#116 – Afinal, o que é bem-estar animal?
dez 30, 2020

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Nota da equipe de produção: Este é o último episódio do ano. Agradecemos a audiência neste 2020 e contamos com a companhia de nossos ouvintes em 2021. Agradecemos também a parceria com a Rádio Unicamp. Desejamos muita paz, saúde, realizações e muitos podcasts pra todos! 

É comum ver questões polêmicas na mídia que envolvem o bem-estar animal. Nesse cenário, as pessoas frequentemente se posicionam sobre o que deve ou não ser feito para melhorar as condições de vida dos animais mantidos sob cuidados humanos. Mas o que realmente é bem-estar animal? Quais aspectos estão envolvidos e devem ser considerados para melhorar efetivamente a qualidade de vida dos animais? Neste programa, mergulhamos na ciência por trás do bem-estar animal e quem nos ajuda nessa jornada é o médico veterinário e docente da Unesp Stelio Luna, a zootecnista e doutoranda em Zootecnia Marina da Luz, o médico veterinário e doutorando em Biotecnologia Animal Pedro Trindade e a psicóloga e adestradora Marina Bastos. 

Érica: Meu nome é Érica, sou de Minas Gerais, de Andradas. O bem-estar animal seria cuidar bem dos animais. Digo da parte da saúde deles. O que tem que ser feito para eles ficarem saudáveis, né? E também eu acho que a gente pode falar a respeito do cuidado mais emocional com o animal hoje em dia, né? Penso no meu pet, a gente cuida deles com muito carinho, porque eles nos dão isso também.

Marcel: Meu nome é Marcel Almeida, sou de Botucatu, e no meu entendimento o bem-estar animal ele vai além do simples fato de você prover alimentação e recursos básicos. É você entender a situação em que esse animal vive na natureza e prover para esse animal recursos similares, sejam do âmbito de alimentos, temperatura, umidade e condições de sobrevivência que ele possa ter um ambiente saudável e sem estresse.

Gisele: Meu nome é Gisele, sou de Campinas e pra mim o bem-estar animal são todos os bichos na natureza, inseridos onde eles já são nativos. Eu acredito que os bichos perto dos homens, eles não querem; os bichos não gostam dos humanos e não tá sendo bom pra eles não. Eles gostam de ficar na natureza, no seu habitat natural.

Plínio: Me chamo Plínio, sou de Botucatu, Estado de São Paulo, e pra mim o bem-estar animal significa um ambiente ou uma condição em que qualquer animal possa viver em total liberdade, sem interferência humana, livre de exploração e crueldade.

Carol:  O que vocês acabaram de ouvir são ‘definições’ de bem-estar animal de pessoas que, embora não trabalhem nem estudem isso, gostam muito de animais… Saúde física, boa alimentação, saúde emocional, liberdade total, viver em condições similares à natureza e estar distante dos seres humanos foram elementos trazidos nessas definições. Mas cada uma trouxe um enfoque diferente… Qual delas será que está mais próxima do que se conhece na ciência?

Vinícius: Não é difícil ver uma notícia polêmica envolvendo o bem-estar animal. São comuns os debates sobre o sofrimento dos animais utilizados na pesquisa, nos sistemas de produção, nos zoológicos ou quando são abandonados ou maltratados… Mas, embora esses temas sejam frequentes na mídia, dificilmente uma definição de bem-estar animal com embasamento científico aparece. O fato é que, em se tratando de bem-estar animal, ouve-se muito, fala-se muito, mas sabe-se pouco… 

Carol: As pessoas definem o bem-estar animal com base em seus próprios referenciais. Opinam sobre o que deveria ou não ser feito em situações que envolvem o sofrimento animal. Mas como saber o que é melhor para os animais, se eles estão bem ou não, sem antes saber de fato o que é bem-estar animal? 

Vinícius: Pra responder essas perguntas, o Oxigênio de hoje explora a ciência por trás do bem-estar animal. Eu sou o Vinícius Alves.

Carol: E eu sou a Caroline Maia. E começa agora o episódio: Afinal, o que é bem-estar animal?

