Um bar, um restaurante, um café. Clima descontraído. Conversas instigantes. Esse é o cenário do festival, que levou cientistas para conversas abertas ao público entre os dias 23 e 25 de maio. É o Pint of Science, que traduzindo para o português seria algo como Caneca de Ciência, aquela de chopp sabe? Este ano o evento envolveu 12 países, mais de 100 cidades e cerca de 350 bares pelo mundo. A pesquisadora que coordenou a edição brasileira do festival, Natália Pasternak, explicou a origem dessa iniciativa. Natália Pasternak, coordenadora do Pint of Science no Brasil:
Natália Pasternak – “Pint of Science é um festival de divulgação científica que nasceu em Londres, na Inglaterra, em 2012. Ele foi idealizado por dois pós-docs do Kings College, a Praveen Paul e o Michael Motskin. Eles trabalhavam com doenças neurológicas como Parkinson e Alzheimer e eles perceberam que os pacientes e os familiares desses pacientes estavam muito interessados em entender o que acontecia na pesquisa na qual eles eram voluntários. E ninguém tinha se dado ao trabalho de explicar para eles. Então esses dois pós-docs resolveram organizar uma série de palestras na universidade que eles chamaram de Encontro com os Cientistas. E eles acharam que então a solução era levar o cientista para um ambiente informal, descontraído, e eles escolheram para isso a instituição mais antiga da Inglaterra, os pubs ingleses.”
No Brasil, o festival aconteceu em 22 bares de 7 cidades: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Dourados, Ribeirão Preto, São Carlos, Campinas e São Paulo. Na capital paulista, a Natália fez apresentações sobre o método científico e sobre câncer. No mesmo dia, em outro restaurante da cidade, nós também encontramos o Rafael Ferreira, outro cientista que falou com o público, aproximando temas da ciência e do empreendedorismo.
Rafael Ferreira – “A gente vê na mídia o Homem de Ferro, a cura da zika, a cura da pólio, mas como é que chegou isso lá, qual é o caminho de transformar uma ideia que é comprovada na academia em negócio? A gente quis contar um pouco desse caminho para quem tem interesse e está fazendo ciência ou quem tem interesse de empreender e gosta de ciência. Então por que não juntar os dois? Essa interação aqui, no tête-à-tête, eu acho super legal. Apesar de eu tentar fazer isso em todo bar que eu vou, aqui eu fui muito mais escutado”.
Já em Campinas, nem o frio de 11 graus registrado no observatório da cidade foi capaz de espantar os interessados em ciência. Entre palestras sobre astrobiologia e observação de planetas, teve gente que também apreciou a boa gastronomia dos food trucks e ainda deu uma palavrinha com o Oxigênio, como o estudante Rodrigo Cordeiro.
Rodrigo Cordeiro – “Eu achei um evento bem interessante, uma troca de experiência legal com o cientista, e ao mesmo tempo que você está aqui aprendendo, admirando toda essa experiência você também come bastante, gostei”.
Outro visitante, Artur Castro, também acha que eventos como esse devem acontecer mais vezes.
Artur Castro – “Eu gostei sim, achei bem interessante. Não é uma coisa que acontece sempre, né? E poderia ter mais vezes sim. Apesar do frio eu gostei bastante”. O frio atrapalhou? “Não, de forma alguma”.
De fato. O Pint of Science é um festival que acontece uma vez por ano, mas isso não é motivo para tristeza. Outros eventos como esse têm aparecido em algumas cidades. Campinas é uma delas. Uma iniciativa semelhante ao Pint reúne, todas as terças-feiras, cientistas e públicos em conversas descontraídas sobre os mais diversos temas científicos. Estamos falando do “Chopp com Ciência”, coordenado pelo biólogo Rafael Bento em parceria com pesquisadores da região. O projeto teve início há três meses e toda semana tem angariado uma média de 40 pessoas no Echos Studio Bar, em Barão Geraldo.
Rafael Bento – “Já vieram pessoas de diversas áreas. Eu já falei sobre divulgação científica, já falamos sobre astrobiologia, ondas gravitacionais, polícia científica, células-tronco, falamos sobre o Sirius, o acelerador de partículas que está sendo construído. A ideia do Chopp com Ciência é uma coisa que está no inconsciente coletivo dos cientistas há muito tempo. Em todo lugar que eu ia, em congressos, encontrar pessoas principalmente o pessoal que é ligado à divulgação, e mesmo não, independente disso, eu via a empolgação das pessoas em poder conversar sobre aquilo e dava a entender que as pessoas não tinham como conversar sobre isso no dia a dia mesmo sendo cientistas”.
O Rafael diz ainda que apesar de ser uma atividade aberta a qualquer pessoa interessada em discutir ciência, grande parte do público ainda é formado por pessoas da área acadêmica. Mas ele toca num ponto importante: não significa que essas pessoas também não sejam leigas.
Rafael Bento – “As discussões valem a pena. Eu tenho, por exemplo, cientistas falando sobre biodiversidade e é um físico que está ouvindo. Então, basicamente, dependendo do tema, vai ter um monte de leigos no tema que será discutido. São cientistas, mas, por exemplo, um físico nuclear não sabe nada sobre biodiversidade. Ou sabe tanto quanto qualquer outra pessoa”.
Então, se a sua ideia é aprender mais sobre ciência, tirar dúvidas, e em um bar, no começo da semana, eventos como o Chopp com Ciência são uma pedida e tanto. A entrada é gratuita e você só paga o que consumir. A programação semanal e outras informações estão no grupo do facebook: é só procurar por Chopp com Ciência. O link também está disponível no site do Oxigênio.
Chopp com ciência: https://www.facebook.com/groups/1690673624538653/?fref=ts
Com a produção de Erik Nardini, Patricia Santos e Cristiane Pinho, Samuel Garbuio para Oxigênio.