# 171 – Adolescência – ep. 2
set 21, 2023

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Alerta de gatilho: Este episódio da série “Adolescência” trata de temas difíceis, como depressão, ansiedade, impulsividade e sentimentos ligados às relações familiares, entre eles conflitos entre pais e filhos e também como lidar com essas questões. Ao falar destes temas, a nossa expectativa é trazer ideias de como você pode superá-los.
Mas, se você estiver passando por problemas emocionais, avalie se deve ouvir este conteúdo. talvez seja preciso fazer isso na companhia de uma pessoa próxima, e se você for menor de idade, é importante que um adulto responsável por você esteja junto. Além disso, é importante lembrar que você pode buscar apoio emocional no centro de valorização da vida pelo telefone 188. Os voluntários do CVV vão te ouvir de forma totalmente sigilosa e anônima.

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No segundo episódio da série “Adolescência: como as descobertas científicas podem ajudar a quebrar preconceitos sobre essa época da vida”, Cristiane Paião (@cristiane.paiao) e Mayra Trinca conversam sobre os sentimentos da fase e sobre como a atuação de professores e educadores pode ser fundamental para ajudar a identificar padrões em alunos que precisam de apoio psicológico.

Você vai conhecer o projeto de quadrinhos #turmadaJovenilda, que está sendo desenvolvido pelo projeto Adole-sendo da Unifesp em parceria com uma escola pública da zona leste de São Paulo, a EMEF Joaquim Osório Duque Estrada. São situações do dia a dia mas, com uma pitada de Ciência e Psicologia… uma mistura que dá super certo, hein!? 

De uma forma leve e divertida, Cristiane e Mayra trazem trechos de uma roda de conversa gravada com os estudantes que criaram os personagens, dentro do projeto “Imprensa Jovem”, da Prefeitura de São Paulo.

Nesta conversa, guiada pela Cristiane e pelo professor Marcos Moreira, que coordena o projeto na escola, os adolescentes contam como se sentem em relação à tudo: à família, às mudanças do corpo e, principalmente, aos impactos trazidos pela pandemia da Covid-19, já que estavam em casa na maior parte deste tempo, tentando estudar, mas longe dos amigos e de tudo o que a escola pode significar.

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Cristiane Paião: Olá, eu sou a Cristiane Paião, e começa agora mais um episódio do Oxigênio, o podcast de jornalismo de ciência e cultura do Labjor, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.

Este é o segundo episódio – de uma série de três – em que a gente vai mergulhar em um período lindo das nossas vidas – a adolescência. Você pode ouvir a primeira parte dessa conversa no episódio #162, que está disponível no Spotify. E quem me acompanha agora, é a Mayra Trinca que, assim como eu, também é professora… e adora falar sobre tudo isso que envolve a sala de aula . Vai ser um bate papo bastante interessante hein… tá animada Mayra ?

Mayra Trinca: Estou sim Cris. Oi pessoas!! Eu sou professora há três anos e dou aulas de biologia num colégio particular aqui da minha cidade. Quando você me disse que a gente ia ter um episódio assim, para falar de psicologia, das descobertas científicas nessa área, e sobre os impactos da pandemia eu já fiquei super empolgada, porque adoro discutir sobre adolescência.

Cristiane: Ahh… que legal… bom, eu espero que todo mundo goste, que todo mundo consiga refletir também, a partir desses conteúdos que a gente tá trazendo. Porque essa é uma das nossas intenções também. Os cientistas fazem a parte deles lá nos laboratórios… pesquisam, coletam dados, analisam, e nós, aqui no podcast oxigênio, a gente tenta trazer para você, ouvinte, essas reflexões… Então, é isso… vamos começar? Mayra… eu escolhi aqui, alguns trechos para mostrar pra vocês, muito legais de um bate papo que eu tive com alguns estudantes que participam do projeto “Imprensa Jovem” da Prefeitura de São Paulo. E que eu tive a grande oportunidade de participar de algumas reuniões durante o projeto Adole-ser, da Unifesp.

