Em 2025 o Podcast Oxigênio completa 10 anos. Nesse tempo, produzimos mais de 200 episódios, várias séries e participamos de duas semanas nacionais de ciência e tecnologia. Também abrigamos inúmeros projetos da Especialização em Jornalismo Científico do Labjor e do Programa Mídia Ciência, da FAPESP. Aos poucos, passamos a fazer parte das playlists do pessoal que gosta de podcast, que gosta de ciência e, que gosta de podcasts de ciência. Ficamos conhecidos também nos cursos de jornalismo, inclusive, sendo objeto de pesquisas acadêmicas.
Queremos continuar crescendo. Sempre. Trazendo mais colaboradores, ampliando e diversificando o nosso público e quem sabe, influenciando mais pessoas a gostarem de temas científicos. Conversando e compartilhando esses assuntos, acreditando e confiando mais na ciência. E fazendo do podcast um meio de comunicação cada vez mais popular, mais agregador e mais acessível a um público maior e mais diverso.
Para celebrar esses 10 anos, tivemos a ideia de fazer episódios em parceria com outros podcasts. Com isso pretendemos apresentar outros podcasts e levar nossas ideias para outros ouvintes de podcast.
Este projeto de 10 anos, começa com este episódio de hoje, que fizemos em parceria com o Café Com Ciência, uma iniciativa do CBioClima, com apoio da FAPESP e da UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho. Este é também um episódio especial, em homenagem ao mês das Mulheres. A entrevistada do programa é a Profa. Clarisse Palma da Silva, professora do Departamento de Biologia Vegetal da Unicamp e coordenadora de equidade, diversidade e inclusão do CBioClima.
A apresentação é de Daiane Carreira, bióloga e pesquisadora, da Gabriela Andrietta, filósofa e comunicadora e do Thiago Ribeiro, biólogo, geógrafo, doutorando em Geociências e Meio Ambiente e membro do Oxigênio, que se juntou às meninas do Café Com Ciência neste episódio que vai tratar de temas como ciência, biodiversidade e como as mudanças no clima podem afetar o nosso dia a dia. Além de um destaque para a questão da representatividade das mulheres na ciência. Prepare o seu cafezinho e venha ouvir este episódio de dupla celebração!
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Roteiro
Gabriela: Olá a todas e todos, bem-vindos ao podcast Café com Ciência, uma iniciativa do CBioClima com o apoio da Unesp e da FAPESP.
Daiane: Nós vamos falar sobre ciência, biodiversidade e como as mudanças do clima podem afetar o nosso dia a dia. Eu sou a Daiane Carreira, bióloga e pesquisadora.
Gabriela: E eu sou Gabriela Andrietta, filósofa e comunicadora.
Daiane: Prepara o seu cafezinho que nós vamos começar.
Gabriela: A nossa convidada de hoje é a professora doutora Clarice Palma da Silva. Clarice é a professora do departamento de biologia vegetal da Unicamp. É pesquisadora nas linhas de genômica e evolução das plantas neotropicais. Também é coordenadora de equidade, diversidade e inclusão do CBioClima e líder do LEEG, o Laboratório de Ecologia Evolutiva e Genômica de Plantas da Unicamp. Além dessa incrível trajetória acadêmica, a Clarice nos confessou que um dos seus hobbies é tricotar. Muito obrigada, professora, pela sua a participação.
Clarisse: Muito obrigada, Gabi. Estou muito contente de estar aqui hoje. Queria agradecer a Daiane e o Thiago também. Acho que vai ser um uma tarde muito boa.
Daiane: E hoje, gente, nós estamos realizando uma edição especial do podcast Café com Ciência em homenagem ao mês das mulheres. E além de ser uma edição especial, nós temos aqui a participação, a parceria do podcast Oxigênio com o Thiago, um dos membros do Oxigênio. Então, Thiago, seja muito bem-vindo.
Thiago: Obrigado, Daiane, Gabi, Clarice, nossos ouvintes, que tão acompanhando. É uma honra poder participar dessa edição comemorativa, em homenagem ao mês da mulher. E a gente do Oxigênio também está muito feliz de poder contribuir com essa pauta que é muito importante, né?
Thiago: Aí, aproveitando essa edição de comemorações, essa parceria é uma primeira parceria de várias que a gente vai fazer ao longo de 2025, em comemoração aos 10 anos do Oxigênio. Esse que é um podcast produzido pelo Labjor, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, que é feito em parceria com a Rádio Unicamp. Então, desde já, a gente agradece demais.
Gabriela: A gente que agradece. E nessa edição comemorativa do Dia das Mulheres, eu queria reforçar que no CBioClima, a maioria das integrantes são mulheres, pesquisadoras, doutorandas, pós-doutorandas, mestras. Então, eu queria te perguntar, professora Clarice, como você vê o papel das mulheres na ciência hoje?
Clarisse: Bom, eu acho que essa é uma pergunta bastante relevante, né? Bastante importante, ainda mais se a gente pensar no dia comemorativo do Dia das Mulheres. Mas o ponto talvez principal da gente pensar na representatividade feminina é a gente pensar de uma forma, de uma visão um pouco mais ampla, que é a diversidade na ciência como um todo, né?
Clarisse: Então a gente tem esse recorte homens e mulheres (gênero), enfim, que talvez seja um guarda-chuva maior, mas a gente não pode esquecer também que está correlacionado, né, a diversidade não só de gênero, de raça, etnia, classe, e regionalidade, quando a gente pensa em regionalidade tanto de dentro do Brasil, que é um território muito grande, né? Mas territorialidade, regionalidade, é mundial também. A gente vê diferenças em relação ao Global Sul, Global Norte, aos países desenvolvidos, não desenvolvidos, enfim.
