra Corrente, o livro “Aporofobia, a aversão ao pobre: Um desafio para a democracia” foi escrito por Adela Cortina, uma filósofa espanhola. O termo dá nome a um fenômeno social antigo de aversão à pobreza tendo o pobre como alvo de ações hostis da sociedade e invisibilização nas políticas públicas.
Pe. Júlio Lancellotti: A aporofobia é um termo cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina, que tem um livro chamado Aporofobia, que justamente busca nominar um fenômeno que é antigo, que não é novo, e ela até coloca que a Espanha recebe milhões de turistas, todos são bem-vindos desde que não sejam refugiados africanos, desde que não sejam etíopes, moçambicanos… Nos Estados Unidos, todo mundo é bem-vindo desde que não sejam refugiados de El Salvador, da Nicarágua, da Guatemala… Então, a aporofobia é um rechaço ao pobre, rechaço à pobreza.
Fabíola: Este é o Padre Júlio Lancelotti, pároco da Paróquia de São Miguel Arcanjo, localizada na Mooca, em São Paulo. Desde 1986 o padre Júlio realiza trabalhos voltados à proteção e cuidados à população de rua.
Pe. Júlio Lancellotti: Nem todo negro é rejeitado, mas se ele for pobre … O Pelé não é rejeitado em lugar nenhum porque ele tem dinheiro. Então a aporofobia é uma … não é uma determinação biológica, ela não é escolhida. E não é também uma uma coisa determinante, por exemplo, se a pessoa é indígena, se a pessoa é negra… mas se a pessoa é pobre. E também, a aporofobia tem a marca da pessoa que não te dá retribuição. Se ele é um moçambicano rico, ele vai ser bem-vindo, mas se ele é pobre, não.
Fernanda: Em decorrência da crise socioeconômica e do aumento da desigualdade social deflagrada pela pandemia da COVID-19, a quantidade de pessoas compartilhando abrigos, barracas e calçadas na cidade de São Paulo aumentou consideravelmente nos últimos anos. De acordo com o Censo da População em Situação de Rua feito pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da prefeitura, no final de 2021 a cidade contava com 31.884 pessoas sobrevivendo nestas condições. Este número pode estar subnotificado considerando as dificuldades de realização da pesquisa.
Fabíola: Para entrevistar o Padre Júlio Lancelotti fui até sua paróquia na manhã de uma terça-feira de março. Todos os dias ele celebra missa às sete horas da manhã e em seguida caminha, acompanhado por voluntários, empurrando seu carrinho abastecido de pães e outros alimentos, pelas ruas da Mooca até o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, onde acontece diariamente a distribuição do café da manhã. No dia em que estive lá, foram atendidas mais de 500 pessoas que receberam pães, bolos, máscaras e itens de higiene pessoal. Enquanto caminhava pelas ruas, o padre foi abordado diversas vezes por homens e mulheres que pediam a bênção, pediam ajuda para alguma situação específica ou agradeciam pela solução de alguma questão.
[Trecho do livro Aporofobia de Adela Cortina]
Thiago Ribeiro: O livro de Adela Cortina sobre a “aporofobia”, ou seja, a fobia ou o ódio aos pobres, não poderia ser mais tempestivo. Vivemos num mundo que produz cada vez mais pobres em uma velocidade inaudita. O tipo de pobre que preocupa Adela é o pobre sem vínculos com a sociedade, o excluído, o “sem-lugar”, aquele que não tem nada a oferecer na sociedade de troca em que vivemos. O pobre excluído e marginalizado que é tornado invisível e estigmatizado pelos outros. De onde vem este estigma?
Fernanda: O que ouvimos agora é o trecho inicial do prefácio, escrito pelo sociólogo Jessé Souza. Perguntamos ao padre sobre como surgiu a aporofobia e como reconhecê-la.