Eu tive uma bolsa, da FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, para trabalhar na área da comunicação. Por isso a gente tá fazendo esse podcast sobre esse assunto – a adolescência… E foi muito legal poder acompanhar o “Imprensa Jovem”, esses bate papos deles, e eu queria mostrar para vocês um pouquinho disso, de como eles lidam com esse ser “um jovem repórter”, um “jovem comunicador”.

Durante a pandemia, eles criaram uma personagem… a “Jovenilda”, para contar, em histórias em quadrinhos — o dia a dia deles. Eles fizeram isso junto com o professor marcos moreira. Tudo isso aconteceu lá na escola Joaquim Osório Duque-Estrada, que fica em São Matheus, na zona leste da capital paulista. É uma escola municipal, de Ensino Fundamental.//

Mayra: Eu tô super curiosa para ouvir essa história, Cris. Você me contou que esse projeto dos quadrinhos também teve uma parceria com esse projeto Adole-sendo, da Unifesp… que a gente conheceu no primeiro episódio, aqui dessa série, né?? Como isso aconteceu? A ideia era trazer ciência de um jeito diferente – menos “adulta” digamos assim, e discutir os sentimentos, os comportamentos com a família, com a escola… contando com a ajuda da psicologia. É isso?

Cristiane: Exatamente Mayra. Primeiro, os alunos e o professor marcos criaram alguns quadrinhos para formar o primeiro gibi, o “Jovenilda confinada”. E aí,  eles inscreveram esses quadrinhos no concurso que o projeto Adole-sendo tinha feito durante a pandemia. E eles ganharam esse concurso, receberam o prêmio de destaque. Depois, o professor Marcos, e a professora Sabine Pompéia, que coordena o Adole-sendo, criaram novas histórias, mas sempre partindo do dia a dia dos estudantes, e dos resultados das pesquisas científicas…Dessas situações que a gente via a partir da sala de aula, que precisavam ser trabalhadas com a ajuda da psicologia.

E o que me impressionou muito, foi a semelhança do que eles estavam dizendo, com o que eu mesma estava sentindo. Quer ver só? Escuta esses dois trechinhos aqui…Ágatha e Álex falando.

Ágatha: “Antes das aulas, eu vivia saindo com meus amigos e tudo mais, andando de skate, e tudo mais. Voltou às aulas? Cara, eu já não tenho mais vida, entendeu? É do trabalho para a casa, e de casa para a escola, e da escola para a casa. vou dormir, o quê? Uma  hora da manhã. Porque eu tenho um problema muito sério em dormir. acordo cinco e meio da manhã, tomo meu banho. Do trabalho… Vou para o trabalho, do trabalho? Vou para a casa. da casa? Para o serviço. e isso está sendo minha rotina…”

Álex: “A adolescência é a fase que a gente mais está se descobrindo, descobrindo o mundo. E é a fase onde mais cobram a gente”. 

Cristiane: Interessante, né? E aí… parece que esse peso, nunca para… que acompanha a gente até a idade adulta. Os adolescentes têm essa percepção. Foi esse papo que rolou nesse dia, em uma das nossas nossa rodas de conversa. Você também assistir esses trechos, no canal do Youtube, do projeto Adole-sendo. Mas eu vou soltar outro trecho para vocês ouvirem mais, aqui no nosso podcast. Agora, quem fala, é a Micaelly.

Micaelly:  “A adolescência deveria, ela ser a fase mais aproveitada, em que a gente deveria ter o direito de poder usufruir dela, mas os nossos pais, eles agem como se a gente… Eu não sei… se é uma frustração adulta, infringida nos adolescentes, de que a gente tem que viver uma vida como a deles. Uma vida pesada. uma vida corrida. Porque se a gente não fizer isso, a gente não é… nós somos mimados, nós somos fracos, nós somos isso e aquilo. Então, adolescência deveria ser a fase mais leve da vida. A fase em que a gente deveria ter o direito de viver, não a fase em que a gente tem que correr atrás, basicamente, para no futuro, ser alguém. Porque a gente já é alguém. a nossa adolescência deveria ser um berço.”

Cristiane: Você também costuma acompanhar esse tipo de desabafo, nas suas aulas, Mayra? 