Clarisse: Então, quando a gente pensa na representatividade da mulher, a gente pode pensar num global, de todas essas representatividades. E a importância dessa diversidade, nessa ideia mais ampla, é de que a gente precisa para a ciência, no mínimo, né, mas obviamente que para todas as áreas na ciência e na pesquisa, uma visão ampla. A diversidade amplia as soluções, ela aumenta pontos de vista e isso ajuda a resolver os problemas que a gente tem.
Clarisse: É impossível alguém pensar que vai conseguir resolver um problema com o único ponto de vista, né? Se a base [é a pluralidade] aí para a ciência. Então, esse eu acho que é o grande ponto. Eu acho que você falou bem em relação a nossa questão aqui no CBioClima. A gente tem muito orgulho, né? São poucos os centros de pesquisa da FAPESP, que são coordenados por mulheres. Como a Patrícia é a nossa coordenadora. É pouco para dizer quase nenhum, né? Acho que tem mais um ou outro, então é realmente bastante sub-representado. Mas a gente tem essa felicidade e foi pensado, né, quando a Patrícia organizou, quando ela me convidou também com essa ideia. Então a gente fica muito contente de ter essa possibilidade de levantar essa bandeira da representatividade feminina, mas junto com esses outros pontos também.
Daiane: Então, fazendo um gancho nessa questão da representatividade, recentemente a Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) fez um levantamento mostrando que mais da metade dos estudantes de pós-graduação são mulheres, mas quando nós olhamos os cargos de liderança, gestão e docência, ainda são ocupados majoritariamente por homens e, se fizermos um recorte racial, nós vamos ver que a desigualdade ela é ainda maior.
Daiane: Esse também foi um estudo que, inclusive republicado e mostrado também pelo Instituto Serrapilheira, eles viram que menos de 5% das professoras universitárias e apenas 15% das líderes no governo federal são mulheres negras. Na sua opinião, professora, quais são os principais obstáculos que têm perpetuado essa desigualdade e como essa falta de representatividade pode acabar afetando as futuras gerações de meninas, mulheres, cientistas, pesquisadoras.
Clarisse: É, eu acho que esses dados são bastante importantes, né? E eu contribuo aqui que a gente tem essa inequidade tanto a nível global, né? Então, a gente sabe que pela UNESCO aí cerca de 33% das pesquisadoras são mulheres. E se a gente pensar no nível mais local, né, a gente fez esse levantamento na Unicamp, a gente tem um uma porcentagem de 36% das docentes são mulheres. E isso é vai bem de encontro com esse dado, dentro da Unicamp a gente tem esse efeito tesoura, que é o que você relatou no governo e praticamente em todas as instâncias, né?
Clarisse: Então, a gente tem as mulheres, em algumas carreiras, a gente tem as mulheres entrando no mesmo nível que homens, algumas até mais. Algumas não, né? No STEAM, as tecnologias, matemática, engenharias, o preconceito ainda mais arraigado anteriormente ao nível de elas não entrarem, né? Mas a grande maioria entra e depois vai começar a ter os cortes, né? Por isso que a gente chama de tesoura.
Clarisse: E aí, eu poderia elencar talvez uma página inteira de obstáculos. Talvez o principal obstáculo que a gente tem que lembrar aqui é o problema histórico, né? Então a gente tem, ao longo da história, as mulheres eram cerceadas, eram definitivamente, sistematicamente excluídas dos espaços de pesquisa. Proibido! Não era assim: “Ah, não quer fazer” era proibido. Tanto a nível social, por barreiras legais, culturais, sociais – às vezes o pai não deixava –, mas às vezes a universidade não permitia entrar, simplesmente porque era mulher, né? Então isso é uma coisa muito séria. E isso faz com que a gente tenha um legado aí, e isso há muito pouco tempo atrás, menos de 100 anos atrás, a gente tem esse tipo de situação histórica que também ocorre, né? Com a questão de raça, de regionalidade.
Daiane: Que aí vai afunilando ainda mais…
Clarisse: Vai afunilando, por exemplo, na Unicamp, 5% dos docentes são pretos, né? Nem estou considerando mulheres. Aí, eu acho que se a gente pegar só as mulheres, vai dar talvez alguma coisa lá na casa do 0,001%, enfim. O que leva a esse tipo de situação é essa questão histórica, que permeia a outras situações de diversidade que não só a de gênero, mas também questões mais atuais, como por exemplo, a forma como o sistema está organizado, né?
Clarisse: Então a gente não tem um sistema que apoie a maternidade, por exemplo, né? Também não apoia a paternidade, mas a sociedade está montada de uma forma, atualmente, de que quem apoia a paternidade é a mulher que não é apoiada na maternidade. Então acaba esse é um dos problemas, né?
Clarisse: E a gente tem outras situações que também o assédio, o assédio sexual, o assédio moral, né? E aqui, quando a gente entra na palavra assédio, tanto sexual quanto moral, a gente pensa como em Inselberg. Não sei se vocês já viram essa figura, né? A gente tem os grandes assédios, que é uma violência efetiva e que acontecem também, infelizmente, né? Mas aquilo ali é só a ponta do Inselberg. A gente tem a maior parte das agressões, dos assédios, são micro e são imperceptíveis, são do dia a dia. Entendeu? O tempo inteiro, né? O tempo inteiro.