Vinícius: De onde surgiu a preocupação com o bem-estar animal? Bom, o contato direto do ser humano com os animais e o estabelecimento de uma relação mais próxima com eles com certeza foi um estímulo importante nesse processo.

Carol: Nesse cenário, a domesticação em si foi fundamental para levantar questionamentos sobre o bem-estar animal, como destaca Marina da Luz, zootecnista e doutoranda em Zootecnia pela Unesp.

Marina da Luz: Um dos grandes marcos em busca do bem-estar animal foi a própria domesticação das espécies. Foi um longo trajeto, né, até os dias de hoje, mas foi o que eu acredito que impulsionou os grandes questionamentos da sociedade em geral em relação à criação dos animais; formas de criação, a ética, direitos dos animais, e assim por diante.

Vinícius: Mas, apesar da domesticação animal datar de mais de 500 mil anos, o bem-estar animal como uma área científica é ainda relativamente recente, que teve um primeiro marco importante no final da década de 50, conforme explica Pedro Trindade, médico veterinário e doutorando em Biotecnologia Animal pela Unesp. 

Pedro: Data de 1959, quando foi lançado um livro no qual os seus autores, Roussell e Burch…

Vinícius:  …William Russell e Rex Burch foram pesquisadores ingleses que trabalharam juntos em um projeto para a Federação das Universidades para o Bem-Estar Animal (UFAW). 

Pedro: …muito à frente de seu tempo, puderam incluir dentro das preocupações das técnicas experimentais, os 3 Rs da experimentação. Na tentativa de um eminente cuidado com os animais, tentando reduzir o número de animais, modificar os métodos que estavam sendo utilizados e também substituir os animais por outras formas de estudo.

Carol: Mas o bem-estar animal começou a ganhar força mesmo a partir de 1964, com a publicação do livro Animal Machines, da Ruth Harrison, que denunciou as práticas nos sistemas de produção que ignoravam o sofrimento dos animais, como comenta Pedro.

 Pedro: Esse livro escandalizou e trouxe à tona a forma como os animais eram criados no pós-guerra né, de forma bastante produtiva, intensiva e com severas consequências à qualidade de vida daqueles animais. Isso foi tão importante que no ano seguinte, em 1965, um Comitê chamado de Brambell, produziu através de divulgações e discussões científicas, as 5 Liberdades. Elas são extremamente importantes para questões legislativas porque são muito abrangentes e podem ser facilmente generalizáveis. Embora elas possam ajudar muito na questão legislativa, deixam a desejar na sua especificidade e sensibilidade para determinadas questões particulares.

Vinícius: As 5 liberdades defendem que os animais sejam capazes de levantar, deitar, virar, se limpar e esticar os membros. No final da década de 70, elas foram melhor reformuladas e oficializadas trazendo a ideia de que os animais devem estar livres de fome e sede; de desconforto; de dor, sofrimento ou doença; de medo e angústia; e também livres para expressar seu comportamento natural.

Carol: Em 1994, os fisiologistas David Mellor e Cam Reid propuseram uma expansão das 5 liberdades para os domínios nutrição, ambiente, saúde, comportamento e estados mentais do animal. Em 2015, Mellor propôs uma nova versão incluindo aspectos positivos nos domínios, ou seja, relacionados ao prazer, até então deixados de lado…

Vinícius: Os avanços teóricos sobre o tema implicaram em progressos importantes na prática, como comenta Stelio Luna, médico veterinário e docente da Unesp que pesquisa dor em animais.

Stelio: Acredito que um marco muito importante foi o trabalho da WSPA, que é a Sociedade Mundial de Proteção Animal, em fazer uma preparação de como se faz um abate humanitário bem feito. Então eles fizeram um trabalho em diversos frigoríficos nesse sentido, com vídeos demonstrativos de excelente qualidade. Um outro marco importante também foi o CONCEA – Conselho Nacional de Controle em Experimentação Animal, cuja legislação veio a partir de 2008, e a composição do CONCEA facilitou muito, justamente toda a normatização de conceitos referentes ao uso de animais em pesquisa e ensino. Talvez seja o marco mais importante do Brasil do ponto de vista regulatório.