Mayra: Muito, Cris. Principalmente com a galera do terceiro ano, que tá na fase de vestibular. Eles tão sempre contando como sentem que não tão preparados pra escolher o que fazer pro resto da vida. Ainda assim, estão super cansados do ritmo puxado da escola, nessa preparação pras provas.

Cristiane: É… para a gente, que é professor, que já foi adolescente, que tem adolescente ao nosso redor, na família…. é muito importante ouvir esses relatos, entender o que eles sentem. Tem um outro trecho que me impactou muito também, porque o projeto é desenvolvido na periferia de São Paulo, e o Erick traz exatamente isso… como é ser um adolescente na periferia, e como ele se sentiu, conseguindo chegar ao Ensino Médio. Vamos ouvir. 

Erick: “Pra mim, no meu ver, eu não esperava que eu ia chegar no ensino médio. Pra mim, pela vivência que eu tenho, eu ia morrer enquadrado… De verdade. No meu ver, ia ser assim. Eu não ia chegar no ensino médio, eu não ia estar aqui, eu não ia ter lutado por tudo que eu lutei hoje. E eu ia empacar, assim, na minha mente de criança, eu ia ficar sempre na sala com as mesmas pessoas, (Ágatha: a gente não ia crescer?). É, a gente não ia crescer, no caso… a gente não ia ter essa evolução. Pra mim, eu ia sempre chegar na escola e ver essa criança… (Ágatha: eu era maior que ele… risos) Mas essa era a minha cabeça, eu nunca pensei que eu ia ultrapassar isso, que eu ia ter responsabilidades além das responsabilidades normal de casa, de limpar, ajudar… para mim, eu ia ser uma criança, não ia ter que me preocupar, ou trabalhar, mas agora caiu a ficha que não vai ser só isso.”

Mayra: Forte, né?

Cristiane: É… eles me deixam orgulhosa, e ao mesmo tempo muito impactada, todas as vezes em que essas conversas acontecem. Porque a gente vê o quanto eles são maduros!! E como você, Mayra… lida com essas questões na sua sala de aula? Você acredita que a arte, que os quadrinhos, por exemplo… que a criação de personagens como a Jovenilda, podem ajudar a aumentar esse tipo de conversa? De diálogo mais aprofundado…Porque, eu, acredito…  

Mayra: Acredito muito, a identificação com os personagens é super importante na adolescência, ajuda a perceber que tem mais gente passando pelo mesmo que você, né? E foi aí que surgiram os outros dois gibis, que foram publicados, certo? E que estão no site do projeto, de graça?

Cristiane: Isso. O segundo gibi traz sentimentos comuns, comportamentos mesmo dos adolescentes. Aqueles que a gente lembra… até os mais confusos…Como as mudanças hormonais, o ficar triste, as impulsividades, os medos… a tensão pré-menstrual das meninas… que a gente começa nessa fase, né? A aprender a lidar, a entender o que tá acontecendo com o nosso corpo, e também traz situações da sala de aula. Eles chamaram de “Jovenilda solta o verbo”. É muito legal. 

E o terceiro gibi, já traz os conflitos de relacionamento, como lidar com o outros, negociar limites. Essas questões que aparecem no dia a dia, inclusive da família… E aí os quadrinhos trazem os personagens fazendo um trabalho da escola, com a Jovenilda liderando a turma — só que os problemas vão aparecendo…E a gente vai vendo como o papel dos adultos, e deles próprios, dos estudantes, em meio à tudo isso — é bastante importante.

Mayra: Aah, mas fiquei sabendo que o rolê não foi tão pacífico assim… ((risos))

Cristiane: É… o bicho pegou, viu, teve briga!!! (( risos )) 

Mayra: Mas depois tem reconciliação?

Cristiane: Ah… eu não posso contar o final… tem que ler os quadrinhos! (risos)

Cristiane: Todo esse material, Mayra, tá disponível de graça no site do projeto Adole-sendo, www.adolesendo.info.// e vem junto com vários conteúdos — tanto pros alunos, quanto pros pais, educadores, pesquisadores — pra que todo mundo possa ler o gibi, e entender como essas situações podem ter a ajuda da ciência e da psicologia, pra melhorar conflitos, pra diminuir os preconceitos que a gente tem sobre essa fase da vida.

