Adolescência é uma nova série do Oxigênio, que trata de descobertas científicas que podem ajudar a quebrar preconceitos sobre essa fase da vida.
Neste primeiro episódio, a Cristiane Paião e o Leandro Magrini falam sobre o que muda no corpo e no cérebro quando se entra na puberdade, e sobre como essas alterações fisiológicas impactam o comportamento do adolescente.
Os entrevistadas foram as professoras Sabine Pompeia e Mônica Carolina de Miranda, pesquisadoras do projeto Adole-sendo da Unifesp, além de Daniel Utsumi, doutorando em psicobiologia na Unifesp e Breno Pedroni, que faz o mestrado na Unifesp.
ROTEIRO
Cristiane Paião – Este episódio da série “adolescência” trata de temas difíceis, como depressão, ansiedade, impulsividade e sentimentos ligados às relações familiares, entre eles conflitos entre pais e filhos e também como lidar com essas questões. Ao falar destes temas, a nossa expectativa é trazer ideias de como você pode superá-los.
Mas, se você estiver passando por problemas emocionais, avalie se deve ouvir este conteúdo. Talvez seja preciso fazer isso na companhia de uma pessoa próxima, e se você for menor de idade, é importante que um adulto responsável por você esteja junto. Além disso, é importante lembrar que você pode buscar apoio emocional no centro de valorização da vida pelo telefone 188. Os voluntários do CVV vão te ouvir de forma totalmente sigilosa e anônima.
Olá, eu sou a Cristiane Paião e começa agora mais um episódio do oxigênio, o podcast de jornalismo de ciência e cultura do Labjor, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp.
Este é o primeiro – de uma série de três episódios – em que a gente vai mergulhar em um período lindo das nossas vidas – mas que também, pra algumas pessoas, pode ser um pouco conturbado… cheio de polêmicas, e de preconceitos.
É, eu tô falando da adolescência. Eu não sei que idade você tem, mas quando eu me lembro dessa época, muita coisa vem na minha cabeça, são muitas memórias boas, ruins, algumas engraçadas, outras tristes…
Leandro Magrini – Exatamente, Cris, geralmente… quando eu converso com as pessoas sobre esse período, todo mundo fala sobre como foram as mudanças no corpo, o impacto da chegada da puberdade. E justamente por ser uma fase marcante na vida de todos, é que cientistas da Unifesp – a Universidade Federal de São Paulo – se debruçaram sobre esse assunto nos últimos anos.
Eu sou Leandro Magrini e vou acompanhar a cris nessa conversa.
Cristiane – Eles fizeram parte de um projeto temático da Fapesp, que é a fundação de amparo à pesquisa do estado de são paulo e que deu os recursos pra eles estudarem tudo sobre a adolescência. Foram quase 40 pesquisadores envolvidos, de todos os níveis de formação// desde iniciação científica até pós doutorado, professores, inclusive de universidades de fora do Brasil.
Leandro – E quem vai contar essa história pra gente é a professora Sabine Pompéia, responsável pelo projeto adole-sendo. Que se escreve com um hífen entre adole e sendo.
A Sabine é do departamento de psicobiologia da Unifesp e participa da Rede Nacional de Ciência para a Educação. Ela estuda as bases biológicas do comportamento, em especial do processo de cognição – ou seja, de adquirir conhecimento.//
Sabine Pompéia – “As pesquisas que eu faço, em geral, relacionam nossos comportamentos com a forma com que o nosso corpo funciona. E aí muitas pessoas não sabem muito bem o que significa comportamentos. Elas acham que comportamento só tem a ver com a forma com que a gente age, as nossas ações. Mas na verdade, comportamentos envolvem também a forma com que a gente pensa e percebe o mundo, percebe as nossas próprias emoções. Além de questões como aprendizagem, memória, atenção, bem como a forma com que a gente age. Eu estudava essas relações de comportamento com o corpo em adultos, mas isso mudou quando os meus filhos entraram na adolescência. Aí comecei a perceber um monte de coisas que eu comecei a achar muito interessantes no comportamento deles. Por exemplo, como que crianças acordam antes dos pais, a gente sempre era acordado pelas crianças,. Mas de repente eu não conseguia mais acordar meus filhos pra irem pra aula. Eu acordava muito mais cedo que eles. Outra coisa que é comum em crianças é ter, por exemplo, muito mau humor quando estão com fome, quando estão com sono. E aí comecei a perceber muitas alterações de humor nos meus filhos, muitas vezes ao longo do dia, sem ter relação com essas coisas e com esse mal estar mais imediato. A bagunça também, gente uma bagunça no quarto, bagunça de adolescente é diferente de bagunça de criança, então fiquei super curiosa com isso, eu não estudava esse assunto. Então eu comecei a estudar um monte de trabalhos científicos para tentar entender melhor o que estava acontecendo com os meus filhos. E aí eu percebi que tinha uns buracos assim nos nossos conhecimentos que tinham bem a ver com a minha área de atuação, que é como é que as transformações do corpo dos meus filhos e que durante a adolescência poderiam estar impactando no comportamento deles.