Carol: Bom, mas o que deve ser feito então para assegurar bem-estar para os animais, considerando todos os aspectos envolvidos? Para isso, é fundamental garantir boas condições ao longo da vida dos animais. Ou seja, garantir que eles tenham uma boa qualidade de vida…

Vinícius: Pode parecer bobo, mas o conceito científico de qualidade de vida só entrou para as considerações de bem-estar animal por volta de 2010. Vamos ouvir o que o Pedro diz sobre isso:

Pedro: A qualidade de vida é um conceito que traz, a nós cientistas, uma menção de que é preciso um balanço entre aspectos positivos e negativos para se avaliar o status de bem-estar de um animal. Isso nos faz pensar que não só é importante as emoções negativas, como por exemplo, a ausência de dor, de medo, de estresse, de frio, cansaço… como também, as emoções positivas. Como, por exemplo, comportamentos de satisfação, curiosidade, interações afiliativas entre indivíduos da mesma espécie. O foco, a atenção, não pode ser exclusiva nos aspectos negativos porque um animal que esteja livre de sofrimento, de dor, angústia, estresse, cansaço… não é sinônimo ou não é indicativo de um estado de bem-estar elevado.

Carol: A qualidade de vida está em linha com a proposta de avaliar o bem-estar animal pelos 5 domínios, ou seja, ponderando coisas boas e ruins em relação à saúde, nutrição, ambiente, comportamento e estado mental na vida do animal. E esse é um conceito muito importante, como explica Stelio.

Stelio: A qualidade de vida é fundamental e nesse contexto a gente pode tanto aplicar os cinco domínios ou as cinco liberdades, que são métodos de avaliação de qualidade de vida em animais, e que deva ser extrapolado pra todos os animais, não só os animais de laboratório, animais de pesquisa, de ensino, mas também os animais de produção, que compreendem 99,99% dos animais usados pelo ser humano.

Vinícius: E, como disse Stelio, o conceito de qualidade de vida e as considerações de bem-estar animal valem para todos os animais, inclusive os animais de estimação ou pets, como lembra Marina Bastos, psicóloga que trabalha com adestramento animal.

Marina Bastos: O que eu acredito que o bem-estar vai proporcionar é uma vida que vale a pena ser vivida. Então é o pet poder expressar comportamentos que são naturais da espécie, por exemplo cavar no caso do cachorro, ou caçar no caso do gato, e que vão trazer pra ele uma qualidade de vida muito melhor, né. O bem-estar ele envolve também a  alimentação adequada pra aquele bichinho, então o que ele precisa comer de acordo com a espécie dele. Ele também vai pensar em particularidades não só da espécie, mas da raça. Pets de diferentes raças e diferentes tamanhos, eles têm necessidades diferentes também. Eles também precisam ter uma qualidade de vida emocional. E também a gente não pode esquecer da questão de saúde, então o bem-estar também vai envolver visitas ao veterinário, às vezes exames e atitudes que o tutor precisa ter pra que esse pet tenha uma saúde boa.

Carol: E em se tratando de animais de estimação, tão amados, vou dizer algo que pode surpreender nossos ouvintes. Uma coisa que pode ajudar o bem-estar desses animais é o adestramento. Não é, Marina Bastos?

Marina Bastos: Quando a gente tem uma relação que tem uma base de confiança e de comunicação clara, as relações elas são muito mais saudáveis, elas são muito mais positivas e o adestramento ele traz isso pra vida do tutor e do pet. Durante o adestramento, vão ser colocados vários desafios pra ele, desafios cognitivos, desafios de atenção, desafios físicos, que ele vai conseguir vencer à medida que ele vai se desenvolvendo e isso também vai trazendo muita autoconfiança pra esse animal. Então o adestramento também ele é um estímulo físico, um estímulo cognitivo e um estímulo emocional, pensando que vai trazer experiências positivas, experiências bacanas que vai trazer compreensão e vai integrar cada vez mais esse animalzinho na família e também na sociedade.