Mayra: E é justamente sobre preconceito que eles falaram né, Cris, nessa roda de conversa que você teve com eles lá na escola? Me mostra mais do que eles falaram então? Senão, a gente fica aqui, falando, falando, mas a estrela desse podcast, hoje… são os estudantes…

Cristiane: É verdade. Vamos. Só pra todo mundo entender, então: a Jovenilda, é uma menina negra, da periferia… estudante do nono ano do ensino fundamental. Que – como todos nós – passou por poucas e boas durante a pandemia. E foram os alunos que escolheram todas as características dessa personagem, a mãe dela é empregada doméstica…  tem várias questões sociais que eles trabalham. E vocês vão entender porque, agora, ouvindo o que eles dizem sobre isso.

Micaelly: “Eu, que sou uma pessoa que consome bastante mangá, porque a gente só vê personagens brancos né… por exemplo, até para fazer cosplay e essas coisas, é muito difícil você achar um personagem que você se identifique. Então, por exemplo, você vê novos personagens negros surgindo, que você possa, assim representar, e com mais força dentro desse tema, é bom”

Hevelyn: “E tem outra… delas ser uma personagem negra, periférica e mulher. eu vou dar um exemplo aqui, muito… Cara, ele cabe aqui… O Pantera Negra, dois, agora… ele vai ser… a Shuri vai ser pantera negra, uma mulher! Tomando o manto de representatividade. Eu acho que quando o filme saiu, eu não me lembro quem comentou tão claro assim, de que uma pessoa se sentir representada quando saiu o filme do Pantera Negra, isso é tão importante tanto no quadrinho quanto no filme, a pessoa olhar e falar ‘nossa, eu vivo isso’, sabe? é isso, eu me encaixo.”

Cristiane: Essas que você ouviu são a Micaelly e a Hevelyn, legal, né? /// 

Mayra: Mas Cris, eu fiquei muito curiosa pra entender mais desse processo de criar a personagem. Você gravou isso com eles, né? Vamos rodar esses trechinhos?  

Cristiane: Gravei sim, vamos começar com a criação da personagem. Nesse trecho, alguns alunos conversam com o professor marcos, relembrando esse momento do grupo. Olha que legal essa fala do Allan.

Allan: “A Jovenilda é um trabalho completamente colaborativo. todo mundo ajudou de alguma forma, seja na escrita, seja na personagem em si, seja no design, seja na arte, seja em tudo. E eu acho que usar ela como essa forma de fala, para a gente, é algo muito importante. e ela não só fala, tipo, nas estórias dela. Só da gente estar mostrando nossas artes para o público, já é um modo de a gente se expressar, só das palavras que são transcritas , das nossas experiências naquele quadrinho, já é algo que expressa, basicamente, o que cada um desse projeto pinta. O design da personagem, em si, é baseado, basicamente, em duas integrantes do grupo, a Hévelyn e a Álex.”

Jamilly e professor Marcos: “A gente foi fazendo um mix da personalidade de todos, né? que a gente foi colocando de cada um…

Marcos: “É… e o visual tinha sido inspirado em vocês, né?”

Jamilly: “é…”

Marcos: “Pega a Hévelyn e mistura com a Álex… e a gente faz um mix aí, e vira a Jovenilda. então tudo na hora de desenhar, como que vai ser? vai ser assim? vai ter cabelo assim, assado? eu fui fazendo o rascunho, mostrei para vocês, depois vocês todos apareceram com o desenho dela, né? e é legal também essa questão da interpretação da jovenilda, no caso dos desenhistas, né?”

Jamilly: “Não só ela, mas todos os amigos dela, representam um pouquinho de cada pessoa que fez parte do projeto, e de cada estudante, tipo, de todo lugar.”