Cristiane – Sabine, a gente pode dizer que os hormônios produzidos nessa fase influenciam o funcionamento do corpo, incluindo o cérebro, e que isso pode bagunçar os nossos comportamentos?
Sabine – essas mudanças no corpo da adolescência tem a ver com a puberdade, mas a gente costuma associar a puberdade só com as alterações físicas externas do corpo, crescimento em altura, em desenvolvimento nas meninas de mamas, Nos meninos é conhecido como bigode. Muda de voz e a gente muitas vezes esquece que a puberdade também muda o corpo por dentro.
Leandro – E é muito interessante pensar sobre isso. Porque os estudos só mostraram, recentemente, que a parte do cérebro que controla as nossas emoções – o sistema límbico – fica muito mais ativa na adolescência, e acaba gerando esses sentimentos, essas emoções mais fortes – boas e ruins.
Mas, a parte do cérebro que regula a nossa capacidade de controlar o que a gente sente – e como a gente percebe, pensa e age – que está nas regiões pré-frontais – essa parte só fica madura quando a gente completa por volta de 25 anos.
A Sabine explica algumas descobertas que ela e os colegas encontraram nas pesquisas sobre o que muda no cérebro na puberdade.
Sabine – A gente começa a produzir um monte de hormônios em quantidades muito maiores do que na infância. E também existem transformações importantes no cérebro. E é o cérebro que regula o comportamento da gente. Então eu pensei: pô, tem, ela tem lógica. Vai ver que essas alterações da puberdade no cérebro, especialmente, estão impactando a forma com com que os adolescentes agem. Então achei que valia a pena investir mais em estudar essas relações.
E aí alguém pode perguntar, mas porque é importante saber como a puberdade e as alterações da puberdade têm a ver com os comportamentos dos adolescentes? qual a importância disso? isso tem uma importância bastante grande. Crianças e adolescentes estão com o corpo em desenvolvimento. Se esse desenvolvimento não acontece direito, pode haver impactos nas crianças e nos adolescentes e também nessa fase da vida e também quando eles se tornam adultos.O corpo deles, o cérebro deles, está mais vulnerável às ações do ambiente, por exemplo. Isso pode deixar marcas que esses indivíduos vão carregar por muitos e muitos anos. Então, para a gente evitar esse tipo de impacto negativo no desenvolvimento de adolescentes, a gente precisa saber primeiro o que é normal nessa fase da vida, quais são os fatores que influenciam nesse desenvolvimento adequado. E é isso que a gente foi estudar.
Cristiane – Também participa da nossa série de podcasts sobre a adolescência a professora Mônica Carolina de Miranda, neuro psicóloga e uma das pesquisadoras do projeto adole-sendo da Unifesp. Mônica, eu achei muito interessante o que você tava me contando antes de gravar, sobre a gente não olhar – geralmente – pra adolescência, a gente como sociedade, como pesquisadores, mas também como pais, educadores… geralmente a gente olha mais pra infância e pra fase adulta. Porque será que isso acontece, e como você vê isso?
