#87 Temático: Uma velha nova epidemia
mar 19, 2020

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O mundo está vivendo, desde o final do ano passado, uma pandemia causada por um vírus. Um coronavírus, altamente contagioso e letal, que se espalhou pelos cinco continentes, já deixando um rastro de mortes. Em nosso dia a dia, convivemos com muitas epidemias, podemos dizer que estamos acostumados com elas, mas não devíamos.

Diferentemente desse novo coronavírus que estamos enfrentando, muitas doenças epidêmicas poderiam ser evitadas, com prevenção em relação aos hábitos comportamentais ou vacinas. Esse é o caso da sífilis, uma doença causada por uma bactéria, que esteve controlada no passado e que nos últimos anos voltou a crescer no Brasil. Para se ter uma ideia, de 2010 a 2018, a quantidade de pessoas infectadas pela doença aumentou em 75%.

É sobre a Sífilis que o Oxigênio 87 vai tratar. Uma velha conhecida que vem aterrorizando o sistema público de saúde do Brasil.

As entrevistadas foram a Edy, pessoa trans não-binária que teve sífilis e resolveu tratar abertamente do tema nas redes sociais, a sexóloga Natalia Fernandes, infectologista Ruth Khalili, da Fundação Oswaldo Cruz e a professora do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza, Maria Alix.

O programa foi produzido pelo Rafael Revadam e pelo Samuel Ribeiro. A apresentação é do Rafael e da Natália Flores, com coordenação geral da professora Simone Pallone de Figueiredo, do Labjor. O programa conta ainda com trabalhos técnicos do Gustavo Campos e do Octávio Augusto, da Rádio Unicamp, e divulgação de Samuel Ribeiro e Helena Ansani.

Músicas:

An Oddly Formal Dance.mp3

Valantis.mp3

Vienna Beat.mp3

 

Deixe um comentário contando para a gente o que achou do episódio. Você pode mandar sugestões também pelo Twitter (@oxigenio_news), Instagram (@oxigeniopodcast) e Facebook (/oxigenionoticias). Se preferir, mande um e-mail para oxigenionoticias@gmail.com.

 

Obs. Deixamos aqui nossos votos para que a pandemia de Covid-19 seja controlada o mais breve possível e que não seja tão severa no Brasil como foi em outros países. E nossa solidariedade a todos aqueles que têm sido afetados por essa terrível doença.

 

Roteiro completo

Edy: É… isso aconteceu em 2017. E aí eu fui, fiz o teste rápido e tal, e aí deu positivo. Pra mim foi tipo bem… foi bem estranho, foi bem ruim pra falar a verdade, porque… porque por mais que tenha muita informação na internet, ainda… ainda existia e ainda existe né, um senso comum que nos coloca, principalmente quando a gente vai falar de pessoas LGBT, enquanto vetor de doenças  sexualmente transmissíveis. E… e aí foi um choque pra mim por conta disso, sabe, não por conta da infecção em si, até porque eu conversei com os médicos, soube que existia um tratamento e que era um tratamento bem tranquilo, precisava fazer um acompanhamento durante um curto período de tempo e tal. Isso até que me aliviou um pouco, mas era mais pela condição social em que as pessoas enxergam, e como as pessoas enxergavam o meu corpo. 

Natália: EPIDEMIA. Este é o termo que especialistas usam ao falar da sífilis no Brasil.

Rafael: De acordo com dados do Ministério da Saúde, 18 novos casos de sífilis surgem a cada hora. De 2010 a 2018, a quantidade de pessoas infectadas pela doença aumentou em 75%.

Natália: Mas como uma doença que tá aqui faz séculos ainda segue em alta nos dias de hoje? Para pesquisadores, enquanto falar de sexo ainda for um tabu, doenças que envolvem seu universo continuarão presentes.

Rafael: Porque, na realidade, a sífilis é um problema sério, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. E como qualquer problema de saúde, só dá pra pensar nela se a gente conversar de forma aberta e sem preconceitos.

Natália: E no episódio de hoje, a gente vai fazer exatamente isso. Eu sou Natália Flores.

Rafael: E eu sou o Rafael Revadam, e este é o Oxigênio!

Natália: A gente tá vivendo uma epidemia de sífilis. Todo ano o Ministério da Saúde solta um boletim com os dados da doença, e no último boletim os números dispararam. 

