No início de maio, comemora-se 91 anos da visita realizada por Albert Einstein ao Brasil. O cientista esteve no país entre 04 e 12 de maio de 1925, como parte de uma série de viagens que realizou naquela década com o objetivo de difundir suas teorias, aproximar as comunidades científicas de diversos países e buscar apoio à causa judaica.
A viagem à América do Sul também incluiu passagens pela Argentina e Uruguai. Antes de vir ao Brasil, ele ficou um mês em Buenos Aires e uma semana em Montevidéu. Mas no dia 21 de março, quando estava à caminho da cidade argentina, fez uma escala de algumas horas no Rio de Janeiro. Na ocasião, o escreveu a um jornalista: “O problema que minha mente formulou foi respondido pelo luminoso céu do Brasil”.
Einstein se referia ao eclipse total observado em 1919 por duas equipes de astrônomos, na cidade de Sobral, no Ceará, e na Ilha de Príncipe, na África, e que contribuiu para confirmar a sua teoria da relatividade geral, desenvolvida em 1907. De acordo com a teoria, raios luminosos sofrem o dobro da curvatura esperada pela física newtoniana quando estão sob o efeito de um campo gravitacional. Como o sol produz um enorme campo de gravidade, a luz das estrelas por trás dele se curvaria, indicando a sua posição de forma deslocada.
Apenas um eclipse comprovaria isso porque as estrelas só podem ser vistas com baixa luminosidade. Dessa forma, ao comparar a posição da estrela quando o sol estivesse totalmente eclipsado pela lua com a posição real, observada durante a noite, foi possível verificar a grandeza da curvatura e constatar que era maior do que a prevista pela física clássica.
De volta ao Rio de Janeiro, um mês e meio depois da escala, o cientista percorreu vários pontos turísticos da cidade, como o Corcovado, o Pão de Açúcar, e a Floresta da Tijuca, os quais descreveu com fascínio em seu diário de viagem. Do ponto de vista científico, visitou instituições como o Museu Nacional, o Instituto Oswaldo Cruz e o Observatório Nacional e fez palestras no Clube de Engenharia e na Escola Politécnica. Ele participou de uma recepção na Academia Brasileira de Ciências; e enviou uma mensagem ao povo brasileiro através da Rádio Sociedade, que foi a primeira rádio brasileira, criada em 1923 por um grupo de intelectuais interessados no desenvolvimento e difusão da pesquisa básica no país.
De fato, a década de 1920 constituiu um período fértil para a Divulgação Científica no Brasil, com a retomada de iniciativas de popularização, a criação da Sociedade Brasileira de Ciências, em 1916, que mais tarde se tornaria a Academia Brasileira de Ciências – a ABC e o aumento da publicação de livros e artigos em revistas e jornais. Também foi organizada uma série de conferências abertas ao grande público, além da visita de importantes cientistas estrangeiros, dos quais Einstein foi o maior expoente.
A presença de um público não especializado nesses eventos acabou comprometendo alguns debates. Sobre a palestra no Clube de Engenharia, por exemplo, assistida principalmente por militares e diplomatas com suas famílias, Einstein registrou em seu diário: “Compreensão impossível, a começar pela acústica. Pouco sentido científico. Eu sou um tipo de elefante branco para os outros, eles, para mim, uns tolos”.
Por outro lado, a recepção na ABC foi considerada o evento de maior destaque da visita, reunindo membros de várias instituições científicas. Durante o encontro, foi instituído o prêmio Albert Einstein, que seria entregue anualmente ao melhor trabalho apresentado à ABC.O cientista, por sua vez, fez uma rápida comunicação sobre os estudos mais recentes sobre a natureza da luz. O manuscrito dessa apresentação foi entregue ao presidente da Comissão de Recepção, Getúlio das Neves, e um ano depois, publicado na primeira edição da Revista da Academia Brasileira de Ciências.
O manuscrito original da fala de Einstein só foi redescoberto em 1996, quando o neto de Getúlio das Neves, Jorge Getúlio Veiga, revelou a sua existência e forneceu uma reprodução aos pesquisadores da visita.
Mais informações sobre a passagem de Einstein ao Brasil podem ser obtidas no livro Einstein – O Viajante da Relatividade na América do Sul. A obra foi publicada pelo historiador Alfredo Tolmasquim, e contém a tradução do diário de viagem do cientista, além de alguns textos importantes da época.