Mônica Miranda – Eu sempre estudei, como eu falei inicialmente, a infância. Mas eu coordenava um núcleo de Atendimento à criança com problemas de desenvolvimento, então, por exemplo crianças que tinham dislexia, suspeita de dislexia, e obviamente a gente também recebia adolescentes. mas as minhas pesquisas eram voltadas para a faixa etária escolar, ou seja crianças na faixa de 6 anos. ainda não tinha feito nenhuma pesquisa com adolescência, com o desenvolvimento do Adolescente. Daí então quando surgiu a ideia do projeto da professora Sabine, e ela me convidou para fazer parte justamente pela minha expertise em neuropsicologia, o meu conhecimento em neuropsicologia, e para mim foi super interessante justamente para me aprofundar mais, estudar mais, essa faixa etária e que é importante a gente pensar essa transição da infância para adolescência e como muda o comportamento. porque muda o comportamento. Às vezes até aspectos, varia a atenção, a memória. como fica o que atrapalha a atenção, que atrapalha a memória nessa fase da vida? por exemplo todas as questões de comportamento, a ansiedade, depressão, problemas que são bastante comuns. A gente vê isso dentro da psicologia e que são relacionados [a] adolescência, além de outros problemas. impulsividade. Os pais reclamam muito, ele tá muito respondão, faz as coisas sem pensar./ e aí a gente vai mostrando os estudos.
Leandro – Um ponto importante (que devemos destacar), é que a adolescência comporta muitas fases diferentes, que a gente precisa observar e analisar com cuidado. Ter 11 ou 12 anos de idade, é muito diferente de ter 18, não é ?
Mônica – Um total desconhecimento de que existem fases da adolescência . Existem fases. E é essa questão física que são os estágios da puberdade, que é o estágio puberal, desculpa. E que as pessoas não levam isso em consideração. Então do ponto de vista até das pessoas que estão na clínica, dos psicólogos, Por exemplo, quando eu levo essa informação para os psicólogos – eles “a Mônica, fala mais sobre isso”. Existe um total desconhecimento. Tratar o adolescente de 12, 13, 14, 16, da mesma forma, não. E aí quando eu tô avaliando, eu sou uma psicóloga, e eu tô avaliando essa adolescente, eu preciso ter conhecimento disso. É uma fono, é uma assistente social, é um profissional da saúde que tá avaliando se existe algum problema para esse adolescente. Se ele não souber disso, é bastante complicado, e há muito desconhecimento.”
Cristiane – E isso, pra gente traduzir, estágio puberal uma palavra difícil, na verdade é isso o começo da adolescência. Justamente o que você disse que eu achei super interessante, o pai ainda olha praquela pessoa e fala: “é uma criança, é o meu bebê, 10 aninhos”, mas não é mais um bebê. Ela tá justamente nessa transição. Ou então olha lá pro fim da adolescência que segundo a organização mundial da saúde vai até os 20 anos? E aí também é uma situação que tá nesse limiar, e ainda fala, não, é o adulto, mas aí tem dia que olha e fala: “não ainda é o meu bebê”, e aí a própria pessoa fica sem saber o que ela é. E aí ela é um adulto, ela é um bebê, ela é o que afinal de contas né? É isso que você tá querendo dizer?
Mônica – É por aí, é isso. O início dessa fase é quando eles estão começando a ter essas mudanças hormonais, crescimento de pelo, engrossamento da voz no caso dos meninos, até os 18 anos de idade que aí há um maior desenvolvimento desse corpo, em relação a esses aspectos neuroendócrinos, que aí tem aspectos hormonais e etc. E são essas diferenças de estágios que a gente fala que não vai se dar de forma igual para os adolescentes, e portanto também nessas fases você vai tendo mudanças cognitivas e comportamentais. Que aí os pais levam pra clínica e falam mas o meu filho tem algum problema? A gente fala, olha, depende. Eu tive um caso que eu pedi pras meninas analisarem em que fase da puberdade que ela estava porque elas me trouxeram que a mãe que reclamava que ela tinha 13 anos mas que parecia ter 9… aí eu falei uai, será que ela tá com atraso do início da puberdade? Mas não estava, estava no estágio normal, então percebam que isso é bem importante pra eu entender quais eram as queixas da mãe e porque a mãe tava achando que tinha algum problema com a filha em relação, a algumas questões de aprendizado. A queixa era problema de aprendizado e aí eu falei bom, primeiro vamos olhar para isso será que ela tá com atraso, aí vamos precisar do médico e por isso talvez explique uma questão ai de problema de aprendizado? Se eu tiver um atraso eu posso ter uma criança com problema de desenvolvimento, inclusive cognitivo, mas não era.
