Nesta edição de número 80 do Oxilab foi pensada especialmente pra você que curte inteligência artificial, que quer saber mais sobre o assunto. E, óbvio, vai contribuir muito também pra você que ainda não está bem familiarizado, mas que percebe que a IA está cada vez mais presente na sua vida.
Antes da gente começar a falar propriamente do uso de IAs na Arte, vamos recordar um pouquinho – o que significa Inteligência artificial? O termo que parece ter se popularizado recentemente não é algo tão novo assim. A primeira vez que falaram de Inteligência Artificial foi em 1956, em uma conferência que reuniu vários cientistas nos Estados Unidos. E, quem esteve por lá foi o cientista da computação John McCarth. Ele é o cara que criou a linguagem de programação conhecida por Lisp. A Lisp se tornou a principal linguagem de programação da comunidade de Inteligência artificial. De lá para cá, já se passaram sessenta e três anos, fizemos uma longa viagem no tempo, cheia de processos, mudanças e aperfeiçoamentos… agora estamos em 2019, e precisamos entender – o que é IA?
Então, para entender melhor esse conceito vamos imaginar aqui junto comigo…
Quando nós pensamos acionamos processos lá no nosso cérebro, certo?! a todo momento a gente interpreta coisas no nosso quotidiano e, até certa medida, seria o mesmo que dizer que processamos informações. Se por exemplo, a gente for atravessar uma rua e nela passam vários carros, interpretamos que ali existe um fluxo de tráfego e, por isso, precisamos calcular mais ou menos o intervalo de tempo que demoraremos para chegar do outro lado dela. Caso contrário, a gente pode ser atingido por algum veículo, … e óbvio, isso não seria bom.
Agora vem a sacada para entender a IA…
Muito provavelmente a gente só sabe que deve ter essa atenção ao atravessar a rua, porque alguém em algum dia nos alertou sobre esse risco. Ou seja, alguém nos deu essa informação. É mais ou menos esse o funcionamento que constitui a Inteligência Artificial. Ela não interpreta como nós, mas processa informações e calcula dados que são inseridos nela pelo programador – quando falo de programadores, me refiro a essa galera aí que desenvolve pesquisa na área da IA, que criam os algoritmos, que nada mais são do que verdadeiras “receitas de bolo”. Por falar em algoritmo, esse termo se encontra ligado diretamente à IA, mas é um assunto que trataremos em outra edição. Voltando ao que compreendemos sobre IA, a inteligência artificial é uma espécie de imitação do nosso cérebro, sem influência dos nossos sentimentos. Como já cantava Gilberto Gil, “o cérebro eletrônico faz tudo, quase tudo” e é este “quase” o que diferencia a inteligência artificial da nossa de seres humanos.
O fato é que o uso de inteligência artificial (as IAs) nas Artes é uma prática cada vez mais comum. E quando eu falo de obras de arte realizadas por IAs, me refiro às pinturas, como a Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci. Estou certo que você, ouvinte, já viu pelo menos a réplica do quadro da Mona Lisa, não é mesmo? Agora imagine que Da Vinci não tivesse utilizado pincel, nem tinta e nem quadro branco na produção da Mona Lisa, mas tivesse usado uma Inteligência Artificial. Conseguiu imaginar. Sim! Ou ainda não?
Tudo bem! então, fique ligado no episódio de hoje. Vamos falar sobre IA’rte, lembrando que este é um termo que eu criei carinhosamente para me referir a arte feita com IA, ou seja, IA’rte. Nessa prática, o artista troca o pincel pelo teclado, a tinta é o algoritmo e a tela branca é substituída pela tela do computador. E agora, ficou mais fácil de entender não é mesmo?! Então vem comigo que a gente vai junto descobrir mais desse universo, onde as cores da ciência são organizadas pela relação zero e um.