Pe. Júlio Lancellotti: Ela sempre existiu é que ela não é nominada, ela faz parte da nossa estrutura. A Adela Cortina até coloca que é um comportamento natural nosso, faz parte da nossa da nossa estrutura cerebral. Nós somos aporofóbicos. A gente tem que desconstruir essa aporofobia. Eu acho que foi importante a obra da Adela Cortina, porque pelo trabalho dela a gente pode ter isso mais claro, mais nominado. Quer dizer, não tinha uma bibliografia sobre isso, não tinham pesquisas sobre isso. Então isso está cada vez mais presente e agravado pela desigualdade. A desigualdade social explicita ainda mais e à medida que a população de rua cresce na mesma medida cresce a rejeição. Ela propõe dentro de um processo educativo, pedagógico, político… Ela propõe sair da hostilidade para a hospitalidade. Então é você perceber todo o comportamento que é hostil… Caco de vidro, pedras pontiagudas, lanças, obstáculos que dificultam. A questão é que essa hostilidade é um sinal de que não há naquela cidade, naquele local, hospitalidade.
Fabíola: Diariamente o padre utiliza as redes sociais para denunciar ações e construções que revelam a aporofobia. Ele recebe fotos e comunicados vindos de diversas pessoas em diversas cidades do Brasil que compartilham o olhar de cuidado à esta população vulnerabilizada.
Pe. Júlio Lancellotti: Me mandaram agora… Um vereador que está propondo pôr grades. Isso já se faz aqui em São Paulo. Gradeia tudo, embaixo de todos os viadutos. Para quê se faz esse gradeamento? Para que as pessoas não fiquem lá. Nós não queremos que eles fiquem também, mas nós queremos que tenha políticas públicas de moradia, de acolhimento, de repúblicas, de locação social. Outras formas que não seja simplesmente rejeitá-los, hostilizá-los. A grande questão é que nós vivemos na hostilidade e essa hostilidade é que marca as intervenções arquitetônicas nas cidades, elas estão presentes em muitos lugares. E por exemplo, esse vereador aqui ele está fazendo…. Um vereador de Franca. Então isso é aporofobia. Ele quer cercar os viadutos para quê? Para afastar moradores de rua. Ele podia ter feito uma outra proposta: vamos construir moradias, vamos fazer locação social, vamos conseguir espaço nos hotéis, vamos ajudar quem é de outra cidade ir para a outra cidade… Mas ele propõe que se cerque. Isso é a aporofobia.
Fernanda: Fica claro na história de Raimundo que as oportunidades de trabalho, cuidado e educação surgiram por meio de ações individuais, de pessoas comuns sensibilizadas com sua precária situação. Se aquela senhora que morava em frente à goiabeira ou a funcionária da escola que o matriculou, tivessem apenas o afastado dali, ameaçado, ou simplesmente ignorado o menino, será que a vida deste professor seria a mesma?
Fabíola: Educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, segurança e assistência aos desamparados são alguns dos direitos sociais do artigo sexto da Constituição Brasileira, que vale para todos os cidadãos, sejam eles pobres ou não. Na vida história de Raimundo alguns destes direitos foram possíveis por sorte ou ação do acaso e não por meio de políticas públicas que deveriam garantir tais direitos.
Fernanda: Parece que a rejeição aos pobres acaba afastando essas pessoas de uma vida digna e com a possibilidade de se reconhecerem como cidadãos.
Prof. Raimundo: A maioria das políticas públicas são ínfimas. São políticas que não se efetivam e se se efetivam dificultam o acesso das pessoas, elas facilitam pouco. As vantagens para a pessoa que precisa são poucas e não abrange todos, como era para ser, como a constituição manda. Quando eu vivia nas ruas o que eu mais queria era uma chance de estudar e de trabalhar. Eu não queria só ganhar das pessoas. Eu não queria ganhar só um prato de comida ou um dinheiro para eu comprar comida. Eu queria uma oportunidade para estudar, uma oportunidade para trabalhar. Muito tempo depois foi que eu consegui, mas com muita dificuldade. Alguns programas sociais são muito importantes, como o bolsa família era, agora esse novo que substituiu o bolsa família, mas isso aí é coisa rápida, paliativa, o governo tinha que oferecer linhas de trabalho, oferecer incentivo às empresas para contratar pessoas em situação de rua. Isso sim seria o ideal. Então eu tenho buscado entender para poder atuar nessa área. Por isso minha carreira está sendo marcada, mais voltada para políticas públicas. Agora eu consegui encaixar melhor no doutorado a área de educação e pretendo futuramente trabalhar com formação de professores.
Pe. Júlio Lancellotti: A cidade não é democrática, não é para todos.