Mayra: Que legal!! Todo esse processo foi muito divertido, e pedagogicamente, muito importante também, né Cris? Quantos alunos participaram da criação da Jovenilda? Isso era uma coisa que eu tava querendo te perguntar, desde que a gente começou a gravar aqui, o episódio de hoje…

Cristiane: Foi um grupo pequeno, porque eles estavam em plena pandemia. Entre 10 e 15 alunos. E esse era um projeto de contraturno, então não eram todos os alunos que participavam. Mas cada um ajudou de um jeito. E como nem todo mundo sabia desenhar, alguns criaram o roteiro, outros desenvolveram características das personagens. Foram várias formas de participação. Foi um projeto colaborativo. Agora, com a volta das aulas presenciais, o projeto tá sendo retomado, e tá todo mundo super empolgado pra recomeçar. Esse grupo, inicial, já saiu da escola – porque a Joaquim Osório é de Ensino Fundamental, então, foram fazer o ensino médio em outro lugar. agora, em 2023, vão ser novos alunos, portanto, tem muitas histórias novas por aí.

Agora…eu gravei um trechinho em que eles explicam uma outra coisa legal: porque eles decidiram que Jovenilda tinha que ser jornalista. Porque, pra gente, que é da área, isso é interessante, né? Ela podia ser médica, engenheira, podia ter várias outras profissões. Tá a fim de ouvir? 

Mayra: Claro… bora ouvir. É a Hevelyn e a Jamilly que vão contar, né… tô curiosa.

Hevelyn: “A gente escolheu a Jovenilda como jornalista, por conta do projeto que o professor Marcos iniciou na escola, de Imprensa Jovem. e, no começo, ‘vamos fazer?’, ‘vamos fazer’. E a gente sempre ia. ‘Ah, vamos cobrir?’, ‘vamos’. Então, a gente resolveu trazer isso, e como que a galera trabalha nisso, como que interage. A gente não tinha muito recurso. por exemplo, uma câmera, um celular. O microfone, também era o celular. Então, a gente tinha uma certa dificuldade, mas conseguia fazer, conseguia desenvolver do nosso jeito. E o professor marcos, sempre ensinando, tipo, dando auxílio.”

Jamilly: “E mostrar que o lugar que a gente mora, nos quadrinhos, eu acho que foi uma coisa muito incrível, justamente por causa disso, para mostrar que todo mundo tem voz e precisa ser visto, né? e o lugar onde a gente veio é importante para a nossa formação, e para a formação de quem a gente é.”   

Mayra: Que legal, adorei. E o professor marcos tem um projeto bem estruturado, que outros professores também podem se inspirar, e replicar… pra trabalhar histórias em quadrinhos com os seus alunos, criar mais personagens, a partir das suas  próprias realidades. É isso, Cris?

Cristiane: É isso mesmo. São projetos diferentes. A personagem “Jovenilda”, o professor marcos vai continuar desenvolvendo. Ele faz oficinas, na rede pública de São Paulo, pra ensinar outros professores a desenvolverem esse trabalho também. O que ele fez – dentro do projeto Adole-sendo, da Unifesp – foi desenvolver uma parceria, e criar roteiros com foco em ciência, a partir das pesquisas das pesquisas em psicologia. Ele me explicou como foi, em uma das nossas entrevistas. Ele cita a professora Sabine Pompeia, coordenadora do projeto Adole-sendo. 

Marcos: “Por exemplo, a Sabine, ela tem uma uma lista de temas baseado nas pesquisas que ela desenvolveu. Então, ela me passa essa lista de temas, e ela diz para mim assim ‘o adolescente se comporta assim por causa disso’, e aí baseado nesse comportamento que ela quer que eu trabalhe, eu crio um enredo. E esse enredo, muitas vezes, eu trago a própria experiência dos alunos, porque como a gente trabalha em sala de aula, a gente não só passa a matéria né… Eu sou professor de língua portuguesa, então eu não só ensino gramática e cultura e interpretação de texto, eu convivo com adolescentes! Então a gente acaba vendo os comportamentos deles em sala de aula, ou até mesmo em conversas informais com os adolescentes, e a gente começa a compreender como que é esse universo, o que eles passam, o que eles pensam, o que eles sentem, quais os problemas que eles têm. Então, eu trouxe isso pegando o tema que a Sabine me passou, criando um enredo, com base na experiência que eu vejo que os adolescentes têm.”

Cristiane: Agora deu pra entender um pouco melhor Mayra?

Mayra: Deu, deu sim Cris. E como eles se sentiram, ganhando, esse prêmio, aparecendo como destaque, em uma universidade?