HistórIA
O pesquisador Fabrizio Poltronieri realizou uma palestra na Unicamp sobre Inteligência Artificial e Criatividade. Ele é professor na Universidade Pública De Montfort, localizada na cidade de Leicester, na Inglaterra. Apesar de ser um assunto que levanta polêmica, o pesquisador considera o pintor Harold Cohen o primeiro artista a usar IA na arte. Segundo Fabrizio, o pintor começou a usar a IA no processo artístico já em 1960. Então, a gente já pode calcular a partir da informação que eu dei anteriormente, que quatro anos é o intervalo do tempo que corresponde o espaço entre a conferência científica que marcou o uso do termo Inteligência Artificial e a primeira vez que alguém usou da IA para fazer Arte, datado em 1960. O artista Harold Cohen desenvolveu um programa computacional que cria imagens artísticas originais. Durante sua palestra, o professor Fabrizio explicou como ocorre essa produção de arte de maneira autônoma…
“O conhecimento de como isso acontece só é possível através de um pensamento computacional também, um pensamento que se coloca a partir do deciframento de códigos, no caso, códigos computacionais. E eu acho, na verdade, que os códigos são sempre sistemas simbólicos que operam na interseção entre cognição e realidade. Porque os aparelhos, porque os códigos computacionais eles não emulam realidades, mas sim projetam novas realidades sobre o mundo. E esse também é um esclarecimento que quando você vê o artista trabalhando com essas tecnologias, que você pode através dela projetar novas realidades sobre o mundo da cultura, sobre o mundo humano, as coisas se tornam muito mais claras”.
Segundo o pesquisador tem se tornado cada vez mais comum encontrar pinturas realizadas com a ajuda de IAs. Então, acredite, qualquer dia desses você pode estar visitando uma exposição por aí e se deparar com algo do tipo. Mas, essa não é apenas uma via de mão única, isso porque alguns artistas não concordam com esse modelo como arte, pelo menos é o afirma Fabrizio Poltronieri…
“A questão do campo da arte em específico, ao meu ver, é que os artistas ainda pensam a arte como algo intrinsecamente humano, que os humanos têm capacidade de criar arte e que os computadores ainda são elementos alienígenas a isso. Historicamente, nunca foi bem resolvida a inclusão do computador no universo da arte”.
Favorável ao uso de IA’s no processo criativo, durante uma palestra que realizou na Unicamp, o professor explicou como tem trabalhado esse processo que une arte e tecnologia lá na Inglaterra, escuta só…
“No nosso instituto nós trabalhamos não somente com a Arte, mas com o uso criativo de computadores, como em todas as outras áreas, engenharia, medicina, arquitetura. E, na verdade, a IA não encontra tanta resistência nas outras áreas. Porque ela é vista como um aparato técnico, que pode ajudar aos processos que as pessoas precisam fazer, como a identificação de tumores e de resistência de matérias”.
A pic two pix e a cat two pix são exemplos de duas ferramentas que você pode utilizar para produzir arte usando a IA. Nelas, você desenha um rosto de animal ou de uma pessoa e elas usam de uma rede neural para criar uma imagem que parece uma pintura a óleo. É como se você desenhasse no paint, que é um software simples que tem em qualquer computador, e esse rabisco que você fez, depois de passar pelo processamento da IA, aparecesse pronto na InDesiner, que é um software de edição de imagem profissional. Ou seja, apesar de melhorar consideravelmente aquela imagem que você fez, essas ferramentas não fariam os desenhos sozinhas, pelo menos não por enquanto. É o que confirma o professor…
“Esses sistemas eles devem ter uma espécie de memória e que essa memória possa ser reutilizada criativamente para trazer dados, informações novas ao mundo da cultura, ao mundo humano. E, é exatamente esse aspecto criativo que ainda falta a esse sistema. E, mais, o que eu acredito é que, é impossível ou praticamente impossível que esse sistema se torne criativo por si mesmo. Isso quer dizer o quê? Quer dizer que esses sistemas embora sejam e vão continuar sendo cada vez mais autônomos, ou seja, cada vez mais independentes da vontade humana e da presença humana, eles vão necessitar cada vez mais do homem. Vão precisar cada vez mais da presença humana nos processos para que eles sejam realmente criativos”.