Clarisse: Eu estava pensando agora aqui, 2025, né? Não assim: “ah quando eu era jovem, quando eu estava na faculdade…”, enfim. Eu fui em um congresso agora e a gente estava sentada – eram várias brasileiras em um congresso internacional – e aí um rapaz, rapaz não, um senhor na verdade, começou a falar: “Ah, vocês são brasileiras?” – eram cinco brasileiras, né… – e a gente estava em um congresso, você conversa com as pessoas. Respondemos: “Ah, sim, né…”. Ele não perguntou com o que a gente trabalhava, nem nada. Ele falou: “Nossa, como vocês se vestem bem”. Então, assim, sabe, eu não estou ali para falar da minha vestimenta, sabe? Do que que eu estou vestindo, ou não estou vestindo. Aí nós cinco viramos e em português falamos: “Ninguém merece, né?”
Daiane: Mas ainda somos rotuladas por isso, né? Acima da nossa carreira.
Clarisse: Estamos aí, em 2025. E eram professoras, né, da minha idade, 40, 50 anos, não eram mais menininhas. Tinham até duas alunas junto, mas assim, já dava para ver que nós temos uma carreira e que talvez fossemos importantes, né, no que a gente faz. Enfim, então, eu vinha pensando sobre isso quando vinha para cá: “Gente, agora faz menos de um mês”. Entendeu?
Clarisse: Todo o dia, toda a hora a gente tem uma coisinha dessas, né? Uma dessas micro-agressões e isso é uma coisa que cerceia muito, que cansa, né? Então o homem é, gasta a sua energia, sei lá, 80% da sua energia no trabalho. A gente tem que gastar isso mais…
Daiane: … com o homem, com a família, com as crianças
Clarisse: Com as micro-agressões, entendeu? Esse é o ponto.
Gabriela: Não desanimar durante a carreira, não deixar de continuar…
Clarisse: Sim, porque é difícil, é chato.
Thiago: Aproveitando Clarisse, que você tocou na questão da maternidade, em 2021 a plataforma Lattes, que cadastra perfil, currículos, professores, acadêmicos, né, incluiu um campo para preencher o dado sobre período de licença maternidade. Isso foi uma iniciativa que surgiu de um grupo, né, uma demanda de um grupo, que mais conhecido como “Maternidade no lattes”. E por acaso você tem acompanhado esses dados? Você viu se ele tem sido levado em consideração na análise desses currículos de pesquisadoras e cientistas mães? Você pode comentar um pouquinho sobre alguns efeitos práticos dessa medida?
Clarisse: Bom, duas coisas que eu gostaria de comentar. Uma, sobre dados eu não tenho muito não. Saber se é efetivo ou não. O que eu faço por mim e por algumas pessoas que eu conheço, né? Por exemplo, o meu marido também é pesquisador, sei por que eu converso com ele, a gente leva em conta. Mas agora se realmente todas as pessoas levam em conta, é do pesquisador, né? E, também quando a gente avalia o projeto ou avalia um até uma vaga, né? Se você está como comitê de uma vaga para pesquisador ou, enfim, qualquer situação em que você está avaliando, não existe exatamente um protocolo indicando: use isso, isso, isso, isso. Existem perguntas mais gerais, enfim, né?
Clarisse: Então, eu acho muito positivo. Eu acho que que é uma forma da gente estar falando sobre o assunto, né? Então, isso é uma coisa positiva, mas se a pessoa vai realmente achar que aquilo é positivo ou achando: “Não, pô! Ela é pesquisadora e ainda tem cinco filhos? Pô, maior descoordenada! Uma pessoa não se planejou”. O que é um absurdo, porque a pessoa pode ter quantos filhos ela quiser e tiveram vontade, né? Como nós temos uma professora na Unicamp e teve oito filhos. Uma professora que já foi professora titular e, aí é óbvio que foi motivo de impressão: “Nossa!” Porque ela se deu conta, ela quis fazer aquilo, né?
Clarisse: Então, as pessoas têm o direito de ter quantos filhos quiserem a hora que quiserem. Então esse é um ponto muito importante porque a gente está dentro da carreira, né? Não só de cientista, enfim, a gente tem aquela coisa: “Se programe”. Eu acho horrível isso. Entendeu? Porque assim, eu não quero, eu quero com 15 anos ter um filho. Tudo bem, 15 anos é proibido, né? Mas com 20 anos eu quero ter um filho. Por que que eu quero só não pode? Por que que a sociedade não pode aceitar, entendeu? Que que uma mãe jovem tenha as suas atividades de mãe e as suas atividades profissionais? Porque a pessoa tem que ser ou mãe ou profissional, né? E isso é um problema muito sério.
Clarisse: Então, eu acho que de uma forma geral é bem positivo, mas sinceramente eu não sei como que algumas pessoas realmente veem isso. A gente tem casos que, inclusive, foi utilizado como [critério] negativo. “Oh, viu? Ela não produziu, porque está aí, teve filho e não conseguiu produzir”. “Viu só, não merece ganhar”. “Quem sabe no futuro ela vai melhorar”. E a gente sabe que isso é um absurdo, realmente. Não é o objetivo de incluir a licença maternidade.
Clarisse: E a outra coisa que eu acho bem interessante, é na verdade não incluir só a licença maternidade, incluir a licença paternidade também, ou pelo menos os filhos que você teve, já que a gente sabe que a licença paternidade é curta no Brasil. Não chega a ser uma licença mesmo, né? E a gente sabe que os pais também são demandados e a produção acaba caindo também mesmo para homens que têm filhos, né?