Fabíola: Aqui o padre Júlio novamente, destacando a aporofobia retratada na arquitetura do ambiente urbano.
Pe. Júlio Lancellotti: São as intervenções hostis, principalmente na arquitetura. A cidade não é feita para todos a cidade é feita para quem consome. É um comportamento que está muito arraigado. Você pode ter gestos. Então, por exemplo, várias das fotos que eu coloco, tem vários bancos que tiraram, várias casas comerciais que tinham, a gente põe a foto, eles tiram. Então tem vários lugares que… a Kopenhagen mandou tirar, uma livraria católica que tinha mandou tirar, o banco Itaú mandou tirar, a Caixa Econômica mandou tirar, então tem muitos que quando a gente denuncia e põe publicamente eles tiram.
Débora Faria: Esse tipo de elemento, que é instalado no espaço público, e muitas vezes naquele limite entre o espaço público e privado, muitas vezes nas fachadas, varia muito de lugar para lugar.
Fernanda: Para entender um pouco mais sobre a arquitetura hostil conversamos com a Débora Faria, arquiteta urbanista, que desenvolveu um trabalho no mestrado em planejamento urbano, com foco na arquitetura hostil em Curitiba. Na pesquisa ela mostrou como esse fenômeno atua sobre o espaço e quais as consequências disso. A Débora identificou uma série de elementos que hostilizam o ambiente público.
Débora Faria: Na realidade brasileira, eu vou falar mais especificamente do caso de Curitiba, que foi o que eu me aprofundei mais, aqui a gente tem diversos elementos, desde aqueles pinos ou lanças, espetos que colocam na soleira das das portas ou nas calçadas, nos bancos, até de fato gradear um espaço inteiro. Além de grades e espetos também inclinar superfícies para que as pessoas não se sentem. Pedras. Tem algumas que são extremamente violentas, que são exatamente esses espetos em uma quantidade muito grande, pregos, algumas espécies de plantas como a famosa coroa de cristo, que tem muito em muitos lugares e que aqui é bastante usada no alinhamento predial, para que as pessoas não subam e não sentem nesse alinhamento.
Fabíola: Débora conta que as plantas também podem ser um elemento hostil e que muitas vezes maquiam o objetivo de que as pessoas não usem o lugar, que fiquem longe daquela edificação.
Mas o que é exatamente um espaço público?
Débora Faria: O espaço público é um espaço com uma natureza dual. Ele é esse espaço aberto, esse espaço livre da cidade, onde todos têm acesso a ele. Mas é também um espaço de apropriação, então ele tem essa base física e tem também a questão de como as pessoas se apropriam dele. Então, quanto mais esse espaço é apropriado, quanto mais gente usa esse espaço, mais democrático ele é, mais público, digamos assim, a gente pode considerar esse espaço.
Fernanda: Então podemos dizer que elementos hostis na arquitetura interferem nessa apropriação do espaço público?
Débora Faria: Sobre a arquitetura hostil, o que acontece… tira um pouco esse caráter de apropriação do espaço. Tira um pouco essa questão social do espaço e ele passa a ser só um espaço físico mesmo. O espaço público pode ser considerado tudo que é de acesso público, principalmente calçada, qualquer largo, qualquer ilha que tem entre uma rua e outra… Então o espaço público é quase tudo que está entre os prédios.
Fabíola: Débora, você também pesquisou a motivação da instalação destes elementos e as consequências além do objetivo inicial, certo?
Débora Faria: Então a mira quando se coloca arquitetura hostil é de fato em alguns grupos sociais, principalmente população em situação de rua e também um pouco focada em jovens adolescentes, que gostam de ficar na rua, ali bebendo… O alvo é um mas atinge todo mundo. Então acaba que … eu sempre dou o exemplo de uma mãe, com o filho. Então ela está tá andando com sacola, está andando com criança, ela não tem nem mais um espaço para sentar ou apoiar uma sacola porque tudo tem um pino, tudo tem espeto, tudo tem algum vidro que colocaram, alguma coisa que impede que a pessoa sente, ou apoie qualquer coisa que esteja carregando. Então todo mundo acaba sofrendo e mesmo quem trabalha no centro da cidade. Quem trabalha em edifícios ou mesmo quem trabalha no espaço público mesmo, camelô ou outros vendedores, também ficam com uma infraestrutura pior para o trabalho deles.