Cristiane: Hummm… eu perguntei isso pra eles também. Vamos ouvir o que eles disseram. O primeiro a responder é o professor Marcos, e na sequência, a gente escuta o Allan, um dos estudantes.

Marcos: “A importância desse concurso foi que os alunos começaram a ver que aquele material que eles desenvolviam ali, por brincadeira, por hobby, ele poderia ser visto por outras pessoas, apreciado por outras pessoas. Então é uma emoção de um adolescente de 13 anos passar em primeiro lugar, num concurso de desenho, sobre um quadrinho. E também porque os quadrinhos eram baseados nas próprias experiências dos alunos.”

Allan: “Eu gosto muito disso, que a gente tá pegando personagens que são basicamente a gente, e isso é muito bom, e eu espero que a gente continue usando esses personagens para contar histórias reais. “

Cristiane: Justamente falando em histórias reais… teve uma fala da Ágatha na nossa roda de conversa, que eu queria muito mostrar pra vocês, porque me lembrou muito de como eu também me sentia – e ainda me sinto. Olha só.

Ágatha: “Geralmente a gente, nós adolescentes, a gente se preocupa muito com o próximo. Querendo ou não, por mais que não pareça, a gente se preocupa muito com o próximo. E muitas vezes a gente abafa o nosso sentimento para que a gente possa estar ajudando as pessoas.”

Cristiane: Por isso, eu queria apresentar pra vocês agora, a professora Sabine Pompéia, coordenadora do projeto Adole-sendo, pra explicar porque trabalhar com esses temas é tão importante, tentando trabalhar uma linguagem mais simples, clara, objetiva… e divertida, pra poder atingir os adolescentes.

Sabine Pompeia, bióloga – coordenadora do projeto Adole-sendo da Unifesp: “Oi, meu nome é Sabine, e eu sou coordenadora de um grande projeto de pesquisa que visou investigar como era o desenvolvimento normal de comportamentos na adolescência. Esse projeto começou em 2017 e, no começo de 2020, a gente tava pleno vapor, quase terminando de obter os dados dos adolescentes e das suas famílias, quando aconteceu a pandemia. Muitas famílias perderam emprego, não tinha um jeito de viver todo mundo junto, dentro de espaços muito pequenos, gerando muitos conflitos entre adolescentes, irmãos, pais, outros familiares que moravam num espaço restrito, falta de acesso à escola. E essa preocupação que a gente tinha veio de estudos que a gente leu sobre o que aconteceu com adolescentes em outras pandemias, principalmente na África.” 

Mayra: Isso é muito interessante Cris. Agora que as coisas estão mais calmas, parece que a gente tá esquecendo um pouco de como foi o começo da pandemia, mas todo mundo sofreu algum tipo de impacto nesse período.

*** notícias da pandemia // batidão com reportagens

Cristiane: Caramba… e como nós, professores, fomos impactados, né? Nós estudantes… somos estudantes também, e atuamos diretamente com eles… por isso esses quadrinhos são interessantes. Eu volto a trazer um trecho da Sabine, do projeto Adole-sendo, porque ela explica como os quadrinhos da turma Jovenilda foram pensados, por ela e pelo professor Marcos, para serem uma ferramenta. Um ponta-pé inicial, mesmo, pra puxar uma conversa… pra começar um debate… Escuta só.

Sabine: “A gente reforça muito nesses quadrinhos a importância de a gente treinar habilidades, habilidades de regular o nosso humor, de prestar atenção no outro, de conseguir prestar mais atenção. Tudo isso precisa ser treinado, mais organização. quanto mais a gente treina, especialmente nessa fase da adolescência, mais o cérebro se molda à esse treinamento e permite que essas habilidades cheguem ao máximo quando eles cheguem a ser adultos. Então a ideia desses quadrinhos era mesmo ter uma linguagem diferente para poder comunicar algumas coisas para os adolescentes, para que eles ficassem sabendo os resultados das pesquisas científicas sobre a idade deles.” 