Rafael: De 2017 a 2018, a detecção de casos de sífilis adquirida, que é aquela que a gente pega durante a relação sexual, aumentou mais de 20%. 

Natália: E cresceram também os casos em gestantes e os casos de sífilis congênita, que é quando a mãe transmite a doença para o bebê durante a gestação ou parto.

Rafael: Você pode pensar que este é um problema de prevenção, por que as pessoas simplesmente não usam camisinha? Mas a questão é mais além: nós não temos o hábito de falar sobre sexo, e isso afeta a nossa saúde. É o que explica a sexóloga Natalia Fernandes. 

Natalia Fernandes: A gente vem de uma sociedade muito repressora. Eu fui estudar sexualidade, eu tinha 34 anos. Eu tô com 38 hoje. Eu não lembro nunca dos meus pais terem me ensinado que eu tinha que aprender determinadas prevenções por causa de doenças. Na minha casa, eles falavam muito de prevenção por causa de gravidez. E isso não mudou muita coisa, a nossa família mesmo não tem esse papo aberto com o adolescente. O pai, a mãe, eu acho que a falta da educação sexual, mas também a falta desse convívio familiar, de orientar exatamente o adolescente como que é essa sexualidade, e não o sexo em si.  Fazer sexo é uma coisa, sexualidade é outra. E a gente vê que os pais meio que não têm abertura com isso. Hoje eu tenho paciente que vêm no consultório para aprender a falar Olha, eu to preocupada porque eu percebi que o meu filho está entrando com a namorada em casa, não sei se eles estão usando preservativo, como eu devo abordar? O que eu tenho que falar? Ainda são poucos, as mulheres, as mães, que querem ter essa liberdade de conversa com os filhos.

Natália: Para Natalia, a falta de informações sobre a sífilis está em diversos lugares. Nas conversas em família, nas escolas e na visão da sociedade em geral, que compra a ideia do uso da camisinha apenas para a prevenção da gravidez.

Natalia Fernandes: Se a gente for considerar de 2016, 2017, eram números considerados razoáveis. Dos 100.000 habitantes, por exemplo, 1.700 tinham sífilis. Hoje não, é um número que cresceu muitos porcentos. Eu acho que a sexualidade da adolescência está sendo algo mais prejudicial. A sífilis é uma doença hoje que, ela pesa muito dos 18 aos 38 anos. Então, considerando que a vida sexual do adolescente está iniciando nos 12 anos de idade, então eu tenho a convicção que esta falta de prevenção têm contribuído muito. Para os adolescentes está faltando educação sexual. Algo que deveria estar nas cartilhas de escola EJA [Programa de Educação de Jovens e Adultos], algo que deveria partir, às vezes, da própria família, de instruir mais. Passou daquela coisa da pessoa ficar somente preocupada com preservativo porque está prevenindo gravidez, a pessoa tem que entender que estas ISTs, infecções sexualmente transmissíveis, elas são ruins.

Edy: Porque… uma parte de mim queria esconder isso né, porque eu não queria que as pessoas soubessem que eu tinha… é… que eu tinha uma infecção sexualmente transmissível, só que uma outra parte de mim também pensava que eu precisava falar sobre isso, afinal de contas não é nenhuma coisa de outro mundo, sabe… é uma coisa normal que as pessoas estão sujeitas a passar, e eu achei que eu deveria falar sobre isso.

Natália: Essa que tá falando é a Edy. A gente conheceu ela porque encontrou um texto que ela publicou em 2017, quando foi diagnosticada com sífilis. O texto era mais que um desabafo. O que a Edy queria era dividir a sua experiência e falar abertamente de um assunto que é cercado de tabus, mas não devia ser.

Edy: Quando a gente contrai, né, essas infecções, a gente acaba virando a própria doença. E era isso que eu sentia, sabe? Que eu não tinha contraído sífilis, que naquele momento, ainda mais porque eu tinha feito a exposição e tal, eu era a doença. Eu era a doença andando, sabe? Pronta pra tipo infectar outras pessoas. E… e foi um pouco… foi um pouco, tipo, delicado desconstruir isso sabe? Então, é um processo diário de tentar não fazer parte disso, sabe? De tentar entender que o meu corpo é um corpo igual todos os outros corpos, eu não preciso fazer disso tudo aquilo que eu sou, sabe? Como se eu fosse só isso. Como se eu fosse só vetor. Só um vetor de doença. Não, não sou. 