Fernanda: A violência e insegurança urbana podem servir de argumento para a instalação de elementos hostis. Mas será que faz sentido?
Débora Faria: Na verdade tem muito menos a ver com uma questão de segurança urbana e muito mais a ver com a aporofobia, digamos assim. Porque a pessoa dormir ou beber na sua soleira, ou beber próximo à sua residência não quer dizer que, exatamente, ela esteja praticando algum crime. Essa pessoa dorme na rua, não exatamente se prova uma relação de que essas pessoas oferecem alguma ameaça urbana relacionada a furto, a roubos… ou que é a população de rua que cometa mais esses crimes nas regiões centrais. Então tem muito mais a ver com realmente não ter essas pessoas ali.
Fernanda: O fato de não querer essas pessoas por perto, na soleira da porta, na calçada da casa. Tem também uma relação com sujeira, com urinar em espaço público, deixar lixo jogado, mas… às vezes se usa justificativa da segurança pública e da violência.
Débora Faria: Mas isso não se justifica, tem muito mais uma relação com o tipo de pessoa que está mais no espaço público, e que no centro da cidade são mais as pessoas pobres que dormem no espaço público. Então tem muito mais a ver com a classe social, com essas classes mais vulnerabilizadas, do que exatamente com segurança. E aí que a gente vê essa cultura do medo dos pobres, do medo dos desfavorecidos acontecendo.
Fabíola: Para a pesquisadora, um caminho possível para reverter a hostilização dos ambientes urbanos é o diálogo.
Débora Faria: Então na minha opinião, é exatamente o diálogo que tem que acontecer, com várias partes da sociedade civil e com o poder público para que primeiro os entes privados não fiquem responsáveis por resolver um problema público, até porque eles não conseguem, você expulsa uma uma pessoa em situação de rua de um lugar, ela vai para o outro, ela não vai evaporar, esse problema continua acontecendo. Então tem que ter políticas públicas de habitação e de geração de renda para essas pessoas que dormem na rua. E tem que existir um diálogo também para que as pessoas que acham que o melhor caminho é colocar a arquitetura hostil participem mais de um diálogo, de um debate e que se envolvam com outras alternativas de resolver o problema.
Fabíola: E como este podcast se propõe a falar de ciência perguntei ao padre Júlio qual é a relação entre a aporofobia e os estudos científicos.
Pe. Júlio Lancellotti: Todos os saberes podem ajudar a ter metodologia, propostas, propostas de habitação sustentável, propostas de novas formas de moradia, propostas de processos pedagógicos de superação da aporofobia… Tudo isso pode ser feito.
Fernanda: O professor Raimundo também destaca a educação como um elemento importante no combate à aporofobia.
Prof. Raimundo: Adela Cortina tem propriedade para falar, ela entende. Eu acredito também que a educação emancipa as pessoas, ajuda muito. No meu caso, quando eu vivia em situação de rua, a educação me ajudou a galgar novos níveis na escolaridade e melhores condições de vida. Para quem desmaiava de fome, passava fome, passava tanta necessidade, privações, até sede por não ter água, privações de roupas, calçados, alimentos. E de repente ela consegue uma formação, pouca mas que já lhe dá condições de trabalhar, isso já é um amparo grande para a pessoa. A educação emancipa sim. E emancipa intelectualmente, espiritualmente porque a pessoa vai buscar a espiritualidade quando ela começa a entender as coisas. Começa a entender que ela precisa saber, agir e conhecer o outro, conhecer as dificuldades do outro
Fabíola: Esse episódio foi escrito e apresentado por mim, Fabíola Junqueira e pela Fernanda Capuvilla.
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Fabíola: A revisão do roteiro foi feita pela coordenadora do Oxigênio, a Simone Pallone, do Labjor/Unicamp. Os trabalhos técnicos são do Richard Paião, bolsista do Serviço de Apoio ao Estudante e do Octávio Augusto Fonseca da rádio Unicamp. Você pode acessar o roteiro deste episódio e outras referências mencionadas hoje no nosso site. Deixe seus comentários em nossas redes sociais e obrigada por ouvir. Até o próximo episódio!
Referências:
Professor Raimundo Ferreira Rodrigues http://lattes.cnpq.br/9546320460045404