Clarisse: E uma outra coisa é a de quem cuida – os cuidadores – que a gente começou a falar muito sobre isso durante a pandemia. Eu recentemente eu dei um parecer onde a pessoa colocava que ela era o principal, o tutor né, cuidador, de um irmão totalmente dependente, sabe? Então, isso é uma coisa que a gente muitas vezes não para pensar. E o que que a gente quer como sociedade, né? Que as pessoas não cuidam umas das outras e se dediquem só ao trabalho? Isso não faz muito sentido numa sociedade justa, onde as pessoas têm uma qualidade de vida, uma saúde mental, né? E aí, a gente vê uma epidemia de problemas mentais. Por que será, né?
Clarisse: São coisas que a gente acaba tocando muito no assunto quando eu falo com as pessoas sobre equidade, diversidade, enfim. É sobre isso. É justiça e qualidade de vida e saúde mental – o mais importante.
Daiane: E que isso consiga também ser de alguma forma institucionalizado, né? Dentro dos concursos. Que tenham apoios também. Porque eu vejo que muitas colegas, por exemplo, querem ser mães, mas simplesmente não conseguem adequar essa rotina, ou porque são mães solos, ou porque tem outras configurações familiares, ou porque tem alguns problemas financeiros. Então, essa estrutura a universidade também deve abraçar, essas diferentes condições. Porque eu preciso ter onde deixar a criança, eu preciso ter uma rede de apoio. Muitas moram em outras cidades, em outros estados que não o seu de origem. Quer dizer, não tem os pais próximos ou tios, enfim, né? Então eu acho que é bem ampla ainda essa discussão.
Clarisse: Atualmente, o que acaba acontecendo é que a maternidade ela penaliza, né? Você é penalizado porque você tem um filho. Quando isso vai mudar?
Gabriela: Acho que são algumas mudanças de paradigmas que podem ajudar a diminuir a desigualdade de gênero, e além das ações estruturais de financiamento, temos também as ações cotidianas, do dia a dia, que podem ajudar a diminuir essa disparidade. São as ações recomendadas pelo manual de “Boas Práticas para a Promoção de Equidade de Gênero” da Unicamp. E eu queria te perguntar como que a gente pode incentivar nos laboratórios, no dia a dia, para que essas práticas tornem o ambiente acadêmico mais inclusivo?
Clarisse: Bom, nesse guia nós fizemos um levantamento, devo dizer que é até rápido, não foi assim tão exaustivo. Onde a gente organizou várias recomendações. A ideia é que a gente tenha recomendações tanto a nível institucional, né? Porque existem coisas que a instituição precisa fazer, que não é o indivíduo que vai mudar. Então a gente sabe que várias ações até internacionais, em relação a equidade de gênero, mostram isso. Que a gente precisa ter, na verdade, o respaldo e é o criticado top down. É da instituição para os funcionários, né? Não espera que os funcionários promovam a mudança na instituição.
Clarisse: Então, isso é uma coisa importante, a gente conseguir que as administrações nos dêem esse suporte, né? Licença à maternidade estendida. Licença à paternidade estendida. Então, agora na Unicamp a gente está batalhando por isso, para uma licença paternidade estendida de pelo menos 6 meses. Pode parecer assustador, né?
Thiago: Nossa!
Clarisse: Então, eu ouvi uma reportagem, uma entrevista da Volvo. A Volvo no Brasil, ela dá 6 meses para o homem. E aí o que que acontece? Eles ficam desesperados, porque eles acham que quando voltar não vão ter o lugar de volta. Que é tudo que a gente sente!
Daiane: Bem-vindos ao nosso clube!
Clarisse: Então é excelente para que os homens se coloquem no lugar. E muitos homens querem essa licença paternidade. Muitas mulheres, muitas vezes, também não querem a licença maternidade. Eu não vou dizer que é fácil ficar 6 meses com uma criança sozinha dentro casa, sabe? Foi um momento de muita solidão para mim, ainda mais que a minha família não era daqui de Rio Claro, né? Eu fiquei aqui em Rio Claro. Então, o Fábio estava trabalhando – meu marido trabalhava na Unicamp –, então ele passava o dia inteiro, ele nem almoçava em casa. Então foi um momento de solidão. Mas algumas mulheres podem não querer. Alguns homens podem querer. Então, deixe a pessoa decidir e o que vai trazer de prejuízo para a empresa ou mesmo para Unicamp, eu acho que tem que ser colocado no papel dentro da perspectiva de qualidade, de saúde mental, a qualidade de vida, saúde mental e rede de apoio, né, dentro desse contexto.
Gabriela: E acho assim, incentivar com que as mulheres não sejam silenciadas, até numa reunião. São pequenos comportamentos de compartilhar quando uma colega tem uma pesquisa que é reconhecida, pequenos comportamentos coletivos que podem ajudar nessa trajetória.
Clarisse: Isso, a gente colocou inclusive até alguns comportamentos, algumas coisas que os homens podem atuar. A gente sempre teve essa preocupação de trazer os homens para perto da gente, para nos apoiar. Nós não estamos contra os homens, né? Nós estamos a favor de uma sociedade mais equânime, né? Uma sociedade mais feliz.
Clarisse: Então a gente colocou ali algumas situações, por exemplo, se tem um trabalho, se você vai indicar uma pessoa, indique uma mulher, né? Você como homem, lembre-se que você tem estudantes mulheres que fazem trabalhos. Pode aparecer alguma coisa assim: “Mas é óbvio que lembra”. Não! Muitos não, muitos não lembram.
Gabriela: Tenho que cuidar, né?
Daiane: É só olhar para as bancas de defesa.
Clarisse: É isso.