Cristiane – Bom, esse é um universo fascinante. Sem dúvida. E talvez a chave pra gente entender muitas coisas que acontecem, inclusive depois, na nossa vida adulta – como você coloca mônica – realmente pode estar não apenas na infância, mas também na adolescência.// E essa é a importância desse tipo de pesquisa, de conhecimento científico.
O que vocês descobriram então, nos últimos anos, de mais interessante, no grupo de pesquisa? o que pode ajudar a melhorar o dia a dia, a entender melhor essas relações entre os adolescentes e os adultos ?
Sabine – A gente já descobriu várias coisas e ainda tem muitas coisas a mais para descobrir ainda com os dados que a gente obteve.” (…) uma delas tem a ver com sono. adolescentes, naturalmente, logo no começo da adolescência, já têm uma tendência de dormir mais tarde, né? Assim como os adultos. E isso não é um capricho de adolescentes. Isso tem a ver com a maneira que o corpo funciona nessa fase da vida. É uma coisa biológica mesmo. Só que os adolescentes ainda precisam dormir muito mais que os adultos, mas na sociedade em geral, isso muitas vezes é impossibilitado porque eles têm que ir pra aula cedo de manhã, Então eles ficam dormindo pouco e com sono todo bagunçado durante a semana dorme pouco, fim de semana compensam esse sono perdido. E isso tudo tem algumas consequências negativas. Uma delas é que é uma tendência de acumular mais colesterol, aumentar o peso e ficar mais gordinhos, e isso depois, mais tarde na vida, pode ter os impactos negativos e causar problemas cardíacos, cardiovasculares. Outra coisa que a gente viu foi uma associação entre esse dormir bagunçado, com uma dificuldade maior de regular as nossas ações, de tomar decisões na hora que a gente está mais chateado, mais triste. Então esses adolescentes que não estão muito bem, tudo bagunçado, vão ter mais conflitos, porque quando estão chateados, talvez não irão conseguir muito regular o que eles fazem. E muitos preconceitos da sociedade geral e inclusive na comunidade científica também sobre como os adolescentes se comportam. A gente tende a achar que adolescente corre muito risco, mas a gente verifica que, na verdade, adultos jovens correm mais riscos que adolescentes. E muitas pessoas acham também que eles são preguiçosos, que eles não têm garra. E a gente viu que, ao contrário, quando eles querem alguma coisa, eles têm uma capacidade até maior que adultos de trabalhar e fazer esforço para conseguir o que eles querem.
Leandro – Isso chama muito a atenção.
Você comentou sobre o preconceito sobre a adolescência, como ela é vista por toda a sociedade, até mesmo na comunidade científica, e que isso tem consequências…, Até mesmo na condução de pesquisas sobre o tema…
Isso é importante, precisa de reflexão.
Cristiane – Sem dúvida alguma. Agora, eu fiquei curiosa pra saber mais sobre esses comportamentos, e sobre a puberdade. Que é uma etapa de muito estranhamento pra todos nós, enquanto nós estamos crescendo.
Por isso é tão legal, e relevante mesmo, contar com a ajuda da ciência pra entender o que tá acontecendo…
E por isso eu volto a perguntar para a Sabine: o que mais vocês descobriram nessas pesquisas que vocês estão desenvolvendo ?
Sabine – A gente observou também que meninas, quando entram na puberdade, ficam mais suscetíveis a problemas como tristeza e mais irritabilidade.// Isso a gente não verificou nos meninos. Então meninas também têm uma tendência maior nessa fase da vida de começar a desenvolver alguns transtornos psiquiátricos. Então a gente precisa fazer de tudo para tentar dar suporte, boas circunstâncias para os adolescentes, para que eles fiquem com um humor estável, para evitar que se depois eles desencadeie um problema mais grave, e uma delas por exemplo é deixar eles dormirem mais.