Muito possivelmente você conhece alguém, seu pai ou sua mãe por exemplo, que faz aquela comida maravilhosa, não é mesmo?! Basta você provar que você logo agradece dizendo que esse prato tá uma verdadeira obra de arte e que ninguém no mundo faz algo igual. É mais ou menos nesse sentido que surge uma das principais críticas à inteligência artificial nas Artes. Os artistas que se contrapõem ao uso da IA, alegam a falta de subjetividade artística nas pinturas, ou seja, aquele toque pessoal de cada artista. E você, o que acha disso? O pesquisador Fabrizio discorda dessa falta de subjetividade e explica o porquê…
“Esse é um componente muito forte, porque eles não veem como o computador pode, de certa forma, ser subjetivo. O que também remete a minha pesquisa de doutorado, com o conceito de acaso. Quando eu falo que os computadores são aparelhos culturais… Ora! Eles sendo aparelhos culturais, estando dentro, integrados e permeando o conjunto da sociedade também estão sujeitos a diferentes níveis de subjetividades. Mesmo que possa se alegar de que o computador, em si, não tenha subjetividade. O computador não existe como sistema isolado, ele existe em um ambiente de cultura humana e, por isso, está diretamente sujeito a processos subjetivos, à subjetividade”.
O que Fabrizio coloca é que a máquina funciona como uma extensão do corpo humano, assim como o corpo pode ser considerado uma extensão dessa máquina. Se a gente observar um pouco da história vamos perceber que a tecnologia sempre esteve presente e influenciando nas relações do ser humano com o mundo. A gente pode pensar, por exemplo, o ser humano no período conhecido como Idade da Pedra. Naquela época nossos antepassados começaram a criar suas primeiras ferramentas, aquilo era a tecnologia da Pré-história que passou afetar a construção e constituição do ser humano.
“Eu não vejo, e isso eu explorei na minha Tese de Doutorado, uma distinção de forma de ruptura entre o computador e o homem. Pelo contrário, considero dois tipos de mentes: existem processos mentais no computador assim como existe a mente humana. A questão é que, a mente que existe no computador é de uma outra natureza, não é tão plástica como a mente humana. Então, acredito que os dois são interligados semioticamente, no sentido que eles trocam constantemente signos, símbolos, índices. Agora, a questão é de aceitação nesse campo específico da Arte, ter os sistemas computacionais como algo que possam auxiliar nos processos criativos”.
E não custa nada explicar que uma prática não anula a outra, não é mesmo?! Uma pintura feita com a ajuda de uma inteligência artificial não é melhor e nem pior do que uma pintada com o pincel feita pelo humano, pelo simples fato de nem tudo que é diferente necessariamente é discordante ou está em embate. São apenas processos distintos.
E, aí, o que você acha de tudo isso? Legal não é!? Mande sua opinião sobre o assunto nas nossas redes sociais… não sabe ainda onde encontrar o Oxigênio? Você pode nos seguir no Facebook (facebook.com/oxigenionoticias – tudo junto e sem acento), no Instagram (@radiooxigenio) e no Twitter (@oxigenio_news). E se gostou do tema de hoje, se quer saber mais sobre a influência da Inteligência Artificial nas relações sociais, avisa pra gente.
A produção e o roteiro e a revisão desse episódio são da Camila Cunha e Inácio de Paula. O programa foi apresentado por mim, Inácio de Paula.
A entrevista é de Inácio de Paula com gravação feita por Camila Cunha da palestra Inteligência Artificial e Criatividade. A coordenação da professora Simone Pallone, do Labjor e os trabalhos técnicos de Gustavo Campos, e Octávio Augusto, da Rádio Unicamp.
E, por último, porém não menos importante, se você acha que a inteligência artificial já realiza funções de arrepiar o cabelo… eu deixo aqui uma mensagem para que você fique pensando até nosso próximo encontro. Se a gente for traçar uma linha histórica paralela a do ser humano, tendo na outra o ponto de partida o potencial de desenvolvimento da Inteligência artificial – que ainda vai ser explorado, saiba que podemos pensar que a IA ainda não saiu do seu período Pré-histórico.
E não esquece de me contar o que você achou do programa. Deixe sua opinião ou comentário na plataforma que ouve o podcast. Até o próximo episódio!