Daiane: Às vezes, é um grande clube do bolinha.
Clarisse: Aí, eu fico com pena, às vezes, quando eu vejo uma moça defendendo e cinco professores homens, entendeu? Gente, não dá, entendeu? Não dá, não dá para fazer. Não dá para fazer isso.
Gabriela: É tão intimidante! A situação já é intimidante.
Clarisse: É muito intimidante, sabe? Até na questão de um rapaz e cinco professoras mulheres. Eu também não acho que isso seja uma coisa tranquila, né? Então, por que não fazer meio a meio ou alguma coisa que pareça meio a meio, né, dentro da possibilidade de cada área? Então, esse apoio dos professores homens também, os pesquisadores homens, eu acho que é bem importante também.
Daiane: Professora, você é coordenadora de equidade, diversidade e inclusão do CBioClima. Então, imagino que essas pautas estão na sua mesa já há algum tempo. Diante disso, quais iniciativas o CBioClima tem desenvolvido ou tem se proposto a pensar, a refazer, para aumentar a participação desses grupos que estão ainda sub-representados na universidade, na pesquisa?
Clarisse: Bom, a maioria é mulher, mas tem essa tesoura, esse corte, dependendo do nível, vai diminuindo o número de mulheres. Então, uma das coisas que eu acho que é importante é a gente ter esse convite de mulheres, principalmente para os níveis mais altos, de liderança, e das pesquisadoras mesmo, né? As alunas, mestrandas, doutorandas. Talvez seja mais igual, mas vai diminuindo.
Clarisse: Então, isso é uma coisa bem simples de se fazer, né? Muitas vezes até na pós-graduação, nos cursos de pós-graduação, você não precisa fazer um concurso para dar aula ou orientar num curso de pós-graduação. Você convida, é por convite. Todas as pós-graduações são por convite. Então, teoricamente, todas poderiam ser meio a meio, né? Todas, mas é uma coisa que é difícil das pessoas pensarem sobre isso até a hora de que começa a pensar: “ah, verdade! Eu não tinha pensado nisso”. Então, a gente começou a pensar isso lá na Unicamp também.
Clarisse: E aqui, o CBioClima, a gente tem pensado nisso. Uma das coisas que a gente tem feito é para a contratação das pessoas, bolsistas, enfim. A gente sempre divulga que a gente encoraja que mulheres, mães, mulheres pretas também façam a seleção. Porque, às vezes, é uma palavrinha que a pessoa já se anima. Que a pessoa já pensa: “eu acho que é para mim esse lugar”. Que você monta essa comunidade, né?
Clarisse: E outra ação, talvez um pouco mais audaciosa, que a gente tá pensando, é fazer um evento onde a gente possa falar sobre diversidade, inclusão, equidade e mudanças climáticas. E aí entra não só a parte de gênero. Gênero também. Bastante, né. Mas todas as outras grandes interseções que esse tópico vai abranger. Por exemplo, como que as comunidades originárias, quilombolas, por exemplo, trabalham, atuam, qual o conhecimento que eles têm ali.
Clarisse: Muitas vezes mulheres, né. As mulheres que trabalham na agricultura familiar têm também um conhecimento e pessoas que trabalham, né. São pesquisas que já estão atuando e esse tipo de coisa a gente está organizando para esse ano, talvez no segundo semestre.
Daniela: Ah, que bom!
Clarisse: Vai ser bem legal, é.
Thiago: Legal. Dentre essa as várias atividades, eu fiquei sabendo também que a professora Clarisse compõe um coletivo que discute, principalmente questões de gênero no contexto acadêmico e, que a nossa coordenadora a Simone Pallone, do nosso projeto do Oxigênio, também faz parte desse coletivo. Você poderia falar um pouquinho, contar quais são as principais pautas, as ações?
Clarisse: Ah, eu acho que você está falando do nosso grupo, da nossa rede, de mulheres acadêmicas da Unicamp.
Thiago: Isso!
Clarisse: Nós surgimos ali no início da pandemia, em 2021. Não, 2020. Agora a gente está sempre com esse problema de 2020… 2021. Foi 2020. E surgiu exatamente com essa ideia de professoras e pesquisadoras que se incomodam, que tem essa preocupação, esse olhar para absoluta ausência de mulheres em cargos de gestão. Por exemplo, a Unicamp nunca teve uma reitora mulher. Estamos aí em um problema muito sério.
Clarisse: Então nós, professoras e pesquisadoras, tivemos esse olhar, nos organizamos. Somos mais ou menos umas 16 ou 17, 18 talvez. A Simone faz parte do que a gente chama de conselho executivo, né, desses 18, 19. Não, 19 acho que não chegou. Somos 18. E aí, a gente organizou um grande grupo, então a gente tem um grupo aí de centenas de professoras e pesquisadoras da Unicamp que fazem parte do que a gente chama grupão. Então a gente tem um grupo de WhatsApp que vai acho que até uns 280, 300, né? Está sempre batendo ali o máximo. Então a gente tem esse grupo e tem o grupo que também faz parte, né? Tem um grande grupo de e-mails e de Instagram, enfim. E a gente faz várias atividades, várias ações, exatamente, para falar sobre o assunto. Basicamente, sobre a questão da liderança, né?
Clarisse: Então, nosso intuito agora para esse ano é organizar um programa de mentoria, né. Uma das coisas que a gente queria fazer, mas a gente primeiro fez o guia. A gente pensou que um material escrito é uma das coisas que as pessoas precisam, né? A gente até tem um glossário ali do que significa o micromachismo, man explaining, né? Essas coisas que às vezes a gente não sabe. Até equidade, equilíbrio, equidade, o que que a gente usa, não usa, enfim. Então a gente primeiro fez o guia e agora a gente tem essa ideia de fazer a mentoria nesse próximo ano.
