Diz o ditado que a melhor defesa é o ataque. Mas plantas carnívoras parecem ter virado esse conceito do avesso. Em filmes e desenhos vemos plantas carnívoras gigantes devoradoras de homens, mas as que existem na vida real são bem menos assustadoras. Ao menos do nosso ponto de vista. Suas estruturas modificadas são capazes de capturar apenas insetos ou, no máximo, pequenos vertebrados como lagartixas e sapos.
Mas elas são plantas. E normalmente plantas produzem seus próprios alimentos convertendo gás carbônico e água em açúcares, por meio da energia capturada da luz solar.
E como será que elas vieram a ser capazes de predar animais?
Então, um grupo de pesquisadores alemães e árabe estudaram o padrão de expressão dos genes na vênus-papa-mosca, também chamada de dioneia, durante a captura e digestão de suas presas. Eles observaram que os genes mais ativos são aqueles presentes em outras plantas e que controlam mecanismos de defesa.
As plantas não carnívoras produzem pequenas quantidades de uma proteína chamada hidrolase quando atacadas por insetos e bactérias. Já na papa-mosca, quando as presas são capturadas em suas folhas modificadas como armadilhas, grandes quantidades de hidrolases são liberadas, digerindo a carapaça de quitina dos artrópodes, suas vítimas. Pouco tempo depois, nessas folhas modificadas são expressos genes que nas plantas não carnívoras são ativos nas raízes. As raízes são os órgãos de absorção de nutrientes do solo. Como na papa-mosca, os nutrientes são absorvidos das presas digeridas, genes similares são ativados nas folhas-armadilha.
Os resultados parecem indicar que as características que permitem que as carnívoras devorem suas presas são resultados de modificação evolutiva de características já presentes em suas ancestrais, que não eram carnívoras.
O estudo foi publicado online, antes da versão impressa, no site da revista Genome Research.
Matéria de Roberto Takata e locução de Kátia Kishi.