Mayra: isso me lembra muito uma conversa que eu sempre tenho com meus alunos, que é contar pra eles como o cérebro demora muito pra se desenvolver por completo as últimas regiões podem terminar de amadurecer lá pelos vinte anos de idade. E esse é um dos fatores que faz a adolescência um período tão complexo. Só que a maioria dos adolescentes não sabe disso, e aí acabam sofrendo por perceberem que têm determinados comportamentos – como emoções muito fortes – mas não entenderem porque elas acontecem.// daí a importância de aproximar essas pesquisas do mundo deles.

*** volta trechos das reportagens – 2020, atingimos 50 mil mortos, começa o “isolamento social”, 2021, chega a fase mais crítica

Mayra: Eu sempre falo, Cris, que se a pandemia foi difícil pra nós, adultas, ela foi muito pior pros adolescentes. Principalmente porque a socialização é mega importante nessa fase. e eles acabaram perdendo muito dessa interação com outras pessoas da mesma idade.

Cristiane: Sim! E eles perderam não só os encontros, mas também eventos que funcionam como ritos de passagem e são muito importantes pra ajudar a entender as mudanças de etapas que acontecem na adolescência. 

Hevelyn: “A minha maior frustração foi não ter a formatura por causa da pandemia, porque muita gente esperou. eu falo por mim. Eu esperei muito pra me formar no nono ano, mas não rolou, não teve a formatura, a festa em si, mas eu acho que é a expectativa de você esperar alguma coisa e vir um balde de água fria desse tamanho, que foi ‘ah não, vai ser 15 dias em casa’, e se tornou quase dois anos. então tem essa frustração né…”

Marcos: “A quarentena que durou muito mais q 40 dias.”

Hevelyn: “E, muito mais que 40 dias. durou o quê? um ano e meio? foi quase dois anos né…”

Jamilly: “E a gente estava conversando sobre isso, né? O que eu acho que é a questão, tipo, de não ter tido uma formatura, eu não sei… a Hévelyn falou que está com esse, tem esse mesmo sentimento… mas a questão de não ter tido uma formatura parece que a gente não concluiu o fundamental! mas é muito doido. é muito doido, né? Porque, tipo, tem hora que eu falo ‘nossa, mas gente, já estou no terceiro ano e eu não tive formatura de nono ano’, então parece que eu não consegui encerrar o ciclo.”

Cristiane: Isso é meio triste, né? Mas a parte boa é que a adolescência também é sobre perseverança, então, por mais que perder a formatura tenha sido um grande impacto, essa galera ainda consegue focar num objetivo maior.

Jamilly: “e essa questão de universidade pra todas, de fato, pra todos, de fato, a gente de fato. durante muito tempo eu achei que, tipo, eu não via algo como a universidade, principalmente essas… quando a gente pensa ‘nossa USP, nossa Unifesp’. nossa gente, qualquer uma dessas universidades, universidade pública, universidade federal. quando a gente… Eu, de verdade, eu nunca tive isso como algo que eu conseguisse alcançar, sabe? E ver pesquisas como essa aí, ver projetos como esse, que incentiva o protagonismo estudantil mesmo, nosso protagonismo. Lugares que dão espaço pra gente falar, sabe? Porque a gente tem voz, a gente tem voz, cada um tem, tem a sua voz…” 

Mayra: Eu gostei muito desse final da fala da Jamilly, sobre a importância dos espaços de escuta e acolhimento dos adolescentes. porque é como a gente falou lá no comecinho, sobre como os adolescente não são ouvidos porque ainda não são adultos. eu tive uma professora na faculdade que dizia que a sociedade coloca os adolescentes como um “constante vir a ser”. E isso gera uma super cobrança em cima deles, porque eles precisam sempre estar se preparando pra vida adulta.

Cristiane: Agora, um outro momento, muito legal também, que eu pude acompanhar Mayra… foi quando eles receberam os gibis impressos. Escuta esse áudio, aqui. Olha esses aplausos, foi lá na escola. 

Marcos: “É a publicação da revista da Jovenilda, com as histórias que vocês produziram (aplausos)…”

Mayra: Que demais. Eles viram, pela primeira vez, os gibis?