Gabriela: Que incrível. Professora, agora a gente vai passar um pouquinho, vamos passar para um segundo grupo de perguntas sobre as suas pesquisas. Você é professora de biologia vegetal da Unicamp e queria saber quais as principais preocupações que a gente precisa ter hoje em relação às mudanças climáticas?
Clarisse: Olha, as mudanças climáticas é o termo do momento, né? Até porque a gente está vivendo essas mudanças, né? Então, acho que é uma coisa que toca muito o coração de todo mundo, porque é um problema econômico. Então acho que toca realmente não só das pessoas, mas os governos, né?
Clarisse: Então a gente tem essa preocupação pujante aqui na nossa cabeça. Então, as mudanças climáticas, pelo menos dentro do nosso grupo – do CBioClima –, a gente está tentando enxergar, entender como que todos os organismos, os humanos e os não humanos vão responder essas mudanças. E as mudanças climáticas, muitas pessoas [comentam], inclusive é o discurso dos negacionistas, elas ocorrem e sempre ocorreram na história da Terra, né? Só que o ponto é que agora essas mudanças climáticas estão muito aceleradas. E essa é a nossa dúvida, o que que vai acontecer com os humanos e os não humanos. Dentro dessa desse momento que está sendo acelerado por nossa causa, né?
Clarisse: Então, a gente ainda não sabe muito bem o que que vai acontecer. A gente tem alguns trabalhos, né? As pessoas estão pesquisando. A comunidade científica está tentando entender. O que que vai acontecer em 2050 ou talvez um pouco além. O que que vai conseguir chegar lá, o que que não vai. Então, a nossa as nossas preocupações são com o que que vai acontecer mesmo. Assim, os organismos ou vão se adaptar ou vão se adaptar ou vão ser extintos, né?
Daiane: Professora, agora falando mais especificamente sobre os seus trabalhos. Tem um estudo seu recente, do seu grupo [que foi] publicado, que vocês analisaram bromélias em diferentes altitudes de uma montanha. Então é como se vocês fossem subindo a montanha, coletando essas bromélias e vocês descobriram que elas têm algumas estratégias diferentes para lidar com essas diferenças, pequenas diferenças, na temperatura ao longo desse gradiente aí da montanha. A minha pergunta é: como que essa altitude influencia nas estratégias das plantas, especificamente desse grupo que vocês estudaram?
Clarisse: Ah, legal. Então, nesse trabalho a gente usou esse grupo de plantas, né, que são as bromélias. E a montanha aqui da floresta Atlântica, as montanhas da Serra do Mar, é como um modelo, né? Assim, vamos ver o que que acontece aqui exatamente para responder aquela pergunta que eu falei: “O que que vai acontecer? O que pode acontecer quando um organismo está submetido a diferentes temperaturas?”
Clarisse: Então a gente usa montanha já como um modelo natural, porque é uma espécie que está ocorrendo desde o nível do mar até o alto da montanha. A gente sabe que na montanha a gente tem temperaturas mais amenas, né? Todo mundo já deve ter ouvido falar de Campos do Jordão. Onde é mais fresco, né? Tem então um ar mais fresco, mais frio, enfim. E no nível do mar, geralmente as temperaturas são mais quentes, comparado com a temperatura no topo da montanha.
Clarisse: Então, nossa pergunta era assim, vamos usar então esse modelo. A gente já sabe que ela ocorre ao longo desse gradiente de temperatura, né? E vamos ver o que que acontece, como ela responde. Porque ela está ali, então ela deve ter estratégias. E o que a gente observou é que o conjunto de estratégias no nível do mar é completamente diferente da montanha. Então, basicamente é dizer que as plantas da montanha, se estivessem no nível do mar, não iriam realmente sobreviver.
Clarisse: A gente não chegou a fazer esse teste, porque é um pouco complexo para o nosso do nosso material, para as nossas espécies. É um teste bem necessário que a gente pretende fazer nos próximos anos. Mas é o que a gente espera, porque ela tem realmente essas estratégias. Em cima da montanha, ela tem que se adaptar não só ao frio, porque a gente pensa no frio obviamente, mas também ao calor. Então lá a gente viu que as plantas, elas têm uma tolerância maior, tanto ao calor extremo quanto ao frio extremo, porque a gente está no Trópico, numa região tropical. Então, mesmo no topo da montanha faz calor, né? Mesmo nos períodos de verão, pode chegar a mais de 30 e poucos graus nas regiões mais altas.
Clarisse: E no inverno também a gente pode ter frio, inclusive abaixo de zero com geada e congelamento das folhas, né? Então a planta que tem que estar ali os dois [extremos] e conseguir se adequar nessas duas variações sazonais, né? Enquanto, no nível do mar, a principal preocupação dela é o calor, basicamente. Não tão forte, porque a gente sabe que no nível do mar, o mar ele tampona, né. Então nem muito quente, nem muito frio.
Clarisse: Então ali, as plantas não são muito tolerantes nem ao calor extremo, nem ao frio extremo. Elas são pouco plásticas, nesse setor e a gente vê que as folhas delas, na verdade, tão mais preocupadas com a estratégia de não perder água. Porque como elas estão próximas do mar, o mar tem sal e o sal retira a água das plantas, né? Então assim, são situações ecológicas completamente diferentes para uma mesma espécie. Então é isso que a gente está preocupado.