Rafael: A ignorância sobre a sífilis é acompanhada por outro cenário, o preconceito. Estar doente, na nossa sociedade, é um motivo de culpa.

Natália: E mesmo que a Edy quisesse falar sobre isso, o seu post também atraiu mais reações negativas.

Edy: Então, tiveram reações muito positivas, mas também tiveram reações negativas, né. Eu lembro que por exemplo teve… teve um menino, que eu fiquei com esse menino, e aí logo depois eu soube da… sobre a sífilis né, e a gente só beijou né, a gente só deu um beijo. E aí esse menino tipo assim ele ficou apavorado, apavorado assim, veio conversar comigo de uma maneira muito me colocando… me colocando nessa posição de vetor de doença mesmo, sabe? E isso me chocou um pouco. Porque por mais que eu esperasse que isso pudesse acontecer, é isso, veio de uma pessoa que tinha acesso ao debate, veio de uma pessoa que tinha… como evitar essa situação, mas por conta desse tabu criado em cima da sífilis, ele veio me culpabilizar.

Rafael: Infelizmente, é muito comum que pacientes de sífilis se sintam acusados e culpados pela doença. Como diz a professora do programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza, Maria Alix, o preconceito é mais presente na sociedade do que o acolhimento.

Maria Alix:  Ainda existe muito preconceito em relação às infecções sexualmente transmissíveis, as pessoas ainda são muito culpabilizadas pelo fato de ter adquirido uma dessas infecções. Então a gente precisa é… é mostrar pra população a importância da prevenção, mas o acolhimento àquelas pessoas que vivenciam determinadas situações que envolvem por exemplo a transmissão de uma infecção sexualmente transmissíveis. A gente há deparado muitas vezes por exemplo com casais que enfrentam dificuldade no relacionamento, porque acreditam né, alguns deles, que as IST estão relacionadas à infidelidade, então tem muito estigma ainda em cima dessa questão das IST. E aí a gente precisa trabalhar a população pra acabar com essa questão do preconceito, preconceito não ajuda a prevenir. O que ajuda a prevenir é que as pessoas sejam bem orientadas, que as pessoas tenham suas dúvidas efetivamente esclarecidas, pra que elas possam tomar decisões responsáveis na vida.

Natália: Mas afinal, o que é a sífilis? É o que nós perguntamos para a infectologista Ruth Khalili, da Fundação Oswaldo Cruz.

Ruth Khalili: A sífilis, ela é uma doença transmitida através do sexo. É uma doença causada por uma bactéria, que se chama treponema. Podemos adquirir no sexo oral, no sexo vaginal, no sexo anal, mesmo quando não acontece o ato da penetração. Então, essa sífilis é transmitida quando entramos em contato com as feridas na pele causadas por essa bactéria, é necessário ter contato com essas feridas, né, da pessoa com quem nós vamos, realizar o sexo. A bactéria, ela também pode ser transmitida da mãe para a criança durante a gestação ou durante o parto.

Rafael: Ruth nos contou que a bactéria da sífilis pode ficar durante anos, e até mesmo décadas no corpo de uma pessoa. E o sumiço das feridas no corpo não significa que a doença sumiu.

Ruth Khalili: E aí as pessoas me perguntam, quando eu atendo, dou resultado: “mas se eu não tiver com a ferida, eu não transmito? Eu tô curado?”. Não, não está curado. A infecção existe, está ativa. Então, como é que eu vou saber se estou hoje com sífilis, se não tenho nenhum sintoma de doença? Colhendo sangue e fazendo o teste rápido. Em 30 minutos é possível se ter o diagnóstico da infecção.

Natália: Ruth também nos falou um problema que vem acontecendo no diagnóstico da sífilis. Como a doença fica muitos anos no nosso corpo, existem casos que só são tratados novamente quando aparecem os sintomas. Ou seja, enquanto a sífilis fica em silêncio, a pessoa é dada como curada.

Ruth Khalili: Mas existe um conceito que talvez esteja sendo pouco falado, que é o conceito de falha de tratamento. Como eu vou diferenciar entre um caso novo e uma falha de tratamento? Quando eu estou atendendo um paciente que vem pra mim e não sabe me dar informações sobre o que foi feito no passado, ele acha que tomou benzetacil, que é comum, as pessoas têm dor de garganta e correm tomar benzetacil no posto. Né, às vezes indiretamente tá tratando a infecção, porque é o antibiótico de escolha… Então como eu vou diferenciar entre um caso novo, um caso incidente, que contribui para esses números que estão aí da epidemia – a epidemia é incontestável! Que existe um aumento do número de casos, isso é incontestável! Mas também acontece, e não é pouco frequente… dos profissionais de saúde terem dúvidas quando um exame de sífilis persiste positivo, com o mesmo valor, com o mesmo título, se aquilo é um caso novo ou não. Se aquilo é falha de tratamento, se a pessoa está tratada ou não.