Leandro – Mônica, o que você pode destacar da sua experiência nos atendimentos, no consultório? Sobre esse assunto ?
Mônica – Quando você fala de depressão de ansiedade nas meninas eu quero relatar um caso interessante pensando nessa pandemia que aí o projeto foi assolado no meio da pandemia né No início da pandemia dar e aí mudou inclusive alguns fatores algumas perguntas que a gente fazia quando a gente pensa em pesquisa pessoal a gente se faz perguntas Então isso que é pesquisa a gente se faz perguntas os pesquisadores se fazem perguntas e aí para testar essas perguntas essas hipóteses então algumas perguntas mudaram no meio do caminho justamente por causa do início da pandemia do distanciamento social e eu quero falar de um caso interessante que aconteceu nessa questão de ansiedade depressão desses atendimentos em 20223 todos os casos de adolescentes que nós recebemos eram sobre ansiedade depressão todos e aí um dos casos Foi bastante interessante de uma menina que não tirava a máscara de jeito nenhum na escola e aí que a gente foi observar que essa questão da Baixa estima na adolescência bastante comum e se sentir feio de novo não é generalizando Tá mas pode acontecer e essa menina ela já tinha baixa estima por causa do nariz dela que ela achava feio e aí ela não tirava a máscara ela ficava usando porque com a pandemia usar máscara para ela foi ideal Então veja que coisa Foi a pandemia o que trouxe para os adolescentes se por um lado os adolescentes que tiveram problemas de ansiedade depressão vários fatores de certa forma essa menina eu queria chamar a atenção para isso eu trouxe esse caso porque me chamou muito atenção e de forma interessante para essa menina trouxe uma solução temporária Claro ela estava na psicoterapia para trabalhar essa questão da pandemia da máscara foi muito interessante a gente Observar isso então como de novo como adolescência é um ser único.
Cristiane – Tá aí, diferentes aspectos sobre a pandemia. Todos nós fomos afetados de alguma forma, e cada um à sua maneira.
A questão é que nessa fase da vida, Sabine, o cérebro ainda não tá pronto, as experiências ainda não são suficientes para lidar com as emoções.
Queria que você falasse mais sobre isso…
Sabine – Eles ficam muito vulneráveis aos preconceitos que pais, professores e outras pessoas que lidam com os adolescentes têm. Por exemplo, professores muitas vezes ficam muito bravos porque o aluno tá dormindo na aula, né? Agora tem explicação pra isso. Não é porque o cara não está nem aí com a aula. De fato, ele não consegue. A gente não consegue controlar o sono. Adolescentes precisam dormir muito ainda. Então essa é uma coisa fisiológica, né? Então, em casos como esse, é preciso chamar o adolescente de lado. Talvez conversar com os pais e tentar desenvolver uma estratégia para que ele possa dormir mais, porque, né, dormir muito pouco tem muitas consequências negativas sobre o humor, sobre também nossa capacidade de evitar infecções. Isso de falta de sono diminui o sistema imune e outras coisas que eu já mencionei, tipo o metabolismo, a tendência de ficar mais gordo, com o colesterol mais alto e tudo mais. // Pais também ficam muito bravos, os professores também com explosões, que os adolescentes têm problemas de regular o humor e isso também tem explicações, né? A gente sabe hoje que as emoções, as emoções em adolescentes são muito intensas, são muito variáveis por conta de várias coisas, incluindo alterações hormonais muito, muito bruscas. Então, ao mesmo tempo, eles, o cérebro deles ainda não está completamente maduro no que tange à capacidade de deles regularem essas emoções, então é natural que eles explodam, que eles percam o controle. // Então, na hora que isso acontece, não adianta discutir porque o sangue está fervendo, tem que esperar passar esses momentos e ter uma discussão sobre o que aconteceu e tentar desenvolver uma estratégia da próxima vez para evitar com que isso aconteça. A saída não é só ficar esperando eles, o cérebro deles maturar sozinho. A gente já treina essas habilidades, Então isso tudo precisa ser feito de uma forma legal, construtiva e com paciência.