Clarisse: A gente enxergou isso do ponto de vista ecológico, fisiológico, ecofisiológico, enfim. Mas a gente está preocupado também em entender quais são os genes e qual é a parte do DNA, do genoma, dessas plantas e como isso está variando ao longo do gradiente, né? Então a gente quer entender quais são os [genes] e se esses genes será que eles existem no topo da montanha e simplesmente não estão sendo expressos no nível do mar ou será que eles nem existem no nível do mar? E são genes completamente exclusivos só da montanha. Porque daí realmente ela não vai conseguir, a [planta] da montanha não vai conseguir viver no nível do mar, né?
Clarisse: Então é basicamente isso que a gente estuda atualmente no nível mais molecular, de DNA. De tentar entender quais são as rotas bioquímicas e gênicas que permitem essas diferentes adaptações ao longo da montanha.
Daiane: Ah, muito legal!
Thiago: É, de fato, mudanças climáticas, deixaram de ser previsões e se tornaram fato, né? Não é mais uma emergência, mas sim uma urgência. E é muito comum a gente observar muitos trabalhos que se utilizam de vários organismos para justamente ajustar esses modelos preditivos de cenários futuros, comparando com cenários passados. Mas e o inverso então? Aproveitando a sua resposta anterior, como essas mudanças climáticas podem estar interferindo no material genético dessas plantas? Como elas podem estar alterando essas respostas, modulando essas respostas?
Clarisse: É uma pergunta bem complexa! Bem interessante!
Thiago: De maneira geral. De maneira geral.
Clarisse: É, eu tenho a resposta bem técnica, que eu acho que ia complicar muito. Mas de uma forma geral, quando a gente tem, por exemplo, no caso a montanha, né? Vamos pensar na montanha que é um exemplo, um laboratório praticamente, que a gente consegue enxergar, né? O que faz, por exemplo, a gente ter um conjunto de genes no topo da montanha e esse conjunto de genes não está no nível do mar, né? O que que faz essa adaptação diferencial das diferentes condições, né? Então, a gente sabe que existem vários processos dentro do genoma que, às vezes, aquele gene ou aquela mudança gênica aparece numa condição e aí ela pode ser filtrada, né. Que são as adaptações. Então, a gente está tentando entender como essas adaptações surgem ali.
Clarisse: Para que as adaptações surjam numa determinada localidade específica, é necessário um certo tempo evolutivo. Então a montanha, esse nosso exemplo, essas plantas, elas estão ali daquela forma ao longo de um tempo evolutivo bem longo, né? Como as mudanças climáticas atuais que são muito rápidas vão infringir nas populações atuais? Eu não sei se a gente vai conseguir ter essas adaptações tão rápidas assim, entendeu? Talvez sim, talvez não. E aí, a gente precisa entender o quão rápido é isso. A gente sabe que é lento, né? Que não é uma coisa muito rápida.
Clarisse: Existem alguns trabalhos quando a gente pensa não só nos ecossistemas, nas comunidades, talvez mais na parte agronômica, enfim, que a gente poderia tentar selecionar alguns genes que são mais resistentes a algumas condições, produção de CO2 ou de aquecimento mesmo, de temperatura, enfim. Só que no nível de comunidade, como a gente tenta entender, o ecossistema, um bioma, né? A gente não tem muito como fazer isso, seria mais para uma produção de algum alimento ou algum melhoramento, enfim. Não sei se eu respondi.
Thiago: Sim! A gente pode dizer então que esses trabalhos seriam fundamentais para a gente poder melhorar um pouco o nosso entendimento sobre, de repente, taxas de extinção, espécies que são mais suscetíveis…
Clarisse: Isso, isso. Um exemplo agora legal que você falou da taxa de extinção. Seria assim, se a gente tem várias populações que têm diferentes conjuntos gênicos, o que a gente chama de genoma acessório, que só está ali e não está em outro lugar, né? E isso é bem diverso, então a gente tem possibilidades dessas espécies sobreviverem mais e serem menos extintas do que uma que só tem aquilo ali e não varia muito, né?
Clarisse: Aqui quando eu falo de genes acessórios, eu não sei se é muito claro porque a gente tem esse contexto agora bem recente da palavra pangenoma, não sei se vocês já ouviram falar. Mas a ideia agora é bem recente mesmo, muitos poucos anos, talvez 2, 3, 4 anos, enfim. Então, genomas se falavam muito de bactérias, de microrganismos, mas aí depois que a gente conseguiu, com essas tecnologias [desenvolvidas para] sequenciar grande parte do genoma, todo o genoma, qualquer organismo, mesmo os com o genoma gigante.
Clarisse: Então a gente começou a ver que os organismos não têm o mesmo número de genes, como a gente aprendeu na escola, né? Que você tem os genes e o que varia são os alelos. Aí você tem o alelo do olho azul, você tem o alelo do olho verde. Você tem o olho verde, né? Mas o “gene do olho”, da cor, seria o mesmo, né? Então agora a gente está vendo que os genes não são os mesmos. Existem populações humanas com quase 500 MB de diferença. Então não tem aquela quantidade de genes. Populações humanas, né?
Clarisse: E [em] plantas e animais selvagens, a gente está vendo que é gigantesca a quantidade, dessa diferença, no que a gente considera de genes core, que seria o que definiria uma espécie, o que a espécie tem em comum e os genes acessórios. Mas assim, para populações nativas é ainda bem incipiente esse estudo. A gente vê bastante para cultivares, mas a gente está vendo que é bem recente. É bem interessante assim a gente tentar ver onde estão os genes que vão nos dar essa resistência às mudanças climáticas, né? Seria muito legal.