Rafael: A falta de informação é um fator comum quando o assunto é a sífilis. Se na área médica existem problemas, imagina com a população. É o que nos contou a sexóloga Natália Fernandes.

Natalia Fernandes: Eu lido muito com mulheres casadas, elas mesmas falam para mim. “Mas eu não preciso usar preservativo, eu estou com o meu parceiro há vinte anos. A gente contraiu alguma coisa porque ele me traiu”. Não é assim. Eu posso estar com o amor da minha vida, há dez anos com o mesmo homem e contrair uma infecção. Porque é natural, do IDH do homem e da mulher, e isso se transformar numa DST. Curável, claro, que é o caso da sífilis, uma bactéria curável, mas se a gente não ficar atento, ela pode levar à morte. 

Natália: Foi por conta da quantidade de fake news sobre a sífilis, que coletivos se uniram para debater mais sobre a doença. Edy teve contato com um deles, quando resolveu contar a sua história no Facebook.

Edy: Inclusive depois desse post que eu fiz, teve… uma reação muito positiva que teve, é que um amigo que trabalha com IST, prevenção e populações LGBTs, é… conseguiu um curso pra mim em São Paulo, muito bacana, que falava sobre, prevenção de ISTs né, no geral. E aí era um grupo LGBT, e o objetivo desse grupo era informativo mesmo, de tipo, de dar informação pra essas pessoas e ver como que a gente podia fazer enquanto comunidade né, pra lidar com essas questões.

Rafael: Edy também apontou outro ponto interessante que são as campanhas realizadas pelo Governo Federal, e como elas excluem pessoas que podem ter contato com a doença.

Quando a gente pega, por exemplo, propagandas de camisinha, que muito dificilmente se fala sobre a população LGBT né, e que fala sobre HIV e tal, é uma maneira muito de colocar a culpa na pessoa, né, como se você precisa ter culpa, ou seja, você tem que ter medo, sabe, você tem que ter medo de HIV, você tem que ter medo de sífilis e todos os tipos de IST, e a maneira de você se preservar disso é você… ou você não pratica esse sexo, ou você pratica com camisinha né, e se você se descuidar, olha, a culpa é tua, e tem todo esse lance do medo. Eu queria tentar desconstruir esse lance do medo e da culpabilização, porque pra mim sexo é corresponsabilidade, né. E as pessoas as vezes não têm muito essa ideia de corresponsabilidade, de que as duas pessoas estão ali no momento, podem optar por usar camisinha ou não, isso quando é… isso quando é o sexo consentido né, óbvio. 

Natália: E se as críticas existem numa campanha que fala de sexo, o que dizer de uma propaganda que prega a abstinência sexual?

Rafael: Esta foi uma questão levantada pela professora Maria Alix. Se os jovens estão começando a vida sexual cada vez mais cedo, o que surte mais efeito, você falar de preservação ou você tentar proibi-los de transar?

Maria Alix: O Brasil avançou muito na política de prevenção e assistência às pessoas com IST…E nos últimos anos vem trabalhando muito na questão do controle da sífilis congênita, porque essa epidemia se tornou um problema grave de saúde pública. É… esses últimos anos a coisa vem se tornando assim um pouco preocupante, considerando o estilo de campanha, por exemplo, que o governo vem propondo. Campanha de abstinência sexual… a gente sabe que esse tipo de campanha não tem um efeito muito positivo. O que é muito melhor é que as pessoas sejam bem orientadas, tomem decisões responsáveis, saibam da importância do uso do preservativo nas relações sexuais, e dessa forma possam fazer as medidas de prevenção de maneira consciente. A gente acredita que é por aí que deve ser feito o trabalho de prevenção. Dar autonomia às pessoas, responsabilidade às pessoas, pra que elas possam assumir os seus cuidados preventivos.

Natália: Aliás, todos os entrevistados apontaram a falta de informação como um dos principais fatores que fizeram a sífilis se tornar a epidemia que está hoje.

