James Marion Sims, médico americano, nascido em 25 de janeiro de 1813 e morto aos 70 anos, é considerado o pai da ginecologia moderna, tendo desenvolvido uma importante técnica cirúrgica para reparar um canal anormal – a fístula – que liga a bexiga à vagina, fazendo com que haja constante vazamento de urina no canal vaginal. A principal causa da condição é o parto com complicações que leva à morte de células do tecido entre a bexiga e a vagina. Por esse e outros feitos, o médico tem uma merecida estátua na cidade de Nova Iorque.
Merecida? Sims desenvolveu a técnica fazendo experiências com mulheres afro-americanas escravas trazidas por seus donos. As cirurgias começaram em 1845 e a última foi feita em 1849, totalizando 12 escravas utilizadas nos experimentos. O efeito anestésico do éter foi demonstrado publicamente nos Estados Unidos em 1846 e seu uso na cirurgia espalhou-se rapidamente. Sims, porém, não utilizou a substância em nenhuma de suas cirurgias experimentais. Os experimentos foram feitos no estado sulista do Alabama, mas Sims acabou mudando-se para Nova Iorque, onde fundou um hospital da mulher e realizou cirurgias de reparação da fístula em pacientes brancas. Alguns analistas contemporâneos condenam a prática de Sims como altamente antiética. Ativistas protestam contra a manutenção, hoje em dia, de sua estátua.
Mas uma grande polêmica surgiu quando a revista britânica Nature publicou um editorial defendendo a manutenção da estátua, sob a alegação de que sua remoção e de outras figuras polêmicas do passado escravagista americano traria o risco de colocar panos quentes na história; que a ciência deveria reconhecer seus erros passados, mas não apagá-los do registro. Após protestos, a revista alterou o título do editorial, acrescentando uma nota no início reconhecendo que a versão original era ofensiva e trazia uma má escolha de palavras. Ocorre que a palavra em inglês “whitewashing”, originalmente usada no título, tem duplo significado. Um que se refere a uma ação de cobrir ou minimizar erros por meio de uma investigação de faz de conta ou por apresentação de dados distorcidos, e que era o sentido a que o editorial se referia. E outro, mais corrente e amplamente utilizado, que se refere ao processo de embranquecimento de personagens sobretudo nas produções cinematográficas americanas, com atores e atrizes brancos interpretando figuras de outras etnias na história original.
Apenas a mudança do título, suprimindo o termo, não encerrou a polêmica, levando a revista a publicar em seu site réplicas críticas à defesa feita pela Nature para a manutenção do monumento.
Mas novas críticas dizem que a revista está inflando a polêmica e querendo trabalho grátis – os artigos com as respostas sem pagar por elas.
Matéria de Roberto Takata e locução de Simone Pallone.