Vinícius: Agora, em relação aos animais de produção, a decisão sobre comer ou não comer carne, pensando no sofrimento dos animais nos sistemas de produção, muitas vezes gera dúvida… Vamos ouvir o que o Stelio pensa sobre isso:

Stelio: Se você come carne ou consome produtos lácteos, né, produtos de origem animal, a questão não é não comer ou comer, mas sim quando comer, comer ‘bicho feliz’ ou beber leite de um ‘bicho feliz’. Esse é um conceito importantíssimo. Os animais têm que ser tratados com dignidade e, se eles são mortos para nós nos alimentarmos dos mesmos, essa vida que eles tiveram tem que ser uma vida que valeu a pena ter vivido.

Carol: Além disso, nos sistemas de produção, precisamos levar em conta o que o animal gosta, ou seja, suas preferências, e do que ele precisa, mas considerar o lado do produtor também. Ele precisa enxergar os benefícios para sua produção, como destaca Marina da Luz.

Marina da Luz: A Zootecnia possui três grandes Pilares, né, que são a lucratividade, a sustentabilidade e a prevenção, que de certa forma são fatores que devem caminhar juntos. Sempre quando um zootecnista pensa em um enriquecimento ambiental que seja, isso é colocado no papel, é feito conta e é dimensionado pra realmente saber se vai trazer algum benefício não apenas para animal, porque o objetivo principal é trazer um benefício para o animal, mas tão importante quanto isso é trazer o benefício para o produtor, para o comércio no qual esse animal está inserido.

Vinícius: E falando aqui do papel do consumidor na questão do bem-estar dos animais de produção, é ele quem pode exigir cada vez mais qualidade de vida dos animais e que pode se dispor a pagar mais por alimentos provenientes de animais criados em melhores condições.

 

Carol: Mas na verdade, hoje em dia, a questão econômica está deixando de ser um problema para não melhorar o bem-estar dos animais de produção, segundo Stelio.

Stelio: Economicamente já está demonstrado para suínos que o sistema semi intensivo ou semi extensivo gera tanto lucro quanto o sistema atual que predomina. Então, a questão financeira não é uma boa desculpa. Obviamente pra produção de frangos de corte e de ovos, será um pouco mais difícil essa transição, mas é financeiramente viável.

Vinícius: Agora que já tratamos de vários aspectos que envolvem o bem-estar animal, vamos falar sobre como avaliar tudo isso na prática.

Carol: Há indicadores que foram sendo incorporados ao conceito de bem-estar animal ao longo da história dessa ciência e que permitem avaliar ao menos em parte os aspectos que falamos até aqui. Uns mais fáceis de se medir do que outros, como explica Pedro. 

Pedro: Acredito que a interação de indicadores comportamentais, fisiológicos e emocionais contribuem muito para a avaliação científica do bem-estar animal. Embora seja um pouco difícil quando pensamos a nível de sistema de produção, de sistemas de criação, você conseguir fazer mensurações fisiológicas desses animais. Pesquisas vêm sendo desenvolvidas no sentido de se fazer uma validação de indicadores que nós aqui podemos chamar de macroscópicos. Que nós podemos observar em tempo real e sem a utilização de equipamentos sofisticados. Um desses aspectos pode ser entendido por instrumentos que avaliem o estado de bem-estar através do comportamento.

Vinícius: Realmente os indicadores comportamentais parecem mais promissores. Não apenas por serem mais fáceis de observar do que indicadores fisiológicos, mas também por refletirem o próprio estado emocional dos animais, como lembra Stelio.

Stelio: Pela minha experiência, os indicadores fisiológicos, embora úteis de alguma forma, eles não permitem a avaliação em tempo real, por exemplo, quando se trata de hormônios, né, no caso especificamente o cortisol, que é o mais empregado. Na minha opinião, os indicadores mais interessantes são aqueles comportamentais que envolvem os emocionais também, porque realmente espelham toda a questão mais cognitiva dos animais, a questão psicoemotiva, de como esses animais encaram o meio ambiente, da relação deles com os animais que estão ao redor, né, por exemplo, ovinos com ovinos, bovinos com bovinos e assim por diante.