Rafael: E todos os entrevistados também falaram do papel do Governo Federal. Como apontou a sexóloga Natália Fernandes, as campanhas de preservação existem, mas ocorrem só no carnaval. 

Natalia Fernandes: Infelizmente, o nosso governo não ajuda. Foi disponibilizado recentemente em Brasília um conteúdo de educação sexual e logo recolheram, porque os próprios pais recriminaram o Estado por causa disso. Parece que nós, profissionais, queremos ensinar as crianças a transar e não a se cuidar. Mas aí vem o governo e fala disso só para o carnaval. É como se carnaval fosse a época da pegação, vamos transar, ó, cuidado que você pega uma doença no carnaval. E o restante do ano? A gente tem que levantar mais essa bandeira. Nossos canais, com muito artifício, porque a gente não tem o apoio do governo para isso.

Natália: E a campanha deste ano já aconteceu, viu? Com o slogan “Usar camisinha é uma responsa de todos”, o Ministério da Saúde distribuiu mais de 128 milhões de camisinhas masculinas e femininas durante o carnaval. No total, serão 570 milhões de preservativos que o Governo Federal se comprometeu a distribuir até o final do ano.

Rafael: Esta campanha foi pensada para os jovens de 15 a 29 anos, e contou também com um vídeo declamado em poesia slam. Este comercial foi veiculado na tv, no rádio e até na internet. Mas aqui a gente coloca uma questão importante, levantada pela infectologista Ruth Khalili: a campanha existe, mas o que o público entende dela?

Ruth Khalili: A prevenção, né, ela… ela se inicia na informação. Na informação, na repetição da informação, né, então assim, chega em épocas de carnaval, por exemplo, a gente faz as campanhas, vários outdoor em metrô, em ônibus, né, mas assim, o quanto a gente consegue chamar a atenção com as campanhas? O que chamaria mesmo atenção de pessoas em relação à prevenção da sífilis? A linguagem, ela varia de população pra população. Como eu vou abordar uma paciente, uma pessoa transexual? Como eu vou abordar uma mulher que pensa em engravidar? Eu acho que nas estratégias de prevenção nós avançamos muito também, mas talvez elas precisem ser mais sensíveis para grupos específicos. E mais precisas. No carnaval do ano passado, vários metrôs tinham a mensagem, vários locais, “cuidado com a sífilis, use camisinha”. Então assim, acho que talvez falte um retorno da população. Que que ela, como ela enxerga essas mensagens? Ela se sensibiliza? Será que ela entende? Use camisinha. Será que… como que ela entende isso, né?

Natália: A sífilis é uma doença séria e tem dois diagnósticos, a falta de prevenção e a falta de diálogo.

Rafael: Porque a gente precisa falar da doença, mas não só sobre ela. A gente precisa falar sobre sexo, sobre sexualidade. Afinal, as pessoas sentem atração, as pessoas transam, e isso é absolutamente normal.

Natália: Falar de sexo é como falar de novela, livro, cinema, cada um tem as suas preferências. E como sugeriu a sexóloga Natália Fernandes, por que não transformar o sexo numa conversa diária?

Natalia Fernandes: Eu brinco que comunicação é o tesão da relação. (risos) Eu falo isso muito nas minhas palestras. “Gente, comunicação é o tesão da relação!”. Porque um casal que se comunica, que troca figurinhas, estão sempre conversando o que é legal para um, para o outro. Eu gosto que você faz assim, eu gosto que você se cuida assim, eu gosto quando a gente vai no médico assim. Ou, vamos procurar atendimento juntos, vamos marcar um médico juntos. Eu vou com você, você me acompanha. É muito mais interessante. É muito mais gostoso um casal que se cuida. Com certeza vai ter muito menos problemas do que os outros, né?

Rafael: O Oxigênio fica por aqui. O episódio foi apresentado por mim, Rafael Revadam, e pela Natália Flores. A produção as entrevistas deste episódio também são minhas e do Samuel Ribeiro.

Natália: O roteiro é do Rafael Revadam, a coordenação é da professora Simone Pallone, do Labjor, e os trabalhos técnicos de Gustavo Campos e Octávio Augusto, da Rádio Unicamp.  

Rafael: Você pode nos acompanhar nas redes sociais. Estamos no Facebook, (facebook.com/oxigenionoticias – tudo junto e sem acento). E no Instagram e no Twitter também, basta procurar por “Oxigênio Podcast”.

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