Cristiane – Pelo que estamos vendo, estudar a adolescência significa estudar muitas coisas, muitos aspectos… Então, vamos conhecer um pouco mais sobre duas dessas pesquisas que fazem parte do projeto liderado pela Sabine?
Leandro – Vamos começar com a do Daniel Utsumi, que está fazendo doutorado em psicobiologia na Unifesp. Ele desenvolveu um jogo de computador para medir impulsividade.
Ele quer avaliar quanto tempo os adolescentes estão dispostos a esperar para ganhar pontos e dinheiro.
E a pesquisa dele tá mostrando que, na verdade… ao contrário do que os adultos dizem… eles são muito bons em esperar para conseguir os melhores resultados.
Daniel Utsumi – Meu nome é Daniel eu sou psicólogo eu sou neuropsicólogo terapeuta cognitiva e comportamental e agora eu tô fazendo o doutorado na UNIFESP no departamento de psicobiologia”
É legal explicar que a minha tese de doutorado teve o objetivo de desenvolver um joguinho computadorizado com objetivo de saber a disposição de espera de adolescentes para receber o dinheiro, recompensas materiais Ou pontos então a gente desenvolveu um software muito legal em que a pessoa precisa esperar algum tempo segundo para receber na pontuação maior depois pode ser convertido em dinheiro ou receber uma pontuação menor imediatamente tudo isso entre adolescentes sem dificuldade de aprendizado saudáveis”
Entender isso é importante porque a adolescência é um período conhecido pelo aumento da impulsividade todo mundo fala praticamente isso adolescente é impulsivo que adolescente sei lá acaba fazendo besteira por impulsividade entre esses aspectos é importante saber se eles são tolerantes a essa espera se eles conseguem esperar mas tempo para receber por uma coisa melhor por exemplo o dinheiro. Então o objetivo tava nisso em decidi entrar adolescentes que não tem dificuldade aparente de impulsividade se a gente encontra esse perfil de impulsividade mas o que a gente encontrou na verdade, ao contrário das expectativas, é que no meio da adolescência mais ou menos entre 15 e 17 anos os adolescentes esperaram mais para receber recompensas maiores ou seja foram menos impossíveis jovens adolescentes e também do que adolescentes mais velhos Então isso é muito importante para ciência e para a sociedade também primeiro para tirar o estigma e que adolescente é só impulsivo, segundo que também a gente pode tendo essas informações pode também estabelecer, desenvolver estratégias para intervenção para tratamento, acolhimento desses adolescentes em algum momento podem ter comportamentos mais impulsivos.
Leandro – Daniel, como que essa informação pode ajudar no dia a dia dos pais, dos professores, e até mesmo dos psicólogos, que trabalham com essa faixa etária ?
Daniel – Que essa impulsividade pode ser entendida também como uma habilidade para explorar o novo, o ambiente e aprender com ele então a gente parte da Infância em que a gente segue as regras dos pais chega o momento que a gente entra na adolescência e a gente precisa entrar em contato com o mundo a família o que tá dentro da família e para isso a gente precisa de um componente que a gente chama de impulsividade ou busca de sensações para aprender com o ambiente no comportamento né sugere algumas consequências negativas chegar ao ponto de falar assim tem razão mas sem essa experimentação não tem como fazer o julgamento de uma situação como um todo então eu acho que eu fiz bastante disso Talvez um pouco a mais do que esperar mas tô aqui né gente tô aqui estudando é justamente essa situação e tirando estigma de que o adolescente é um aborrecente adolescência é uma fase linda como você falou de muita vivência de muito aprendizado de muitos altos e baixos e isso faz parte eu acho que do amadurecimento, do desenvolvimento cognitivo da personalidade e isso constrói quem a gente é agora então é uma jornada fantástica fazer essa pesquisa a gente revisita e ressignifica também outras coisas que a gente tinha como definida é muito bacana”
Cristiane – Aahhh, agora a gente vai falar de uma outra pesquisa muito legal do projeto adole-sendo, que envolve o processo de cognição, de aprendizagem. E olha só, pra fazer essa pesquisa, os cientistas pediram pros adolescentes recontarem as histórias da chapeuzinho vermelho e do joão e o pé de feijão.