Daiane: Bom, a conversa está muito boa, mas a gente já vai caminhando para o final e eu gostaria que você comentasse um pouquinho conosco sobre o seu laboratório, o laboratório que você coordena, que é o Laboratório de Ecologia Evolutiva e Genômica de Plantas da Unicamp. Se você puder comentar um pouquinho os principais trabalhos que vocês estão fazendo ou algum estudante que está ouvindo esse podcast e se interessou passou por mudanças climáticas, genomas e um monte de outras palavras interessantes. Que que eles fazem para entrar em contato com vocês, com o grupo.
Clarisse: Ah, legal. Bom, rapidamente então só explicando, o nosso laboratório é o Laboratório de Ecologia Evolutiva. Então a gente trabalha com evolução e ecologia, basicamente. E genômica também, né? Porque a gente gosta. Eu somente e o Fabio, gostamos bastante de genômica, mas tem vários trabalhos que não incluem só DNA. Então mesmo quem não tiver interesse com só o DNA, também não é obrigado a trabalhar com DNA, mas a gente gosta bastante da parte genômica.
Clarisse: E a gente trabalha basicamente com bromélias e orquídeas. São os nossos pontos principais com alguns exemplos de cactos, outros organismos que eventualmente aparecem, as marantáceas que a gente trabalhou da Amazônia agora. Então, nosso grupo modelo mesmo são as bromélias e as orquídeas.
Clarisse: Atualmente, o grupo do Fábio. O Fábio é meu marido, então a gente divide o laboratório, acho que isso é importante de dizer também. A gente divide a vida, o filho e o laboratório. Ele também agora tem um projeto muito legal com a Ilha de Alcatrazes, né? A gente já falou bastante sobre isso também. E o meu grupo trabalha basicamente como modelo, as bromélias, né? Apesar de ter algumas outras plantas que às vezes a gente acaba interessado como, por exemplo, as marantáceas lá da Amazônia.
Clarisse: E atualmente somos 26 pesquisadores entre alunos de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos. E se a pessoa tiver interesse, pode nos mandar e-mail, eu acho. Geralmente marcar uma reunião, acho que é a melhor opção, né. Conversar mais um pouco sobre as ideias, enfim.
Gabriela: Clarice, você tem uma trajetória incrível como mulher, pesquisadora, ativista. E para os nossos ouvintes te conhecerem um pouco mais como pessoa, queria te pedir para indicar uma dica de filme, livro, série que você tenha assistido, acompanhado ultimamente.
Clarisse: Ultimamente, eu acho que eu estou bem interessada na série Ruptura. Eu acho que me cativou exatamente para essa ideia que a série toca entre vida pessoal e vida profissional e o quanto que você consegue realmente separar a vida profissional da vida pessoal. Até, depois essa série, levei meu filho na Unicamp e fiquei andando com ele assim: “Nossa, não separo. Não separo! Não quero separar. Vamos passear”. Ele foi comigo numa reunião, ficou sentadinho, depois ficou sentadinho na minha sala. Não vou separar. Então, acho que é a dica que vai fazer todo mundo pensar sobre não separar a vida pessoal da vida profissional.
Daiane: Ah, eu adoro essa série também. Professora, eu gostaria muito de agradecer sua participação, seu tempo, disponibilidade em vir até aqui. Muito obrigada pela sua participação no podcast e, também agradecer ao Thiago, por ter topado participar conosco, o pessoal do Oxigênio também. Vou deixar um tempo de fala então para professora, se quiser se despedir, falar alguma coisa que a gente esqueceu de perguntar e depois para o Thiago também para contar para gente como que os nossos ouvintes podem encontrar o Oxigênio nas plataformas.
Clarisse: Ah, então está ótimo. Obrigada, Daiane, Gabi e Thiago. Foi ótimo, gostei muito de falar. São assuntos que a gente gosta, né? Falar sobre a vida pessoal e a vida profissional, de uma forma geral. Eu me esqueci de falar que a gente tem um Instagram também do laboratório que é @leeg.unicamp. Então, quem quiser também dar uma olhadinha, a gente coloca, geralmente, as nossas fotos de coleta. Porque a gente faz bastante coleta de campo, mas não é só, né? Tem parte do laboratório, os trabalhos publicados e a equipe também está lá para quem quiser dar uma olhada.
Daiane: Bom, ótimo. A página é?
Clarisse: É leeg, né? (Laboratório de Ecologia Evolutiva e Genômica) ponto unicamp.
Daiane: Thiago?
Thiago: Eu só tenho a agradecer o espaço que o Café com Ciência cedeu, a Gabi, a Dani, professora Clarice, toda a equipe do CBioClima. E, para quem tiver interesse, né, procurar saber mais sobre o nosso projeto, vocês encontram todos os episódios no site oxigenio.conciencia.br e, também, nas plataformas de podcast que vocês preferirem, né? A gente está no Facebook, no Instagram. É só procurar @oxigeniopodcast e se puderem seguir e acompanhar a gente, também agradecemos. Muito obrigado.
Gabriela: Essa foi uma edição especial. Dando início à nossa segunda temporada do podcast Café com Ciência. Ouça os outros episódios pelo Spotify e assista também pelo nosso canal do YouTube do CBioClima. Você pode acompanhar o CBioClima pela página cbioclima.org e pelas redes sociais @cbioclima. Muito obrigada, professora. Obrigada, Thiago, Daiane, pela participação e até mais.
Daiane: Até!
Thiago: Tchau, tchau.
Clarisse: Tchauzinho, gente.