Carol: E é claro que, mesmo sendo importante considerar aspectos positivos como a expressão de comportamentos mais naturais, ou mesmo preferências e necessidades dos animais quando se fala em bem-estar, é fundamental pensar em indicadores que mostrem quando o animal não está bem. 

Vinícius: Nesse sentido, indicadores de dor, que é uma das principais causas de sofrimento animal, são importantes. Mas identificar a dor corretamente nos animais não é tão simples, não é isso Pedro? 

Pedro: A dor pode ser entendida como uma sensação complexa e de difícil mensuração. Isso se dá pela sua própria particularidade multifacetária. A primeira é a somatosensorial, ou seja, a sensação, a percepção da dor que está atrelada ao segundo pilar dessa definição – a cognição, como os animais conseguem perceber a dor. E essas duas irão ser influenciadas pelo componente emocional – aquele que mostra que as experiências prévias de um dado animal irão influenciar na expressão da dor.

Carol: E mesmo para avaliar a dor nos animais, que é tão complexa, os indicadores comportamentais são melhores e mais simples de serem usados, como comenta Stelio.

 Stelio: Para se avaliar a dor em animais é muito mais simples usar os indicadores comportamentais, porque são métodos não invasivos, às vezes nem requerem a presença do observador; podem ser analisados, por exemplo, de forma remota por meio de vídeos ou mesmo por meio de câmeras instaladas nos locais que esses animais permanecem. São indicadores mais específicos, que apresentam uma melhor confiabilidade, uma melhor validade de acordo com a literatura. Sem dúvida nenhuma os indicadores comportamentais são imbatíveis porque eles são universais; eles podem ser aplicados tanto numa situação experimental de pesquisas e também em situações clínicas. Em situações, por exemplo, de dia a dia de fazenda. Qualquer pessoa pode usar, não necessariamente precisa ser uma pessoa qualificada na área. Então, até um tutor ou mesmo um tratador poderia usar esses indicadores.

Vinícius: Estamos chegando ao fim do episódio, mas não poderíamos deixar de falar sobre mais um aspecto relacionado à qualidade de vida dos animais que muitas vezes as pessoas se esquecem: a interação com os seres humanos.

Carol: E essa interação pode fazer toda a diferença pro bem-estar dos bichos, seja nos zoológicos, na pesquisa, nas casas ou nos próprios sistemas de produção, como diz a Marina da Luz. 

Marina da Luz:  Um animal que mentalmente e fisicamente tá em bem-estar, ele tá produzindo, ele tá dando o seu melhor. Muitas vezes quando se fala em bem-estar na produção animal, se pensa em genética, seleção genética, seleção de animais que se estressem menos, por exemplo, durante o manejo, em instalações que sejam mais racionais, que facilitem a fluidez dos animais durante o manejo com menos estresse, mas acabam desconsiderando o fator do próprio homem nessas questões. 

Vinícius: Para os animais domésticos, a interação com os seres humanos fica ainda mais evidente quando se pensa a partir da perspectiva da psicologia. Afinal, os tutores de pets muitas vezes estabelecem um forte vínculo com seus bichinhos. 

Carol: Essa proximidade das pessoas com os pets às vezes reflete uma tentativa de suprir alguma carência emocional, como de um filho, por exemplo, que pode gerar uma grande pressão sobre o animal, prejudicando seu bem-estar, como comenta a Marina Bastos.

Marina Bastos: Na verdade ele não consegue preencher vazios dos humanos, né, mas muitas vezes eles são colocados nessa posição. E se o tutor não tem uma consciência disso, ele pode trazer às vezes prejuízos pra vida desse bichinho. Como, por exemplo, esse bichinho criar um hiperapego ao tutor e gerar ansiedade de separação ou outros problemas do comportamento.