Pela primeira vez!! Foi super emocionante pra eles. E tem essa coisa, de pegar o papel, folhear… é diferente. Quem gosta de livro, de material impresso, sabe do que a gente tá falando. Agora, pra fechar o nosso episódio de hoje… eu separei um trechinho do que a clara trouxe pra gente, em uma das nossas rodas de conversa… Porque eu acho que é o que todos nós, mesmo agora, adultos, gostaríamos de dizer pra nós mesmos… se a gente pudesse voltar no tempo, sabe? Vê o que você acha.  

Clara: “Se as coisas fossem mais leves e os adultos, os professores, ou até os outros adolescentes, não se cobrassem tanto, ou não se cobrassem uns aos outros, porque aí a gente conseguiria aproveitar mais essa fase que passa muito rápido. porque depois disso, você vira adulto e você vira adulto para o resto da vida! então, é uma fase que a gente deveria aproveitar da forma mais leve possível, e se a gente não se cobrasse tanto, ou se outras pessoas não cobrassem tanto a gente, acho que seria tudo mais leve”

Mayra: Muito linda essa frase, esse pensamento dela…

Cristiane: É, muito linda… 

E… como não dava pra não deixar de dizer aqui… todos esses quadrinhos, da turma da Jovenilda, se passaram durante o período em que os cientistas estavam concentrando todos os seus esforços, no mundo inteiro, pra criar a vacina contra a Covid-19.

Aqui no Brasil, todo mundo se lembra, é claro, como foi emocionante esse momento, em que a primeira pessoa foi vacinada no país. Por isso eu fiz questão de trazer um trechinho aqui. Como a gente chama no nosso jargão, desse sobe som, pra vocês ouvirem… puxa aí na sua memória.

(entra áudio com a reportagem da primeira pessoa vacinada no Brasil // som de aplausos)

Cristiane: É emocionante, eu me lembro como se fosse hoje, desse momento…

Mayra: Emocionante mesmo. 

Cristiane: Bom… o episódio **dois** sobre os sentimentos e comportamentos da adolescência fica por aqui, mas a gente lembra que essa é uma série – com três episódios!! E você já ouviu os dois primeiros, ainda falta mais um pra ouvir. A gente tá preparando, editando, e ele vai ser publicado em breve.

As entrevistas e a produção deste episódio foram feitas por mim, Cristiane Paião.

Mayra: A apresentação foi feita por mim Mayra Trinca e pela Cristiane Paião (@cristiane.paiao).

Cristiane: A revisão do roteiro foi feita pela Mayra Trinca. Os trabalhos técnicos são de Elisa Valderano Santos. O Oxigênio é apoiado pela SEC – Secretaria Executiva de Comunicação da Unicamp. 

Mayra: 

Todas as referências utilizadas neste episódio, e as entrevistas publicadas com os nossos convidados podem ser encontradas na nossa página na internet, www.oxigenio.comciencia.br.

Cristiane: Os episódios sobre a adolescência fazem parte do projeto “Adolescência e puberdade em pauta: divulgação jornalística das pesquisas realizadas no projeto temático “Efeito do desenvolvimento puberal na autorregulação do comportamento e suas relações com as condições de vida atual e pregressa”que eu, Cristiane Paião, desenvolvi com o apoio da FAPESP através da bolsa Mídia Ciência.

Mayra: E o projeto Adole-sendo também recebeu apoio da FAPESP, pro desenvolvimentos das suas pesquisas.

Cristiane: Gostou do programa? E das questões que nós trouxemos hoje, sobre os sentimentos e comportamentos que temos durante a puberdade e a adolescência? Então, você não pode perder o próximo episódio.

Mayra: Nós vamos continuar falando sobre o impacto da pandemia na educação, mas trazendo dados de 2023 e debatendo com especialistas como está sendo essa retomada na aprendizagem!

Cristiane: Obrigada por nos acompanhar, e até lá.

Mayra: Até lá.

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#174 – Um esqueleto incomoda muita gente

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Novas descobertas sobre evolução humana sempre ganham as notícias e circulam rapidamente. Mas o processo de aceitação de novas evidências entre os cientistas pode demorar muito. Neste episódio, Pedro Belo e Mayra Trinca falam sobre paleoantropologia, área que pesquisa a evolução humana, e mostram porque ela é cheia de controvérsias e disputas.