Até mudou a trilha aqui, ó. Suspense nesse podcast.
Quem vai explicar pra gente como foi, e o que ele descobriu de mais legal é o Breno Pedroni. Ele é formado em biologia pela Unicamp, e acabou de defender o mestrado em psicobiologia, na Unifesp.
Leandro – Pois é. Depois, que todos os voluntários da pesquisa recontaram essas duas histórias, da chapeuzinho vermelho e do joão pé de feijão… cada um do seu jeito… o Breno usou um “robô” que já existia – uma ferramenta online – pra analisar essas narrativas.
O nilc metrix – a gente vai colocar o endereço desse site certinho na página do oxigênio pra você – ele é super fácil de usar, tá de graça na internet, e foi desenvolvido pelo pessoal da USP de São Carlos.
Você copia e cola o texto que você quer analisar, e aí, é só fazer as suas reflexões, ele te dá muita coisa legal.
Cristiane – Deve ser incrível mesmo. E Breno, o que foi que vocês descobriram depois de tudo isso hein ? O que esse robô, essa ferramenta, mostrou sobre a formação da linguagem nos adolescentes, por meio das narrativas sobre a chapeuzinho vermelho ?
Breno Pedroni – A gente tinha nas escolas aplicava uma série de testes cognitivos né de materiais biológicos e o teste específico né a tarefa específica que tava voltada para o meu projeto era essa da linguagem oral. Então a gente pedir para os adolescentes contarem uma história um conto de fadas, uma história simples e é interessante essa escolha dessa tarefa dessa história porque é uma história que todo mundo conhece né todo mundo tem contato com essa história desde criança então isso garantia que essa ferramenta faz essa análise automatizada desses textos trazendo 200 métricas que dizem respeito aí a complexidade do uso das palavras uma complexidade mais lexical que vai te falar quanto substantivos existem naquele texto quanto os verbos adjetivos toda aquela coisa da gramática não só de falar quantos, mas qual a diversidade, quão diverso é aquele vocabulário e vai trazer análise métricas que vão ser respeito à qualidade sintática desse texto Então quantas orações subordinadas coordenadas quantas conjunções e também você vai ter métricas que dizem respeito à coesão então quão bem conectadas estão essas sentenças umas com as outras e aquela narrativa aquele fluxo de pensamento ele tá bem conectado ele tá desconexo tá fazendo sentido isso é interessante Porque até então tem essa ferramenta a gente tinha que fazer esse tipo de pesquisa com uma pessoa e aí você precisaria escolher quanto substantivos eu vou encontrar nesse texto eu teria que contar manualmente eu não teria essa riqueza de resultados e isso é bem bacana isso talvez tenha sido uma grande não tão grande que facilita muito esse tipo de análise como eu vou estudar o desenvolvimento da linguagem seja na adolescência na infância na terceira idade isso toma muito tempo essa ferramenta facilitou muito isso pra gente.
Cristiane – O mais legal, eu acho, que vocês trazem, é que isso não tem a ver com a condição socioeconômica por si só. Ou seja, a pesquisa mostrou que tanto estudantes de escolas públicas quanto privadas tiveram o mesmo resultado. Porque o processo de formação, de amadurecimento do cérebro, é o mesmo. É isso ?
Breno – O que muda é o quanto você viveu na sua vida e as experiências que você adquiriu a partir disso que vão contribuindo a forma como você se expressa com elaborada são suas falas o tanto de dinheiro e as consequências disso não fazem diferença porque querendo ou não a comunicação oral é uma coisa natural do ser humano que se desenvolve com o tempo e de acordo com as suas experiências isso é bacana também porque a gente pode talvez ajudar a trazer argumentos que mostrem que o nível socioeconômico não oferta nesse sentido né a expressão oral a comunicação oral isso é bacana porque também mostra para os adolescentes nesse sentido né isso que você pode usar essa ferramenta esse método de contar uma história e fazer essa análise automatizada e a partir daí tirar suas conclusões sem entender que você tá virando de viés sobre o nível socioeconômico o poder aquisitivo das famílias dos adolescentes”
Leandro – O nosso podcast de hoje tá chegando ao fim. Espero que você tenha gostado, que tenha aprendido bastante sobre esse assunto.