 Vinícius: E é exatamente nesse cenário que a psicologia pode ajudar os tutores e os próprios pets, já que o abandono não é incomum quando os tutores se sentem insatisfeitos com seus bichinhos, conforme explica Marina Bastos.

Marina Bastos: Eu entendo que a psicologia traz uma compreensão maior, o que o tutor precisa e o que o animal precisa, e qual é o papel de cada um e o que que é melhor pra cada um. E acredito que talvez isso também ajude a diminuir o abandono. Às vezes o tutor não compreende um comportamento daquele animalzinho, ou ele entende de alguma forma que aquele animalzinho não cumpriu a função que aquele tutor tava querendo com aquele animal. E ele pode acabar sendo abandonado ou às vezes, no caso de adoção, ele pode ser devolvido pro abrigo da onde ele veio.

Carol: Além disso, o que acontece na vida do tutor também pode influenciar o pet. Quando o tutor não está psicologicamente bem, isso pode afetar a vida e, consequentemente, o bem-estar do seu bichinho, certo Marina Bastos? 

 Marina Bastos: Quando a gente tem fases ou pessoas que estão num estado mais depressivo, com síndrome do pânico ou alguma coisa assim, se ela não tiver sendo tratada ou devidamente tratada, isso pode influenciar de uma forma negativa na vida do pet, o que pode prejudicar o bem-estar dele. Porque às vezes o tutor com depressão, ele não vai conseguir sair de casa, ele não vai conseguir fazer atividades ou mesmo cuidar de um bichinho porque ele emocionalmente tá muito fragilizado.

Vinícius: Então, é evidente que pra avaliar e melhorar o bem-estar dos animais, é importante sempre considerar o elemento humano envolvido na situação. Assim, é possível entender o bem-estar animal como a Marina da Luz coloca.

Marina da Luz: O bem-estar é quando o animal está mentalmente e fisicamente bem, quando possui escolhas e estímulos dentro do seu ambiente de criação e quando ele tem também uma boa interação com o homem, por meio de práticas racionais de manejo.

Carol: Lembra das definições de bem-estar do começo do episódio? O fato é que nenhuma delas está totalmente certa ou errada. Bem-estar animal é um conceito complexo, que envolve aspectos negativos e positivos de saúde, nutrição, ambiente, comportamento e estado mental. Para melhorar o bem-estar dos animais, é importante levar tudo isso em conta.

Vinícius: O que é ainda mais importante considerando que mesmo pessoas próximas dos animais muitas vezes não sabem tudo que está envolvido no bem-estar animal. Como disse Marian Dawkins, pesquisadora renomada na área: “existe o perigo que pessoas bem intencionadas definam o bem-estar animal em termos do que elas acham que os animais querem ou que os agrada, mas se nós levamos a senciência animal à sério, devemos assegurar que a voz animal seja ouvida”.

Carol: Mesmo que não sejamos capazes de literalmente ‘ouvir a voz animal’, os avanços na área de bem-estar, como vimos neste episódio, muitas vezes têm ajudado a melhorar a qualidade de vida dos animais de forma mais objetiva.

Vinícius: E o Oxigênio vai ficando por aqui. O episódio foi apresentado por mim, Vinícius Alves, e pela Caroline Maia, que também fez as entrevistas, escolheu as trilhas e construiu o roteiro.

Carol: As trilhas são da Youtube Audio Library e a revisão do roteiro é da Simone Pallone do Labjor. Os trabalhos técnicos são meus e do Gustavo Campos e a edição é de Octávio Augusto, da Rádio Unicamp. A divulgação do programa conta com a colaboração da Helena Nogueira.

Vinícius: Você pode nos acompanhar nas redes sociais. Estamos no Facebook, (facebook.com/oxigenionoticias – tudo junto e sem acento), no Instagram (@radiooxigenio) e no Twitter (@oxigenio_news).

Carol: E você também pode deixar a sua opinião sobre este episódio e sugerir temas para os próximos programas. Basta deixar o seu comentário na plataforma de streaming que utiliza. Até a próxima!

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