Mas pra fechar… o que dá pra falar do que vocês descobriram, nas pesquisas de vocês, sobre o impacto do que acontece na adolescência pra vida adulta? Acho que essa é uma boa pergunta pra fechar o nosso podcast.
Sabine – Queria chamar a atenção para uma questão que que parece um pouco anti intuitiva, mas muitos estudos mostram que a gente é regular demais e controlar demais o comportamento nessas atividades E tudo de adolescentes é contraproducente na idade adulta. Então, adolescentes que gradualmente têm a possibilidade de se tornarem mais autônomos na medida de acordo com o seu grau de maturação, se desenvolvem e se tornam adolescentes e adultos mais plenos e com uma melhor qualidade de vida e mais equilibrados também. Então, não É saída tolher demais e segurar demais os adolescentes a gente precisa. E à medida que eles vão ficando mais velhos, aumentando a chance deles assumir responsabilidades e tudo mais para que eles possam ir treinando essas habilidades, de maneira que quando eles chegarem a ser adultos, isso tudo não vem como surpresa, eles tiveram apoio enquanto estavam treinando essas habilidades de maneira q qnd precisam tomar decisões por si só sem esse apoio eles consigam fazer isso de uma forma melhor.
Cristiane – Exatamente. Muito legal a nossa conversa de hoje.
O episódio um sobre mudanças no cérebro na fase da adolescência fica por aqui, mas lembramos a você que essa é uma série – com três episódios!! E você ainda tem mais dois pra ouvir, eles vão ser publicados em breve.
Cristiane – As entrevistas e a produção deste episódio foram feitas por mim, cristiane paião.
Leandro – A apresentação foi feita por mim (@lm.leandrom) e pela Cristiane paião (@cristiane.paiao).//
Cristiane – A revisão do roteiro foi feita pela coordenadora do oxigênio, a profa. Simone Pallone, do Labjor/Unicamp./ Os trabalhos técnicos são de Octávio Augusto Fonseca, da Rádio Unicamp. E a trilha sonora e os efeitos sonoros foram produzidos pelo Nicolas Simões Martins.
Leandro – Todas as referências utilizadas neste episódio, e as entrevistas publicadas com os nossos convidados podem ser encontradas na nossa página na internet, www.oxigenio.comciencia.br.
Cristiane – Os episódios sobre a adolescência fazem parte do projeto “adolescência e puberdade em pauta: divulgação jornalística das pesquisas realizadas no projeto temático “efeito do desenvolvimento puberal na autorregulação do comportamento e suas relações com as condições de vida atual e pregressa”” que eu, cristiane paião, desenvolvi com o apoio da Fapesp através da bolsa Mídia Ciência. E o projeto adole-sendo também recebeu apoio da Fapesp, pro desenvolvimentos das suas pesquisas./
Ah, e o Nicolas também recebe apoio do Serviço de Apoio ao Estudante, da Unicamp.
Leandro – Gostou do programa? E das descobertas científicas que nós trouxemos hoje, sobre puberdade e adolescência? Então, você não pode perder o próximo episódio.
A gente vai te apresentar os quadrinhos da turma da Jovenilda, que foram feitos justamente pra trazer ciência de um jeito diferente. É uma parceria do projeto adole-sendo da Unifesp, com um professor de uma escola pública da periferia de São Paulo, o Marcos Moreira.
Cristiane – E você também vai conhecer os estudantes que criaram a personagem Jovenilda, uma menina negra, do nono ano do ensino fundamental. Que – como todos nós – passou por poucas e boas durante a pandemia. Eles vão contar tudo isso pra gente, tudo o que tem de legal em ser adolescente.// E **como a ciência** pode ajudar a melhorar esse dia a dia.
Obrigada por nos acompanhar, e até lá.//